Por
Reinaldo Azevedo
A
herança maldita da dupla Luiz Inácio Apedeuta da Silva-Fernando Haddad no
ensino superior não será vencida no curto prazo. Marcará o setor por muitos
anos porque certas armadilhas não serão facilmente desmontadas, especialmente
aquelas que juntam o populismo à incompetência. É evidente que já havia
problemas no ensino superior antes de o PT chegar ao poder. Mas eles se
tornaram mais agudos, e a solução ficou mais distante porque, como sempre, Lula
empenhou também o futuro em suas não-soluções.
A
crise que toma conta das universidades federais, em greve há 60 dias, decorre
não do crescimento da área ou das "dores do parto", no clichê dramático do
ministro Aloizio Mercadante. Decorre do inchaço irresponsável. Era preciso pôr
mais alunos da universidade pública federal? Digamos que sim. Mas forçoso seria
fazê-lo com qualidade, ou haveria o que antevi há alguns anos: a
"supletivização" do ensino universitário, uma espécie, assim, de "Madureza"
(lembram-se dela?) do terceiro grau. Ela está aí.
Dada
a realidade salarial do Brasil, os professores estão longe
de viver uma situação miserável. Cumpre, também, não absolutizar, se
me permitem a palavra, a pauta de reivindicações, mas é evidente que os
problemas que aí estão decorrem na falta de planejamento, da pressa e do
atabalhoamento. Lula e Haddad trabalharam para fazer volume, não para
qualificar o ensino universitário. Se salários e plano de carreira são as
questões mais candentes porque determinam, afinal, se os professores voltam ou
não ao trabalho, não se pode dizer que sejam as mais sérias. Grave mesmo é a
falta de infraestrutura de boa parte das universidades federais. Os hospitais
universitários, com uma exceção ou outra, são verdadeiros pardieiros. Não
satisfazem as necessidades nem dos pacientes nem dos alunos. Numa universidade,
há esgoto a céu aberto; na outra, faltam luz e água; uma terceira fica num
descampado - o asfalto não chega até os muros da instituição. Em boa parte
delas, faltam prédios para abrigar os cursos. O país passará os próximos anos
tentando suprir essas lacunas. Lula "criou" as suas universidades para que
outros não pudessem criar mais nenhuma.
O
voluntarismo populista é parceiro da irresponsabilidade. Em passeio ontem pela
Zona Leste de São Paulo, Fernando Haddad, este incrível falastrão, ao responder
a uma moradora que reclamou das supostas dificuldades de ingressar no ensino
superior por intermédio do ProUni, afirmou que só não há uma universidade
federal na região porque a Prefeitura teria criado dificuldades. Atenção! É
MENTIRA, MAS PODERIA SER VERDADE, ENTENDERAM? Este senhor jamais conseguiria
explicar, e isso não lhe é perguntado, por que, em vez de melhorar as condições
lastimáveis do campus da Unifesp de Guarulhos, ele criaria um novo na Zona
Leste. Ou por outra: Haddad acha que não espalhou subuniversidades federais o
suficiente. Esse sujeito é uma piada!
No
dia 4 de maio, pouco antes de ter início a greve nas federais - e lembro que,
no ano passado, elas ficaram paradas mais de quatro meses -, o Apedeuta recebeu
títulos de Doutor Honoris Causa às baciadas. Foram conferidos em conjunto pelas
instituições públicas localizadas no estado do Rio: Uerj (Universidade Estadual
do Rio de Janeiro), Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro),
UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), UFF (Universidade Federal
Fluminense) e UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro).
No
discurso, como apontei aqui,
esmerou-se na mentira. Afirmou ter chegado ao poder com 6 milhões de
universitários no país. Já seriam, disse, 12 milhões. Os números reais, segundo
o Censo Universitário feito pelo MEC, sob o comando de Fernando Haddad, que
estava presente, são estes: havia, em 2001, 3 milhões de estudantes
matriculados nas universidades do país; no fim de 2010, eram 6,37 milhões -
quase a metade do que Lula alardeou. Atenção! 14,7% desse total (quase um
milhão de alunos) estão matriculados na modalidade "ensino à distância". Com
raras exceções, esse troço virou um caça-níqueis ainda mais vantajoso do que
instituições de ensino meia-bomba que vendem suas vagas para o ProUni. Não
passa de picaretagem! Mas sigamos. A meta do Plano Nacional de Educação, estabelecida
em 2000, era chegar a 2010 com 33% dos jovens de 18 a 24 anos na universidade.
Segundo o Censo, o governo do Apedeuta ficou bem longe disso: apenas 17,4%.
Como? Petistas não acreditam em mim? Faz sentido. Então acreditem nos números
postos no portal do MEC, com foto de Fernando Haddad e tudo (aqui).
Ou
por outra: o governo não cumpriu a meta, e a expansão ocorreu à matroca. O
crescimento se deu em boa parte do ensino público privado de baixa qualidade. O
espírito que animou a ação, na hipótese de ter havido um, foi este: "Vamos lá,
vamos crescer, vamos fazer volume; da quantidade se fará a qualidade!" Fez-se?
Não! O mal que assola os ensinos fundamento e médio chegou de forma
avassaladora ao ensino universitário. Entre os estudantes do ensino superior,
38% não dominam habilidades básicas de leitura e escrita, segundo o Indicador
de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado pelo Instituto Paulo Montenegro
(IPM) e pela ONG Ação Educativa. Vejam quadro:
Em
2001/2002, 2% dos alunos universitários tinham apenas rudimentos de escrita e
leitura. Em 2010, essa porcentagem havia saltado para 4%. Vale dizer: 254.800
estudantes de terceiro grau no país são quase analfabetos. Espantoso? Em
2001/2002, 24% não eram plenamente alfabetizados. Um número já escandaloso. Em
2010, pularam para 38%. Isso quer dizer que 2.420.600 estudantes do terceiro grau
não conseguem ler direito um texto e se expressar com clareza. É o que se
espera de um aluno ao concluir o… ensino fundamental!
E
agora?
Cabe a este governo (não está fazendo isso também!) e aos próximos corrigir a herança maldita de Lula. Não dá para saber o volume de recursos necessários para dotar as federais da infraestrutura adequada. A relação do poder público com instituições privadas tem de mudar, mas se trata de uma operação delicada porque o Estado brasileiro, por intermédio do ProUni, se transformou num comprador e repassador de vagas se cursos de baixa performance, levados adiante apenas na base da saliva. A demanda é grande e passou a se confundir com um dos "direitos básicos" da população. E agora?
Cabe a este governo (não está fazendo isso também!) e aos próximos corrigir a herança maldita de Lula. Não dá para saber o volume de recursos necessários para dotar as federais da infraestrutura adequada. A relação do poder público com instituições privadas tem de mudar, mas se trata de uma operação delicada porque o Estado brasileiro, por intermédio do ProUni, se transformou num comprador e repassador de vagas se cursos de baixa performance, levados adiante apenas na base da saliva. A demanda é grande e passou a se confundir com um dos "direitos básicos" da população. E agora?
Entendam:
os outros terão de corrigir as irresponsabilidades da dupla Lula-Haddad. O
Apedeuta correu para o abraço, alardeando seus números milagrosos. Os outros
que se encarreguem agora de tornar realidade as suas fantasias: custa caro e
rende mais desgaste do que votos. Lula sempre preferiu os votos ao desgaste…
Durante
oito anos, bem poucos se atreveram - modestamente, estive entre os poucos - a
perguntar em que condições se dava a expansão do ensino universitário. Ao
contrário até: alguns colunistas se esmeravam, e se esmeram ainda, em anunciar
a grande revolução feita pela dupla Lula-Haddad. Eis o milagre da multiplicação
de analfabetos de terceiro grau. Lula e a universidade, em suma, é a metáfora
do cruzamento malsucedido de uma vaca com um jumento. O híbrido nem puxa
carroça nem dá leite.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
Um comentário:
E com isto, quem perde sempre é o povo mais pobre, porque o rico sempre dá seu jeito, pagando cursos particulares aos filhos e até os mandando estudar fora do país. Mas muitos do povão não alcançam essa realidade e continuam dando votos e popularidade aos mesmos mentirosos que os massacram a quase dez anos, infelizmente.
Ótimo artigo de Reinaldo Azevedo.
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