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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

"2009: Ano da perplexidade"

Artigo de Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa, no "Blog do Noblat":
O ministro Gilmar Mendes, pelo seu modo lento de falar, sempre dá a impressão de alguém que está pesando cada sílaba que vai dizer. E ontem, na TV, ele disse a respeito do desfecho do julgamento do caso Batttisti que o resultado provocou uma “certa perplexidade jurídica”. Tudo isso dito com o ar solene e a voz compassada de sempre. No entanto, em meus ouvidos, soou como “Bingo! É isso! Exatamente isso. Perplexidade!”.
Perplexidade em todas as áreas, perplexidade em todos os momentos da vida de um cidadão brasileiro. É isso que vai marcar este ano que está para terminar. Perplexidade. Aproveito o Dia da Consciência Negra, outra criação lulista que me deixa inteiramente perplexa, já que não temos um Dia da Consciência Branca, ou Mestiça, ou Verde, para declarar minha intensa perplexidade com o Brasil 2009.
Perplexidade é uma palavra delicada e leve para definir a quizumba que o STF provocou: julgaram o caso Battisti e não se pode dizer que foi de afogadilho. Demorou um bom tempinho: além do regulamentar, que já é lento, houve os pedidos de vista. Enfim se reuniram para fechar questão. E o que decidiram? Que os crimes do senhor Battisti eram crimes comuns pois quando ele pegou em armas para matar em nome de seu partido, a Itália vivia em clima de perfeita paz, democraticamente, com tribunais e leis funcionando plenamente.
Baseados nessa assertiva, a maioria dos juízes votou pela extradição do italiano. Mas eis que surge uma dúvida: o STF é soberano para julgar, ou ele só passa os olhos mas quem julga é o presidente da República? Quase ninguém acreditou na solução encontrada pela maioria do STF: nossa Suprema Corte não tem, como sempre teve, a palavra final. O Juiz Supremo é o presidente da República. Talvez perplexidade seja palavra que não defina bem o sentimento que passou por minha alma ao ouvir o resultado, mas vá lá, vou ser tão elegante quando o ministro. Fiquei perplexa! Assim como a leitora deste blog, Marya: “O STF vai ser julgado por não julgar”.
A confusão e a surpresa não cessaram com o correr das horas porque o ministro da Justiça, não contente em ver dilatado o prazo de estadia de Cesare Battisti entre nós, ainda deu declarações absolutamente despropositadas, ofensivas, de embatucar qualquer um. O suposto candidato ao governo do Rio Grande do Sul declarou que a Itália, país com quem mantemos relações tão próximas que a primeira dama Marisa Letícia pediu, e obteve, cidadania italiana para ela e seus filhos, pois bem, disse Tarso Genro em alto e bom som: "A Itália não é um país nazista nem fascista, mas vem sendo constatado um crescimento preocupante do fascismo em parte da população italiana. O fascismo vem ganhando força inclusive em setores do governo". E ainda acrescentou, falando em nome de seu chefe, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem pressa em anunciar sua decisão, decisão que Genro chama de solitária e soberana.
Mas minha perplexidade não ficou menos intensa ao vir ler os posts e os comentários aqui no Blog do Noblat. Ao contrário, fui ficando cada vez mais atônita. O espírito que move quem lê um blog não é, como era de se esperar, o espírito de alguém que quer se informar e debater os assuntos publicados no blog. Não! É o espírito da guerra, nós contra eles, eles contra nós. É impressionante. Eu me pergunto se as pessoas lêem o que escreveram ontem e se levam em conta que na Internet tudo que se escreve fica gravado, se não para sempre, pelo menos por muitos e muitos anos.
Mal comecei a ler e dei de cara com uma das melhores frases do Hugo a Go_Go:“Os monarquistas estão em festa. O STF recriou ontem o Poder Moderador". É inteligente, é espirituosa, é crítica bem feita e, como sempre que vem do Hagg, elegante. Mas não é que um petista desvairado, que nunca esteve com o autor da frase, que não sabe quem ele é, onde mora, qual seu nome, o que faz na vida, que escolaridade tem, esse militante escreveu no post onde o Noblat colocou a frase do Hagg como frase do dia, o seguinte comentário: “Como frase de efeito é boa, mas o cabra não tem a menor idéia do foi o Poder Moderador”. Fantástico, não é?
Não pensem que parou por aí. Olhem este que maravilha: “Noblat a dor pela derrota do GM ainda incomoda, ate o Hugo vc acionou para poder defender a causa reaça!”(sic). Esse garante que o Noblat acionou o Hagg (como será que isso foi feito, por uma campainha ou um cordãozinho?) e ainda por cima afirma que o presidente do STF foi derrotado!
Outro ainda confessa seu total desconhecimento do assunto ao perguntar: “Uma pergunta, porque a Italia não extraditou o Cacciola??” (sic).
Não são sensacionais? São. E só aumentam nossa perplexidade. Que não minora nem com dois comentários da maior sensatez, que também os há: “Algum Petista por favor me DIGA: Por que a esquerda do Brasil quer Battisti????”. E eu, perplexa, me associo a ele: o que motiva a esquerda brasileira, e o PT, que não é de esquerda nem aqui nem na China, a não abrirem mão da presença do Battisti no Brasil? Só peço pelo amor de Deus que não me venham com o papo furado dos direitos humanitários, não depois do que fizeram com os cubanos!
Ou do que permitem que se faça diariamente com nossos idosos e crianças, nascidos aqui e que sofrem toda sorte de mazelas, sem segurança, sem hospitais, sem esgoto sanitário, sem escolas, sem futuro.A perplexidade não tem fim.

3 comentários:

Unknown disse...

Maria Helena está coberta de razão. Em tudo. Quando me lembro do aparte do senador Suplicy a Demóstenes Tôrres, ontem, como se fôsse chorar, falando do veredicto do STF e da pressão dos senadores de oposição, prá que Lula cumprisse a sentença, foi algo prá se pensar. Não consigo alcançar que amizade é esta!

Anônimo disse...

De Cristóvam Aguiar em seu "Sempre Livre":
Eu acho uma frescura esse negócio de consciência negra, branca, amarela, vermelha ou azul. Consciência já o é, por si mesma. Quem tem, tem. Quem não tem, não tem. Vamos parar com o preconceito e a hipocrisia.

Anônimo disse...

Dia da Mulher e Dia da Consciência Negra, aumenta ainda mais a discriminação, não precisa de nada disto, o respeito existe quando se tem respeito, se não tem não terá por força de um dia marcado no calendario e até feriado parando a produção do pais.