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No Domingo de Páscoa

No Domingo de Páscoa

terça-feira, 24 de novembro de 2009

"Não me leu e não gostou"

De Edmundo Carôso no blog "De Mim e das Coisas":
Era uma noite de pompa e circunstâncias. Eu estava lá, de caneta na mão, sentado numa imponente mesa de jacarandá, com a cara de panqueca que costuma ficar todo autor em noite de lançamento. Por um erro de cálculo meu (já que os organizadores me consultaram sobre tudo e me apoiaram no possível e o impossível) eu me encontrava sozinho, num salão vazio, cuja temperatura se equiparava às proximidades do deserto do Saara, enquanto os convidados se apinhavam no frescor da varanda adjacente em um saboroso disse-me-disse regado a vinho e salgadinhos variados.
Tantas pessoas amadas ali tão perto e eu, com a bunda pregada na cadeira pelo super bonder de minha burrice e pela implicância do feeling de um amigo com bastante ascendência sobre mim que não me deixava levantar, em nome do bom andamento do cerimonial da noite. “O autor fica aí”, dizia ele. E mesmo com Selma Soares, diretora do Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca) da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), que me proporcionava o evento, indo inúmeras vezes até a mim para ratificar que eu deveria circular lá fora fiquei, feito um jegue empacado, sem arredar o pé daquela situação. Minha burrice e esse amigo costumam acertar com frequência, mas não foi o caso aquela noite. Nos bastidores dessa ilógica equação outro amigo fraterno ajudava como podia na administração das pequenas questões práticas que demandavam as minhas decisões. Nem tudo estava perfeito, mas eu estava feliz dentre os meus.
Foi aí que ele se aproximou com tapinhas no ombro, me tratando com uma intimidade que nem de longe o fato de que eu nunca o tinha visto mais gordo - nem nesse nem em nenhum dos outros planetas onde minha vertiginosa mente costuma passear - justificava.
- E aí Carôso, falei com Fulana que ela tinha de lhe convidar para o júri do festival. Eu vou estar lá também.
Eu passei dias tentando localizá-la sem êxito.
- Pois é, queria que ela hoje estivesse aqui, mas não consegui encontrá-la – respondi incomodado com aquela aproximação sem pé nem cabeça. Por falar nisso, na cabeça dele um vistoso chapéu acenava para mim. E mala com chapéu é um desastre mundial, acreditem.
Conversou, conversou, conversou, e quando os meus testículos já estavam pra explodir, incomodados com tantos puxões de saco e profusão de saliva, ele, finalmente, tomou simancol e foi pentelhar em outras áreas. Deus é grande. Tarda, mas não falha.
Passados uns dias um grande amigo me liga.
- Fulano estava lá fora, comendo e bebendo e falando pra todo mundo: “Não como nada dessa história de Edmundo vir pra cá com esses poemas de dois e três versos dizendo que está lançando poesia”.
Se ainda fosse Iderval Miranda menos mal, pois escreveu Fany C. Tem o direito de não me ler e de não gostar. Tem o direito até de não gostar de mim, como acontece e alardeia – e isso nunca foi impedimento pra que eu o admirasse e chegasse mesmo a dedicar um livro a ele. Mas um mala de chapéu, daqueles de dar chulé em pé de mesa. Me poupe!

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