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segunda-feira, 16 de julho de 2007

Bois, bezerras e senadores milionários

Texto de Ugo Braga - Da equipe do "Correio Braziliense":

"Boi, boi, boi, boi da cara preta, pega os senadores que encheram a maleta". Líder do PSol, o deputado Chico Alencar (RJ) começa a percorrer o país com esta cantilena, impressa num folheto que escreveu e que anda distribuindo a quem vê pela frente, como parte de uma campanha contra a corrupção.
A "obra" chama-se "Fazenda Brasil" e tem por subtítulo "Uma Fábula Sobre os Que Juntam Fabulosa Riqueza Pecuniária Com Pecuária". Mas, por se tratar de referência explícita aos dois últimos grandes escândalos do Senado, bem poderia ser "Uma gozação sobre as desculpas esfarrapadas dos políticos fazendeiros e suas vacas milagrosas".
O texto de Chico Alencar é ácido e provocativo. Começa assim: "É vida de gado. Enquanto você estava pensando na morte da bezerra, donos de enormes currais eleitorais aumentavam seu pecúlio com aberrantes negócios pecuários". E seguem-se quatro parágrafos de deslavada paródia política.
Para escrevê-la, o deputado colheu palavras e expressões populares brasileiras. Costurou-as como se faz com os retalhos de tecido que, unidos à linha e agulha, formam tapetes e colchas no interior. "Não fique chorando o leite derramado", aconselha. "Vamos dar nome aos bois: não é vaca Estrela e boi Fubá, é Roriz, o boi piranha, é Renan, Quintanilha, Gim, Jucá". E segue: "Algumas Excelências estão mais enroladas que novilha atolada até o chifre, mas quem não se sente como rês desgarrada nessa multidão-boiada caminhando a esmo", provoca, servindo-se, no último verso, da frase antológica de "Lamento Sertanejo", música de Dominguinhos e Gilberto
Gil.
O folheto escrito por Alencar é apenas uma das peças da campanha do PSol pela ética na política. Junto a ele, o partido colhe assinaturas pelo país inteiro para um manifesto contra a corrupção e já preparou novas representações para apresentar ao Conselho de Ética na Câmara. Os processos miram nos deputados Olavo Calheiros (PMDB-AL) - irmão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB) -, João Magalhães (PMDB-MG) e Maurício Quintella Lessa (PR-AL). Todos envolvidos com denúncias de fraudes em licitações e desvio de dinheiro público pela Operação Navalha, da Polícia Federal. O PSol pedirá a cassação do mandato dos três no dia 1º de agosto.

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