Por Adilson Simas
O filme mais importante de Olney São Paulo é "Manhã Cinzenta", média-metragem que o cineasta realizou em 1969. Mas, quem
conhece esse filme? Em Feira de Santana, pouca
gente. O jornalista Dimas Oliveira assistiu ao filme porque conseguiu um
projetor de 16mm para que Olney mostrasse a cópia que tinha em mãos, projetada
em sessão secreta numa parede de casa de familiares. "A exibição
clandestina não o satisfazia", conta Dimas, completando que Olney morreu
tentando uma revisão da Censura.
Com "Manhã Cinzenta",
Olney São Paulo garantiu um lugar na História. Ele é o único cineasta
brasileiro a ser preso, torturado e processado pelo "crime" de ter
feito esse filme. Ele registrou nas ruas um momento histórico: a crise
estudantil de maio de 1968 e a atuação da repressão. Uma cópia do filme foi
parar nas mãos de um dos seqüestradores do Caravelle desviado para Cuba, em
1969, e Olney foi preso porque a fita teria sido exibida aos passageiros como
prova dos desmandos da ditadura.
Após o parecer em que o
filme foi considerado como "altamente subversivo", por "incitar o
povo contra o regime vigente", Olney viu-se enquadrado na Lei de Segurança
Nacional e processado. Corria o ano de 1971. O filme foi censurado e o autor
ficou com o rótulo de maldito, ganhando aposentadoria compulsória no Banco do
Brasil, onde tinha um emprego conseguido por concurso - ele começou a trabalhar
na agência de Feira de Santana e depois foi transferido para o Rio de Janeiro.
A partir do AI-5, outorgado em 13 de dezembro de
1968, a Censura não tinha preocupação em justificar os atos de proibição e
cortes dos filmes. Com a prisão, Olney sofreu danos em sua saúde - ele morreu
aos 41 anos e a família sustenta que sua saúde frágil foi abalada por
maus-tratos na prisão. Também é registrado o completo desaparecimento dos
negativos de "Manhã Cinzenta", nas dependências da Censura. Depois de
vetado, o filme nunca mais foi encontrado. Praticamente sumiu da memória cinematográfica
nacional, um prejuízo artístico e econômico. Sua última exibição conhecida foi
na mostra "Cinema Calado - Filmes Censurados", realizada em 3 de março de 2001,
na Cinematec a Brasileira, em São Paulo.
* Adilson Simas é jornalista mantém o Blog Por Simas
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