É quase redundante dizer que o garimpo é um caminho de pedras. A definição é poética, lírica, mas também trágica. Nos escombros da terra, esconde-se a riqueza das pedras preciosas, sonho de muitos e realidade de poucos. A Mineração Mecanizada, com seu trato técnico, restrito aos altos cargos de corporações autorizadas a explorar a riqueza nas profundezas das serras, mescla-se com o labor de mãos simples, carentes do tesouro da dignidade, ali mesmo, na superfície, nas redondezas exploradas. Para quem, estão reservadas apenas as pedras cortantes dos rios poluídos pelos resíduos do garimpo. Quem será por essa gente que diz como o eu lírico da canção de Dominguinhos e Gil "Minha garganta pede um pouco d'água / E o meus olhos pedem teu olhar"? Para Conceição Carvalho, é Betina, nome associado à promessa de Deus. Ela tem olhos e copos (coloridos), cheios de ternura para sua gente. A saga da personagem é também por caminhos de pedras, as preciosas das serras de Jacobina, e as do amor e da vida. Se mistura à do povo. Embora a gemologia não tenha catalogado nenhuma pedra preciosa por nome Betina, este romance nos leva a crer nessa possibilidade. Uma preciosidade extraída da serra de Jacobina, descoberta e amada pelo engenheiro Matthew, mas brilhante, colorida, transmitindo o lirismo e o trágico que envolvem sua busca e apuração. "Um caminho de vidros". Que vai da delicadeza de sua matéria, das formas que ganha, como copos, à espera de conteúdos saborosos que os colorirão, com os quais se brindará o presente e o futuro, ao risco de quebrar-se, e com ele toda uma história de vida. Como as pedras e/ou copos de vidros coloridos, esse romance, essa Betina, tem os requintes da riqueza e da delicadeza da vida real. Sorri feito Ada Marix na Princesa do Sertão, a encantar, amadrinhando clientes/ leitores diversos.
Romildo Alves é mestre em estudos literários/ Uefs e escritor cordelista


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