Em 11 de outubro de 2022, há exatos dois anos, o jornalista José Carlos Teixeira, falecido na quinta-feira, 10, publicou no site https://www.olabahia.com.br./ e este Blog Demais replicou a nota que se segue. A situação continua a mesma, com a Biblioteca fechada e sem explicação do governo municipal.
Livros não mudam o mundo
quem muda o mundo são as pessoas.
Os livros só mudam as pessoas."
(Mário Quintana)
Por José Carlos Teixeira
No mundo criado por Ray Bradbury em Fahrenheit 451, um clássico da literatura de ficção científica, as pessoas vivem em função das telas. Mais ou menos como está sendo agora - dê uma olhada em volta, meu caro leitor, de certeza verá alguém com os olhos fixos na telinha do smartphone.
Nessa sociedade distópica, livros são proibidos e seus portadores tidos como perigosos criminosos. O personagem principal é um bombeiro, mas sua missão não é combater o fogo. Pelo contrário, sua incumbência é atear fogo… em livros.
Acho que li Fahrenheit 451 (o título é uma referência à temperatura em que o papel pega fogo e queima) ainda adolescente, na Biblioteca Municipal de Feira de Santana. Na verdade, não tenho certeza. Mas é certo que foi lá que li duas outras obras distópicas, igualmente importantes: 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. E também os clássicos da literatura brasileira: Graciliano, Zé Lins, Rosa, Jorge, Rachel, Euclides, Veríssimo, Machado, Adonias e tantos outros.
Passava tardes na sala de leitura e costumeiramente ainda levava alguns volumes emprestados, para ler em casa. Era um devorador de livros. Um rato de biblioteca, como se dizia na época. Devo muito a tudo isso. Pessoal e profissionalmente.
Daí minha tristeza - e minha indignação! - ao saber que a biblioteca feirense foi fechada em janeiro de 2020 para reforma das instalações e assim continua até hoje, sem que um único tijolo tenha sido assentado ou uma mão de tinta nas paredes tenha sido aplicada. Cercado por tapumes, abandonado, o prédio inaugurado em abril de 1963 tem sido vítima da ação de vândalos.
Pouco antes da interdição do prédio, estive lá. Queria pesquisar no arquivo de periódicos. Soube que não mais existia. Um funcionário me contou, segredando, que tudo foi descartado. Não, amável leitora, não recorreram aos lança-chamas, como em Fahrenheit 451. Como não havia mais espaço para guardá-las, as coleções de jornais foram vendidas como papel velho. Foi o que ouvi.
O abandono das bibliotecas públicas, porém, não é um caso isolado. Feira de Santana não está só nesse particular. Entre 2015 e 2020, o Brasil perdeu pelo menos 764 bibliotecas, de acordo com o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), vinculado à Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo.
A base de dados do SNBP registrava, em 2015, a existência de 6.057 bibliotecas públicas no Brasil. Os últimos dados disponíveis, referentes a 2020, mostram que esse número caiu para 5.293. Tal queda é uma reversão da tendência registrada em anos anteriores, já que de 2004 a 2011 o movimento foi inverso: foram criadas 1.705 bibliotecas públicas no país e outras 682 foram modernizadas.
O descaso do poder público - ao qual, lastimavelmente, a Prefeitura de Feira de Santana parece ter aderido - com esse tipo de equipamento cultural representa uma perda enorme para a população mais vulnerável, que não tem acesso a livrarias e muito menos renda para comprar livros.
No próximo dia 28, comemora-se o Dia Nacional do Livro. Feira de Santana, no entanto, quase nada terá a comemorar. Mas será uma boa data para apresentar ao excelentíssimo senhor prefeito e ao ilustre secretário da Cultura alguns versos do poema O Livro e a América, de Castro Alves. Quem sabe isso os conscientize da importância do livro e os leve a reconsiderar a situação e concluir a reforma da biblioteca o mais urgente, devolvendo-a aos leitores:
"Oh! Bendito o que semeia
Livros… livros à mão cheia…
E manda o povo pensar!"
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