Lula enfrenta a
espada da justiça e FHC se manifesta sinceramente penalizado.
Por Percival
Puggina
"O que ele (Lula) diz não vou
contestar. Não cabe a mim ficar fazendo comentário sobre o que ele disse ou
deixou de dizer. É o momento de ele estar desabafando. Sempre é de se lamentar
que uma pessoa com a trajetória do presidente Lula tenha chegado a esse momento
de tanta dificuldade".
Não serve para coisa alguma essa
declaração de FHC, mas preserva os vínculos que, em 1993, de modo unívoco o
uniram a Lula. O inverso, porém, jamais ganhou nitidez. O encontro dos dois
líderes políticos brasileiros ficou conhecido como Pacto de Princeton e
pretendeu traçar o intercâmbio de dois projetos internacionais de esquerda - o
Diálogo Interamericano e o Foro de São Paulo.
Acontece que a história, no ano
seguinte, acabou colocando FHC no caminho de Lula. E quando, em qualquer
confronto político com petistas, se configura essa situação, começa uma guerra
sempre assimétrica. No caso das relações entre FHC e Lula, salvo a exceção que
apontarei adiante, tal guerra foi claramente unilateral. Lula atacava e FHC
sequer se defendia. Lula rosnava e FHC sorria. Petistas fizeram dos tucanos
seus adversários preferidos e o inverso nunca foi muito verdadeiro. Se
examinarmos bem o ocorrido durante os mandatos de ambos, veremos que FHC, com
Lula na oposição, prestava enorme atenção ao que o PT dizia. Quando a situação
se inverteu, viu-se que Lula, diferentemente, se lixava para o próprio partido
e para FHC. No caráter unívoco da relação entre ambos percebo esta solitária
exceção: em seu primeiro mandato, Lula preservou e até ampliou por algum tempo
as principais diretrizes econômicas e sociais do programa tucano.
FHC sempre via Lula e o petismo como
subprodutos de seu próprio projeto para o Brasil e para o continente. Há
diferenças, por certo, entre ambos. E a maior delas é de natureza psicológica.
Lula gostaria de ter sido FHC e este gostaria de ter sido Lula. Aquele nutre
indisfarçável sentimento de inferioridade em relação ao tucano. Este se
constrange com a própria superioridade intelectual e gostaria de ter sido um
líder popular. FHC trocaria tudo pela capacidade agitar as massas num comício
de operários do ABC.
Não se surpreenda então, leitor. As
relações entre FHC e Lula produziriam excelente conteúdo para um drama recheado
de conflitos shakespearianos. Ou para análise de caso num doutorado em
psicologia. Por essas diferenças essenciais entre as duas personalidades os
tucanos perderam quatro eleições consecutivas para o PT. E FHC jamais se
empenhou por seu partido nem deixou de lado, a cada derrota, o sorriso e a
bonomia. Agora, Dilma caiu e ele quase emprestou solidariedade. Lula enfrenta a
espada da justiça e FHC se manifesta sinceramente penalizado. Se Lula sair da
cena política, FHC se sentirá viúvo pela segunda vez.
http://puggina.orgFonte: "Mídia Sem Máscara"
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