Por Reinaldo Azevedo
Quinze anos depois de eu
ter criado a palavra "petralha" para designar as práticas dos petistas em Santo
André, lá se vão eles. Morrem com retrato e com bilhete, mas sem luar, sem
violão. Sei muito bem o peso de enfrentá-los ao longo dos anos. Hoje é fácil.
Felizmente, os grupos de oposição ao petralhismo se multiplicaram. E ninguém
corre o risco de morrer de solidão por enfrentar a turma. Alguns o fazem até
por oportunismo. Outros ainda porque farejam uma oportunidade de negócios. O
tempo que depure as sinceridades, as vocações, as convicções. Não serei eu o
juiz.
Sinto-me
intelectualmente recompensado. A razão é simples. Desses 15 anos de combate, 10
estão no arquivo deste blog, vejam aí. Houve até um tempo em que um blogueiro
petista sugeriu à grande imprensa que tentasse investigar quem eram e como
viviam os leitores desta página. Afinal, integrávamos o grupo, dizia ele, dos
apenas 6% que achavam o governo Lula ruim ou péssimo. E é claro que os
companheiros tentaram transformar a repulsa ideológica ao partido num crime.
A recompensa intelectual
não se confunde, nesse caso, com vaidade. A minha satisfação não decorre de ter
antevisto a queda dos brutos. Isso seria fácil. Em algum momento, claro!, eles
cairiam, ainda que fosse pelas urnas. O meu conforto deriva do fato de que,
então, eu não via fantasmas quando apontava a máquina formidável de assalto ao
estado que se havia criado. Ela se destinava não só a enriquecer alguns
canalhas como a assaltar as instituições.
Ah, quantas vezes tive
de ouvir que eu exagerava! Ah, quantas vezes tive de ouvir que a palavra "petralha" designava, na verdade, um preconceito! Ah, quantas vezes tive de
ouvir que eu criminalizava no PT o que considerava normal e corriqueiro nos
outros partidos! Ah, quantas vezes tive de ouvir que eu estava a serviço do
tucanato! Essa última acusação, diga-se, em tempos mais recentes, também ganhou
as hostes da extrema direita caquética, que precisava que o PT fosse um monstro
invencível para que sua ladainha impotente e escatológica continuasse a se
alimentar da paranoia dos tolos.
E, no entanto, as coisas
estão aí. Os petralhas foram derrotados por sua alma… petralha! Porque a
maioria dos brasileiros pôde, afinal, enxergá-los como eles de fato são.
Não! A palavra "petralha" nunca designou apenas uma caricatura a serviço do embate ideológico.
Os petistas adorariam que assim fosse. A máquina de propaganda esquerdista
tentou até criar o contraponto à direita, que seriam os "coxinhas". Mas foram
malsucedidos no intento. Porque, afinal, de um coxinha, pode-se dizer o diabo.
Mas uma coisa é certa: coxinha, em nenhuma de suas acepções, virou sinônimo de
ladrão. Marilena Chaui, aquela, pode achar um coxinha reacionário,
preconceituoso, abominável… Mas não tenho a menor dúvida de que ela confiaria
sua carteira a um coxinha e jamais a deixaria à mercê de um de seus pupilos
petralhas.
José Eduardo Cardozo e
os demais petistas se zangam quando se diz que Dilma caiu pelo "conjunto da
obra". No seu entendimento perturbado do mundo, entendem que se está admitindo que
ela não cometeu crime de responsabilidade. Trata-se, obviamente, de uma
mentira. Sim, o crime foi cometido, mas é fato que ele não teria sido condição
suficiente, embora necessária, para a deposição. Foi, sim, o jeito petralha de
governar que derrubou a governanta, aliado a uma brutal crise econômica,
derivada, diga-se, desse mesmo petralhismo: não fosse a determinação de jamais
largar o osso, a então mandatária teria tomado medidas para evitar o abismo.
Ocorre que ela não devia satisfações ao Brasil, mas ao projeto de poder,
tornado realização, que havia se assenhoreado do estado e que vivia de
assaltá-lo.
A resistência venceu. Ao
longo dos anos de contínua depredação da verdade e da lógica, soubemos manter
as nossas instituições e reagimos com a devida presteza todas as vezes em que
eles tentaram mudar os códigos do regime democrático. Não estão mortos. Não
estão acabados. Estão severamente avariados, e cumpre aos defensores da
democracia que sua obra seja sempre lembrada como um sinal de advertência. Até
porque, a exemplo de todas as tentações totalitárias, também a petista tem seus
ditos intelectuais, seus pensadores, seus… cineastas. As candidatas a Leni
Riefenstahl do petismo, sem o mesmo talento maldito da original, não
conseguiram fazer a epopeia do triunfo; então se preparam agora para fazer o
réquiem, na esperança de que o ressentimento venha a alimentar o renascimento.
Vem muita coisa por aí.
Não completamos nem o primeiro passo da necessária despetização do estado. O
trabalho será longo, vai durar muitos anos. Não temos como banir os petralhas
da política, mas é um dever civilizacional combater suas ideias, enfrentá-los,
resistir a suas investidas - e pouco importa o nome que tenham.
Publiquei "O País dos
Petralhas I".
Publiquei "O País dos
Petralhas II".
Anuncio aqui, para
breve, fechando o ciclo, o livro "Petralhas Go".
Acabou.
Eles perderam. A
democracia venceu.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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