2. Ilustração de Juraci Dórea do Cine Santana, no livro "O Lobisomem de Feira de Santana" de Fernando Ramos, lançado em 2002
Sou uma das cinqüenta mãos que
escreveram para o livro "Feira de Sant'Anna: Histórias e Estórias dos
Séculos XIX e XX", que o Instituto Histórico e Geográfico de Feira de
Santana (IHGFS) lançou na noite desta
quinta-feira, 26, no Museu Parque do Saber Dival da Silva Pitombo.
Escrevi o artigo Lembrança do Cine-Teatro Santana
outrora com bandidos roubando a minha coleção de selos
e com certa lourinha mordendo-me a ponta do nariz!"
Há
96 anos, em 24 de maio de 1919, a inauguração do Cine-Teatro Santana, a
partir da fusão do Cinema da Vitória e o Teatro Santana, que existiam
no século XIX. O espaço passou a ser utilizando tanto para as exibições
de filmes, quanto para os espetáculos teatrais, musicais e literários. Era situado na antiga rua Direita, atual rua Conselheiro Franco, em área pertencente à Santa Casa de Misericórdia. O espaço era considerado um instrumento de difusão dos ideais de civilidade e modernização.
Quando
cheguei a Feira de Santana, no início dos anos 50, a sala não mais
existia. Assim, nunca assisti a um filme no local. Ainda criança e
adolescente sempre passava em frente da fachada preservada do prédio.
Depois, foi derrubado para servir de estacionamento.
O
que sei sobre o Cine-Teatro Santana foi contado pelo meu pai, Carlos
Simões de Oliveira, habituê do espaço, de quem herdei o gosto pelo
cinema. Eliziário Santana, seu confrade no charadismo, então era o
proprietário do Cinema Santana.
Também sei através do historiador Antonio Moreira Ferreira, Antonio do Lajedinho, que conta sobre o Cinema:
"(...)
Tendo na frente uma porta larga que servia de entrada para a sala
deespera, mais duas portas de frente, para saída, e duas bilheterias
entre as portas. Ainda na frente existiam três janelas na parte alta, no
mezanino, que, com advento
do cinema, foram fechadas as laterais e transformadas em seteiras. A
central onde foi instalada máquina de projeção. (...) A parte interna
era mobiliada com cadeiras, tendo uma divisão na parte próxima do
palco."
Quanto
às exibições de filmes e séries, foram apresentados aqueles que tinham a
participação de atores renomados no período, como Buck Jones, Buster
Keaton, Charles Chaplin, Douglas Fairbanks Jr., Rodolfo Valentino, Tom
Mix, entre outros. Filmes como "Tarzan, O Homem Macaco" (Tarzan of the
Apes), de Scott Sidney, 1919, com Elmo Lincoln; "O Garoto" (The Kid), de
e com Charles Chaplin, 1921; "O Filho do Sheik" (The Son of the Sheik),
de George Fitzmaurice, 1926, com Rodolfo Valentino e Vilma Banky; "A
General" (The General), de e com Buster Keaton, 1926; "Cavalheiro
Amador" (The Amateur Gentleman), de Thornton Freeland, 1936, com Douglas
Fairbanks Jr. e Elissa Landi; "Flash Gordon" (Flash
Gordon), de Frederick Stephani, 1936, com Buster Crabbe e Jean Rogers; "As
Aventuras de Sherlock Holmes" (The Adventures of Sherlock Holmes), de
Alfred L. Werker, 1939, com Basil Rathbone e Nigel Bruce; e muitos
outros.
Os espetáculos musicais ficavam a cargo das filarmônicas locais - Euterpe Feirense e 25 de Março e Vitória - que
faziam sarais, além cantores de fora que animavam a noite das elites
feirenses com diversos ritmos. A poetisa e musicista Georgina Erismann,
criadora do Hino à Feira, por várias vezes se apresentou no espaço. Em
1919, quando da passagem do Circo Belga pela cidade, foi realizada uma
exibição da trupe belga Leb Alberts e "seus cães sábios".
Nas
apresentações teatrais, destaque para o Grupo Dramático Taborda, o
Grêmio Lítero-Dramático Rio Branco e as apresentações de cunho religioso
organizados por grupos como o núcleo das Noelistas.
Além
de um espaço de cultura e lazer, o Cine-Teatro Santana foi palco de
grandes eventos políticos, como a conferência de Rui Barbosa, quando de
sua visita a Feira de Santana, em 25 de dezembro de 1919. Foi quando ele
denominou Feira de Santana
Eurico Alves Boaventura no poema "Cinema" (trecho no início deste texto), destaca que o cinema era um espaço para se sonhar.
Antonio
do Lajedinho diz mais que a platéia se entusiasmava com as exibições
dos filmes: "a rapaziada fazia questão de ocupar as gerais, porque ali
todos aplaudiam batendo o acento da cadeira e gritando a cada castigo
que o mocinho aplicava no bandido."
Ao
piano, Anita Novais executava ritmos compatíveis com as cenas exibidas.
As de amor eram acompanhadas com valsas. As de pancadaria, com
fox-trot.
Durante 30 anos, até o final da década de 40, o Cinema Santana funcionou sem concorrentes.
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