Por Reinaldo Azevedo
Os petistas estão de tal sorte perdidos e de tal
modo se descolaram na realidade brasileira que já não medem mais as
consequências das coisas que enunciam. E, por óbvio, sem querer ser
tautológico, as falas são tão mais irresponsáveis quanto mais altas são as
responsabilidades dos que lançam bobagens ao vento. A começar da presidente da
República.
Na quinta à noite, um artefato explosivo, de
fabricação caseira, foi jogado na calçada do Instituto Lula, em São Paulo. A
explosão chegou a danificar um portão. É coisa de bandido? É claro que é. As
polícias, inclusive a Federal, têm de investigar para tentar chegar aos
responsáveis? É evidente! E em os encontrando? Que sejam punidos segundo os
rigores da legislação - não dará para enquadrá-los numa lei de combate ao
terrorismo porque o PT nunca aceitou que se votasse uma.
É tolice ter de declarar que se trata de um ato
condenável, tão explicitamente condenável ele é. Mas daí a ver no episódio a
escalada da intolerância, como fez a presidente Dilma, segundo quem o ato poria
em risco até a democracia, bem, há aí a diferença que vai do óbvio à estultice.
Afirmou a governanta no Twitter: "A intolerância é o caminho mais curto para
destruir a democracia. Jogar uma bomba caseira na sede do Instituto Lula é uma
atitude que não condiz com a cultura de tolerância e de respeito à diversidade
do povo brasileiro".
Ai, ai… Mais um pouco, a presidente recupera a
retórica das catacumbas da ditadura, quando se assegurava: "Os subversivos são
portadores de uma ideologia exógena, contrária à índole pacífica e ordeira do
povo brasileiro"…
É claro que os vagabundos que praticaram aquele
ato, se presos, têm de ser punidos, mas a presidente também poderia dar um
exemplo. Volta e meia, ela faz alusão a seu passado de membro de grupos que praticavam
ações terroristas. Naquele caso, as bombas não eram tão primitivas e matavam
mesmo. Nunca vi um mea-culpa presidencial. Ao contrário: Dilma empresta aquelas
jornadas ares de heroísmo e diz até que aqueles grupos defendiam a democracia,
o que é uma mentira objetiva.
Jaques Wagner
Jaques
Wagner, nada menos do que ministro da Defesa, resolveu engrossar o coro dos
insensatos - e olhem que o homem é apontado como alternativa moderada entre os
petistas. Não só decidiu emprestar à coisa um peso político que nem sabe se tem
como aproveitou para fazer politicagem, criticando a Polícia Civil de São
Paulo.
No sábado, o homem que, na prática, é chefe das
três Forças Armadas e a cargo de quem estaria a defesa da nação afirmou: "Eu
acho que [o ataque] é grave e acho que foi pobre a afirmação da Polícia Civil
de São Paulo porque não se trata de ter sido alguém organizado ou não".
Explico. A Polícia Civil de São Paulo, de forma
prudente, disse trabalhar com todas as hipóteses, inclusive a de que seja um
ato de vandalismo. É o certo. Mas Wagner exige que o PT seja hoje tratado como
vítima de uma ação organizada, de caráter político e ideológico. Ele quer
porque quer empregar a palavra "terrorismo". Disse: "Está se criando um
clima no país em que alguém se acha no direito, seja ele quem for - pode ser um
cidadão comum - de chutar as costas do prefeito de Maricá (RJ) ou de botar uma
bomba explicitamente no local de trabalho de um [ex-presidente]. Isso é
inadmissível para qualquer um, porque o terrorismo é a pior forma de se
trabalhar as diferenças."
Calma! A coisa não parou por aí. O ministro
procurou associar a bomba caseira aos que defendem o impeachment de Dilma.
Leiam: "A tentativa de quebra da regra da naturalidade da democracia é que
eventualmente embala loucos como esse que jogou a bomba. Porque outros, sem
serem loucos iguais [ao que arremessou o artefato], [o] embalam."
Ah, entendi. Então defender o impeachment da
presidente e convocar uma manifestação, como a do dia 16 de agosto,
predisporiam loucos a jogar bombas caseiras… O país fez o maior protesto
político de sua história no dia 15 de março deste ano, e não se teve notícia de
um só incidente. Rui Falcão, presidente do PT, estava com Wagner e também
criticou a Polícia de São Paulo, chamando o episódio de um "ato de
violência contra a maior liderança que o país já produziu". Ah… Se Lula fosse
apenas a quinta maior liderança, talvez a bomba fosse menos grave.
Discurso terrorista
Terrorista
é o discurso dos petistas, inclusive o da presidente da República. Pra começo
de conversa, faz uma brutal diferença um ato dessa natureza ter sido praticado
por um grupo organizado ou por um delinquente qualquer. Se um ministro da
Defesa não tem essa clareza, melhor fazer outra coisa. Aliás, Wagner ser
titular da Pasta é um escárnio. Com que conhecimento de causa?
Lamento adicionalmente, diga-se, que ele não tenha
censurado seus pares de partido que dizem que o antipetismo é coisa tão grave
como o antissemitismo. Wagner estaria moralmente obrigado a tratar do assunto:
por ser petista, por ser ministro da Defesa e por ser judeu.
Em segundo lugar, ainda que ato terrorista fosse, o
que isso teria a ver com os que convocaram as marchas em favor do impeachment
para o dia 16? Todos os grupos que se ocupam da convocação e da organização dos
eventos têm sólidos compromissos com a democracia, rejeitam a violência de
qualquer natureza e defendem o império da lei.
Dilma, Wagner e Falcão precisam ser mais
responsáveis. Até porque há uma questão de natureza lógica: se ações contra o
PT servirão de pretexto para atacar os que protestam contra Dilma, a melhor
maneira de transformar em vilões os que o fazem é praticando ataques contra o
PT. Aí a a gente é logicamente obrigado a trabalhar com a hipótese de que, na
raiz de um ataque como aquele, podem estar justamente os adversários do
impeachment, não é mesmo?
Odorico Paraguaçu mandava pichar nos muros de
Sucupira "Odorico é ladrão" quando queria baixar o porrete na oposição.
O Brasil não é Sucupira, Dilma!
Fonte: "Blog Reinaldo
Azevedo"
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