Editorial
Os
poucos que ainda se iludiam com os black blocs - por ingenuidade ou recusa
teimosa de abrir os olhos para a realidade, sabe-se lá por que - agora não têm
mais desculpa. O artefato explosivo que atingiu na cabeça e matou o
cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirantes, lançado por dois integrantes
desse grupo, durante manifestação no Rio de Janeiro contra o aumento da tarifa
de ônibus, na última quinta-feira, é a trágica demonstração de que os black
blocs não passam de perigosos delinquentes que se disfarçam de adeptos de um
vago e confuso anarquismo.
As
cenas gravadas por amadores - e a mais reveladora delas por uma rede de
televisão russa - documentaram com precisão o ataque covarde de que foi vítima
Santiago Andrade, que estava ali fazendo o seu trabalho. Além de correrem o
mundo, mostrando a verdadeira face dos vândalos que se apropriaram das
manifestações de protesto, elas permitiram à polícia carioca obter dados
importantes sobre os dois criminosos.
Um
deles, o tatuador Fábio Raposo, de 22 anos - que já tem duas passagens pela
polícia -, se entregou na madrugada de sábado. Ele sabia que, por ser mais
facilmente identificável que seu cúmplice pelas posições em que foi filmado
durante o ato criminoso, logo seria localizado e preso. Sua versão de que
apenas entregou o artefato explosivo - sem saber exatamente do que se tratava -
a outra pessoa, filmada apenas de costas, que não conhecia e foi quem o
acionou, foi considerada "no mínimo fantasiosa" pelo delegado da 17.ª
DP, Maurício Luciano, encarregado da investigação do caso. Opinião
compartilhada por peritos que analisaram as gravações.
Indiciado
como coautor do crime de tentativa de homicídio qualificado com uso de
explosivo - acusação que passa a ser de homicídio, depois da morte do
cinegrafista, segunda-feira - e por crime de explosão, Raposo se deu conta de que
não valia a pena tentar salvar a pele de seu cúmplice e decidiu colaborar com a
polícia, pondo fim às versões destinadas a confundir as investigações. Seu
advogado prometeu fornecer ao delegado Maurício Luciano a identidade de quem
acendeu o pavio do artefato.
Com
isso deve se fechar o círculo desse caso, típico do comportamento dos black
blocs, cuja violência não tem como alvo apenas o patrimônio público e privado.
Eles tratam com total indiferença e desprezo também a vida humana, como fica
claro nas cenas em que utilizaram friamente aquele artefato, sabendo quais
poderiam ser as suas consequências para quem fosse por ele atingido.
Desde
que esse grupo - a essa altura, melhor seria dizer esse bando - se infiltrou
nas manifestações iniciadas em junho passado e na prática passou a comandá-las,
não faltaram advertências da polícia e das autoridades da área de segurança de
vários Estados de que ele tinha de ser tratado de forma diferente, como
criminoso que é. As cenas impressionantes, veiculadas pela televisão, dos atos
de vandalismo sistematicamente praticados pelos black blocs durante as
manifestações, que passaram por isso a não merecer esse nome - com depredação
de prédios públicos, sinalização de trânsito, agências bancárias e revendedoras
de carros -, sem falar no bloqueio de importantes vias, com reflexo no trânsito
já caótico das grandes cidades, deveriam bastar para confirmar o alerta das
autoridades.
A
verdade é que, por receio de parecerem "repressivas" - mas não é
elementar que o crime seja reprimido? - e se prejudicarem politicamente, nem
elas se preocuparam seriamente em dar consequência prática à sua constatação,
ou seja, tratar os black blocs e seus assemelhados como criminosos que agem em
bando, como quadrilha. De político esses grupos nada têm. Não sabem sequer o
que é o anarquismo que reivindicam. É pois como bandidos que devem ser
tratados. Dar-lhes ares românticos de revoltados é pura irresponsabilidade, que
só pode redundar em novos crimes.
A
solidariedade que alguns black blocs foram prestar a Fábio Raposo, em frente à
17.ª DP, no Rio, apesar do grave crime por ele cometido, mostra que a
arrogância desse bando não tem limites e que é preciso agir com urgência e
rigor para colocá-lo na linha.
Fonte: "O Estado de S.
Paulo"
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