Por Reinaldo Azevedo
Um dos segredos de Lula é não ter medo do ridículo. Como imprensa,
sistema político e instituições reagem cada vez com mais mansidão às tolices
que diz, ele segue adiante, sem medo, desde sempre, de ser feliz. Ele foi,
nesta terça, um dos convidados de uma solenidade feita pela Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) em homenagem aos 25 anos da Constituição. Faltou à Ordem,
é evidente, um mínimo de bom senso. Considerando que se trata da entidade por
excelência dos advogados, que devem ter como guia a Carta Magna, eu diria que
também a decência saiu arranhada. O PT é o partido que se negou a comparecer ao
ato de homologação da Constituição, o que correspondeu, simbolicamente, a um "não" ao documento. Por que uma entidade que simboliza o sumo da defesa da
ordem jurídica e constitucional convida para uma solenidade alguém que se
recusou a endossar a Constituição? Servidão voluntária? Vício de servir? Tenham
paciência!
Depois da solenidade, o ex-presidente, que anda mais assanhado que
chinoca em dia festa - para lembrar ditado gaúcho - resolveu deitar falação
sobre o STF. E ousou fazer uma proposta que não ocorreu nem aos generais mais
duros da ditadura. Segundo o valente, os ministros do STF deveriam ter
mandatos. Leio na Folha : "É preciso que a gente decida a questão
do Supremo. Se vai ter mandato ou não, se vai ser 75 anos, se vai ficar como
está. Porque, senão, as pessoas ficam 40, 35 anos. Acho que poderíamos
consultar a OAB. Pode ter um mandato. É uma coisa que tem que ser discutida".
Ora, ora, ora. Digam-me cá: em que lugar, em que instância, em que
foro se discute se "juiz deve ter mandato"? Se isso existe, está apenas na
cabeça do gênio. A propósito: se Dias Toffoli ficar no tribunal até os 70,
serão 28 como ministro do Supremo. Chegou lá aos 42 justamente pelas mãos de
Lula. O único dado de sua biografia que explicava, mas não justificava, a
nomeação, era a sua vinculação com o PT. Tinha sido reprovado num concurso para
juiz.
Os nove ministros da Suprema Corte dos EUA permanecem no cargo enquanto
tiverem condições de exercer o seu trabalho. Caso não peçam para sair, ficam
até a morte. Aprovados pelo Senado, o cargo é vitalício. E, obviamente, não
ocorreria a um ex-presidente ou a um líder político sugerir que tivessem "mandatos". A razão de ser da vitaliciedade de um juiz é justamente impedir que
se vergue a conjunturas políticas. Para tanto, claro!, é fundamental que as
indicações feitas obedeçam a critérios que guardem intimidade apenas com a
Justiça, não com a política. Ridículo no Brasil, isto sim, e cada vez mais,
especialmente em face do aumento da expectativa de vida, é a aposentadoria
compulsória aos 70 anos. Tanto é assim que ministros aposentadores seguem
trabalhando em escritórios privados de advocacia, gozando de plena saúde física
e mental.
De volta à Constituição
Mas até Lula é, às vezes, mais severo com o seu partido do que a própria imprensa, que costuma lhe ser reverente. Ao comentar o comportamento do PT na Constituinte, afirmou:
"O PT foi o único partido que, no dia da instalação da Constituinte, entregou um projeto de Constituição. Só tínhamos 16 deputados, mas éramos desaforados como se fôssemos 500. Se nossa Constituição fosse aprovada, certamente seria ingovernável, porque éramos muito duros na queda".
Mas até Lula é, às vezes, mais severo com o seu partido do que a própria imprensa, que costuma lhe ser reverente. Ao comentar o comportamento do PT na Constituinte, afirmou:
"O PT foi o único partido que, no dia da instalação da Constituinte, entregou um projeto de Constituição. Só tínhamos 16 deputados, mas éramos desaforados como se fôssemos 500. Se nossa Constituição fosse aprovada, certamente seria ingovernável, porque éramos muito duros na queda".
Acerta numa coisa: submetido às vontades, então, do PT, o país
seria ingovernável, como ingovernável teria sido se Lula tivesse vencido as
eleições presidenciais em 1989, em 1994 ou em 1998. "Duros na queda" uma ova! O
nome é outro: se alguém propõe um arcabouço constitucional que torna o país
ingovernável, o nome disso é irresponsabilidade.
Lula só encontrou um país "governável" porque FHC fez reformas que
o PT, obviamente não faria, contra a quais lutou bravamente, sabotando - cabe,
sim, a palavra - todas os esforços para tirar o país de um atraso crônico.
Dessa resistência, fez, diga-se, a sua plataforma, em muitos aspectos ignorada
depois que chegou ao poder. Apontem uma só mudança estrutural importante
implementada pelo petismo que concorre para a tal "governabilidade". O que se
reformou no governo FHC reformado foi; o que não se conseguiu fazer ficou para
a calendas.
Quem sabe Lula faça um novo mea-culpa daqui a 25 anos…
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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