Espetáculo da Companhia Vigor Mortis une estética de quadrinhos, cinema e teatro
"Graphic" dá continuidade às pesquisas de linguagem do grupo curitibano Vigor Mortis. "'Graphic' une a estética de quadrinhos, cinema e teatro, porém o foco não está no terror trash, como no espetáculo anterior Morgue Story, embora a violência ainda esteja lá. Queremos aqui continuar a fazer algo com nossa cara, mas temos que nos preocupar em renovar idéias e não apenas repetí-las" explica o diretor Paulo Biscaia Filho. O resultado deste trabalho estará em cena numa peça que fala de três personagens que se expressam através de gráficos: Artie(Leandrodanielcolombo) é um desenhista de manuais de instruções que tenta desenvolver idéias novas para um personagem chamado Homem-sombra; Becca (Carolina Fauquemont) é uma executiva de finanças que vive em meio a gráficos financeiros, mas tem um passado como desenhista de fanzines; e Raf (Rafaella Marques) é uma artista de rua que trabalha com stencils. O encontro entre estes três e a disputa por uma vaga como desenhista de quadrinhos profissional em uma grande editora faz com que venham à tona suas frustrações, anseios , visões de carreira e chega a conseqüências tão radicais que vão levar a morte de um dos personagens. "É uma peça sobre angústia no século XXI, mas não é uma montagem tendenciosamente filosófica. Nada disso. Gostamos de fazer montagens acima de tudo empolgantes e divertidas. É um conto sobre três personagens estranhos, melancólicos e divertidos", acrescenta o diretor que também assina o texto.
Para criar este universo de expressões gráficas, o grupo fez antes do processo de ensaios um workshop de desenho em quadrinhos com o artista plástico e quadrinhista DW, com quem a Vigor Mortis já tinha trabalhado em Morgue Story. Neste estudo os atores, diretor e o cenógrafo do grupo Guilherme Sant’ana estudaram e experimentaram o processo criativo de um desenhista de quadrinhos. "Teatro, cinema ou quadrinhos. Cada um é uma linguagem com códigos e símbolos obviamente distintos. Para quem trabalha com teatro fazer este workshop foi como um japonês aprender português. Temos que recompreender a forma como pensamos a criação e a comunicação. Isso foi maravilhoso. É como iniciar do zero. Isso é claro que não significa que nos tornamos desenhistas profissionais, mas profissionais de teatro estudando uma linguagem alheia a nossa", comenta Biscaia, "O que iniciamos em 'Morgue Story' juntando quadrinhos e teatro precisou ser amadurecido. Foi um desejo natural nosso de crescimento de pesquisa dentro da Vigor Mortis. Graphic é uma evolução natural de Morgue."A partir deste curso o texto passou a ser desenvolvido aplicando conceitos de criação gráfica na dramaturgia. Os atores continuaram desenhando e ainda aprimoraram outras técnicas específicas. Para os trabalhos gráficos usados dentro da peça foram chamados cinco artistas que fariam os traços específicos de cada um dos personagens. Os quadrinhos do personagem Artie foram criados pelo artista José Aguiar, nome conhecido e premiado nos quadrinhos brasileiros e colaborador da Folhateen e do site Omelete. Aguiar diz ter se divertido muito fazendo os quadrinhos e os estranhamente divertidos manuais de instruções do personagem Artie que é interpretado por leandrodanielcolombo, o mais antigo ator da companhia. "O Dani é mais que um ator da Vigor Mortis. Ele é praticamente meu irmão de sangue. Eu já quase nem preciso dirigir o trabalho dele. Ele já sabe qual é a nossa estética e proposta", comenta Biscaia, "E os trabalhos do José feitos para o personagem Dani são de babar. Me deu vontade de abrir uma editora de quadrinhos! É uma honra ter um artista tão premiado e conceituado internacionalmente como o José com a gente."
Um trio de artistas formado por Juan Parada, Claudio Celestino e "Olho", especialistas em stencil com diversas exposições no currículo, fazem as obras de arte de rua da personagem Raf. Rafaella Marques que interpreta Raf faz a aplicação de stencils(uma máscara de acetato recortada com imagens que surgem através da aplicação de spray de tinta) durante a apresentação da peça. Rafaella é integrante da Vigor Mortis desde 2004 e é uma das principais e mais dedicadas pesquisadoras do grupo. "Dá vontade de largar o teatro e passar a só fazer stencil. É viciante", brinca a atriz.
Depois de ter criado o personagem Oswald - O Morto Vivo para 'Morgue Story', a atriz Carolina Fauquemont que interpreta Becca é a mais nova integrante da Vigor Mortis. Ela entrou no grupo depois de um teste aberto onde mais de 30 atrizes concorreram pela vaga. "A quantidade surpreendente de interessadas no teste foi antes de mais nada uma demonstração do forte interesse pelo trabalho da Vigor Mortis e foi difícil fazer a escolha final, mas hoje a gente vê que o trabalho da Carol é parte integrante 100% para o grupo. Ela se revelou no workshop uma exímia desenhista e vamos usar trabalhos dela na peça", elogia o diretor Biscaia.
As obras destes artistas são projetadas em vídeos criados pelo próprio diretor. "O uso de projeção ligada de fora indissolúvel com a dramaturgia faz parte da nossa linha de pesquisa de linguagem. É mais que uma marca da Vigor Mortis. É um conceito de trabalho contínuo", argumenta Biscaia.
A iluminação é criada por Wagner Corrêa e os figurinos são de Mariana Zanette, outra profissional co-fundadora da Vigor Mortis. A cenografia foi desenvolvida por Guilherme Sant’ana, um nome que já faz parte da equipe permanente da companhia. "O Guilherme não faz apenas cenografia. Ele pensa muito parecido com a gente. Ele ajuda a conceituar o espaço cênico dentro da dramaturgia", enfatiza o diretor.
"Graphic" não é, mas pode quase ser considerada uma continuação de "Morgue Story". São usados no texto elementos do universo da peça anterior como citações a artista Ana Argento e ao mega-conglomerado Cruz de Barros, também já citado na peça "Dimensão Desconhecida", que esteve em cartaz este ano numa parceria entre a Vigor Mortis e o grupo Antropofocus. "É uma brincadeira divertida onde criamos nosso próprio universo. Uma cidade fictícia com nomes, marcas e lugares recorrentes. Isso é muito comum no trabalho do cineasta Kevin Smith, que foi uma forte influência em 'Graphic'". O cenógrafo Guilherme Sant’ana, que é também arquiteto e urbanista, chegou a criar um mapa completo da cidade 'sem nome' de 'Graphic', dando um tratamento a ela como o de um personagem. "A cidade é de fato um personagem na peça. Artie, Becca e Raf são parte desta cidade opressora que poderia ser Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro ou Tóquiio", comenta Biscaia.
"Graphic" recebeu seis indicações para o Troféu Gralha Azul/Prêmio Governador do Estado (o principal prêmio de teatro no Paraná) e foi vencedor em três :
Indicações:
- Indicado a Melhor Ator (leandrodanielcolombo)
- Indicado a Melhor Cenografia (Guilherme Sant'ana)
- Indicado a Melhor Iluminação (Wagner Corrêa)
Vencedor nas categorias de
- Melhor Espetáculo (produção : Vigor Mortis)
- Melhor Direção (Paulo Biscaia Filho)
- Melhor Texto (Paulo Biscaia Filho)
A montagem recebeu recentemente uma indicação ao Troféu HQ Mix, o mais importante prêmio de quadrinhos do Brasil, na categoria de "Adaptação Para Outro Veículo".
"Graphic" é patrocinado pela Petrobras e tem o apoio do Ministério da Cultura.
Este espetáculo foi selecionado pelo Edital Petrobras Distribuidora de Cultura 2011/2012.
Serviço:
Espetáculo: "Graphic" (Companhia Vigor Mortis)
Apresentações: 25, 26 e 27 de novembro (sexta-feira a domingo)
Horário: sexta e sábado às 20 horas; domingo às 19 horas
Ingresso: R$ 5,00 (meia para todos)
Local: Theatro XVIII - Ladeira São Miguel, 18 -Pelourinho
Classificação: não recomendado para menores de 16 anos
Informações: (71) 3322-0775
Ficha Técnica:
Vídeos, Texto e Direção: Paulo Biscaia Filho
Elenco: Leandrodanielcolombo, Carolina Fauquemont, Rafaella Marques
Cenário: Guilherme Sant’ana
Desenhos: Dw /José Aguiar/ Carolina Fauquemont
Stencils: Juan Parada / Olho/ Claudio Celestino
Figurinos: Mariana Zanette
Iluminação: Wagner Corrêa
Produção Local: Selma Santos Produções e Eventos
(Com informações de Davi Nogueira, do Marketing de Selma Santos Produções e Eventos)
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