Por Adriana Matos
Li em alguma das centenas de folhas espalhadas sobre minha mesa de estudo – não sei quando, muito menos de quem - que o importante mesmo é a gente conseguir afastar dos nossos olhos e coração todo e qualquer sentimento de raiva, mágoa ou coisa que o valha. Mas, sinceramente, não tenho conseguido me desvencilhar de tais sentimentos quando lembro do meu QUEIJO, ou melhor, do queijo do meu marido.
Há dois anos, tenho travado dentro de mim uma guerra homérica - sem exagero algum - contra o silêncio e a espera. Mas, nesta madrugada - já são quase duas horas de um novo dia - decidi conversar com as palavras – coisa que adoro – já que o senhor Osvaldo Barreto Filho, secretário de Educação da Bahia, insiste em não devolver o queijo à nossa mesa.
Em 2005, eu e meu marido resolvemos dedicar todo o mês das nossas férias para estudarmos juntos. Havíamos decidido fazer o concurso para professor do Estado cujas provas se realizariam naquele ano. O resultado soou como música, valera à pena tanto esforço: eu havia galgado o primeiro lugar para Antonio Cardoso e ele, o segundo lugar para Anguera. Festejamos e aguardamos as convocações. Resultado: fui nomeada professora de Língua Portuguesa - leciono há quase três anos - e Joací... bem, meu marido teve seu queijo mexido. Explico melhor: a candidata classificada em primeiro lugar, Zenaide Leão Machado, foi convocada pela Secretaria de Educação, mas designada para outra cidade que não Anguera. O queijo, então, permanecia lá. A vaga era de quem? Isso mesmo, esperávamos, ansiosos, para que a vaga fosse preenchida pelo segundo lugar: meu marido. Mas não aconteceu.
Em 2008, Joací - meu marido - chegou a ocupar as 20 horas vagas existentes na Escola Estadual Arthur Vieira de Oliveira, única pública estadual naquela cidade, na esperança de logo ser convocado. Meu amigo, não é por nada não. Sabe aquele texto que comentei no início dessa nossa conversa sobre não alimentar sentimentos ruins? Lembrei-me de outra parte dele: um dia a gente aprende a respeitar as vontades alheias mesmo que estas não comunguem das suas. Quando o ano letivo de 2008 terminou, depois de o professor Joací Souza Mendes entregar notas e o seu famoso sorriso largo, a surpresa: descobrimos que o queijo de Joací ia ser comido por outra pessoa, uma candidata que havia sido classificada em sexto lugar e feito o concurso para a cidade de Conceição do Jacuípe - usarei um nome fictício para não expor a professora que, creio - quero mesmo crer nisso -, nada tem a ver com o erro cometido pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia. A chamarei de Flor. Arregalei os olhos e não acreditei.
A pergunta que não quer calar até hoje, no entanto, e que sonoriza aos meus ouvidos desde então é: quem, afinal, mexeu no nosso queijo? Antes dessa, porém, sinto-me totalmente à vontade para responder a duas possíveis perguntas que você leitor ou leitora deve estar a se fazer: o por quê de eu estar escrevendo o texto e não meu marido, e o por quê do uso constante do pronome em primeira pessoa do plural - nosso. Primeiro, Joací não gosta de resolver as coisas tendo que se expor e expor outras pessoas, ou seja, desnudar sua vida pessoal através desse que considero o melhor e maior veículo de comunicação: a imprensa. Acho que simpatizou com o texto e cansou mesmo de esperar, permitindo-me, pois, publicá-lo. Depois, venhamos e convenhamos, a nossa casa, as nossas filhas, a nossa vida, o nosso esforço é tudo um conjunto... e as nossas lutas por nossos queijos passam por aí... Portanto, voltemos para os finalmentes ...
O edital é claro: a SEC tem obrigação de convocar enquanto não for preenchida a vaga divulgada. No caso de Anguera, uma vaga foi ofertada para Língua Portuguesa, a qual, meus camaradas, não foi contemplada por quem se classificou em primeiro lugar, o que não é difícil deduzir quem deveria ocupá-la: o classificado em seguida, Joací Souza Mendes.
O edital também é claro ao afirmar que respeitaria rigorosamente a ordem de classificação. Estávamos enganados: uma mágica aconteceu - mais uma vez lembro-me de mais uma frase do tal texto de auto-ajuda que citei no início: devemos entender que as coisas acontecem para nos deixar mais fortes e mais maduros. Sinceramente? Não queremos entender o erro e não vamos aceitar tal irregularidade ou injustiça, dêem o nome que desejarem.
2009 foi mais um ano de luta para, finalmente, descobrirmos quem mexeu no nosso queijo e fez a tal mágica para que uma candidata de outra cidade e de classificação tão distante da de Joací pudesse desfrutar desse queijo. Em conversa com o então diretor regional da Direc 2, Moura Pinho, o inexplicável virava explicação: o diretor, o homem que, teoricamente, assina e despacha os documentos de uma Direc, confessou para mim, numa tarde na SEC, não ter sido ele o autor de tal ato! Nessa hora, não dava pra lembrar do tal texto: transformar a raiva em amor e aprendizado. E eu, mais uma vez, arregalei os olhos e não acreditei. Mexeram no nosso queijo bem embaixo do nariz de quem devia dá-lo a quem de direito.
E a nossa peregrinação à Direc 2 prosseguia. E as promessas se multiplicavam. Vinham de todo canto: de um deputado aqui, de uma deputada acolá; do próprio diretor daqui e da secretária do diretor de cá; enfim... a esperança - cuja morte está bem próxima, uma vez que o prazo do concurso está quase expirando - aumentou um pouco quando, por telefone, de forma muito gentil e atenciosa, por sinal, a diretora da escola onde Joací Souza Mendes deveria estar lecionando confirmou três coisas que me fizeram, mais uma vez, arregalar os olhos: primeiro, que realmente ELE deveria ter sido designado para lá antes da professora de Conceição do Jacuípe; havia 20 horas vagas reais ainda e, pasmem, as aulas de Língua Portuguesa dessas horas vagas estavam sendo dadas por professores de História, Geografia e outras disciplinas. Fico imaginando se os pais daqueles alunos e alunas tinham idéia - ou os próprios - do que é uma aula de Língua Portuguesa dada por professores não habilitados para tal. Celso Pedro Luft que o diga... gramatiquês e coisas que o valham...
Mas voltemos ao nosso queijo e nossas despedidas...
Mesmo com todas essas informações, Joací Souza Mendes não teve a mesma sorte da professora Flor, de conseguir alguém tão legal para designá-la a ocupar de forma senão ilegal - ao menos imoral e injusto - o lugar de uma pessoa que atingiu uma colocação superior a sua e numa cidade para onde a candidata não fez o concurso, o que é, no mínimo estranho, uma vez que o próprio edital é também claro ao afirmar que a transferência do professor nomeado só é permitida depois de completado o estágio probatório.
Pessimismos, desilusões e descrença no sistema à parte, terminamos 2009 ainda alimentando a tal esperança. Dois motivos: recorremos ao Ministério Público e passamos a contar com um homem que, ao menos, ouve: o novo diretor da Direc 2. Tivemos com ele três ou quatro vezes e a capacidade de seo Eutímio Almeida não só de escutar - mas escutar mesmo - mas também de olhar no olho da gente, me fez lembrar a professora Lindinalva Cedraz, uma diretora que, independente da nossa camisa partidária, RESOLVIA as coisas.
Seo Eutímio é uma pessoa que ainda não conheço, ainda sequer pesquisei seu currículo - são quase três da manhã e não farei isso agora, perdoem-me - mas é alguém em quem estamos depositando nossa confiança, mesmo sem ele ter tido feito promessas; é alguém em quem a minha intuição feminina - tomara a Deus que eu não volte a arregalar os meus olhos - diz que, ao menos, tentará fazer com que a SEC desfaça essa injustiça - ou irregularidade, isso quem julgará é o Ministério Público - e nos fará acreditar que a Educação nos municípios dirigidos pela Direc 2 está sob o olhar e o coração de quem realmente acredita e quer uma EDUCAÇÃO de qualidade. Afinal, esperamos, verdadeiramente, também comer do NOSSO queijo!
Li em alguma das centenas de folhas espalhadas sobre minha mesa de estudo – não sei quando, muito menos de quem - que o importante mesmo é a gente conseguir afastar dos nossos olhos e coração todo e qualquer sentimento de raiva, mágoa ou coisa que o valha. Mas, sinceramente, não tenho conseguido me desvencilhar de tais sentimentos quando lembro do meu QUEIJO, ou melhor, do queijo do meu marido.
Há dois anos, tenho travado dentro de mim uma guerra homérica - sem exagero algum - contra o silêncio e a espera. Mas, nesta madrugada - já são quase duas horas de um novo dia - decidi conversar com as palavras – coisa que adoro – já que o senhor Osvaldo Barreto Filho, secretário de Educação da Bahia, insiste em não devolver o queijo à nossa mesa.
Em 2005, eu e meu marido resolvemos dedicar todo o mês das nossas férias para estudarmos juntos. Havíamos decidido fazer o concurso para professor do Estado cujas provas se realizariam naquele ano. O resultado soou como música, valera à pena tanto esforço: eu havia galgado o primeiro lugar para Antonio Cardoso e ele, o segundo lugar para Anguera. Festejamos e aguardamos as convocações. Resultado: fui nomeada professora de Língua Portuguesa - leciono há quase três anos - e Joací... bem, meu marido teve seu queijo mexido. Explico melhor: a candidata classificada em primeiro lugar, Zenaide Leão Machado, foi convocada pela Secretaria de Educação, mas designada para outra cidade que não Anguera. O queijo, então, permanecia lá. A vaga era de quem? Isso mesmo, esperávamos, ansiosos, para que a vaga fosse preenchida pelo segundo lugar: meu marido. Mas não aconteceu.
Em 2008, Joací - meu marido - chegou a ocupar as 20 horas vagas existentes na Escola Estadual Arthur Vieira de Oliveira, única pública estadual naquela cidade, na esperança de logo ser convocado. Meu amigo, não é por nada não. Sabe aquele texto que comentei no início dessa nossa conversa sobre não alimentar sentimentos ruins? Lembrei-me de outra parte dele: um dia a gente aprende a respeitar as vontades alheias mesmo que estas não comunguem das suas. Quando o ano letivo de 2008 terminou, depois de o professor Joací Souza Mendes entregar notas e o seu famoso sorriso largo, a surpresa: descobrimos que o queijo de Joací ia ser comido por outra pessoa, uma candidata que havia sido classificada em sexto lugar e feito o concurso para a cidade de Conceição do Jacuípe - usarei um nome fictício para não expor a professora que, creio - quero mesmo crer nisso -, nada tem a ver com o erro cometido pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia. A chamarei de Flor. Arregalei os olhos e não acreditei.
A pergunta que não quer calar até hoje, no entanto, e que sonoriza aos meus ouvidos desde então é: quem, afinal, mexeu no nosso queijo? Antes dessa, porém, sinto-me totalmente à vontade para responder a duas possíveis perguntas que você leitor ou leitora deve estar a se fazer: o por quê de eu estar escrevendo o texto e não meu marido, e o por quê do uso constante do pronome em primeira pessoa do plural - nosso. Primeiro, Joací não gosta de resolver as coisas tendo que se expor e expor outras pessoas, ou seja, desnudar sua vida pessoal através desse que considero o melhor e maior veículo de comunicação: a imprensa. Acho que simpatizou com o texto e cansou mesmo de esperar, permitindo-me, pois, publicá-lo. Depois, venhamos e convenhamos, a nossa casa, as nossas filhas, a nossa vida, o nosso esforço é tudo um conjunto... e as nossas lutas por nossos queijos passam por aí... Portanto, voltemos para os finalmentes ...
O edital é claro: a SEC tem obrigação de convocar enquanto não for preenchida a vaga divulgada. No caso de Anguera, uma vaga foi ofertada para Língua Portuguesa, a qual, meus camaradas, não foi contemplada por quem se classificou em primeiro lugar, o que não é difícil deduzir quem deveria ocupá-la: o classificado em seguida, Joací Souza Mendes.
O edital também é claro ao afirmar que respeitaria rigorosamente a ordem de classificação. Estávamos enganados: uma mágica aconteceu - mais uma vez lembro-me de mais uma frase do tal texto de auto-ajuda que citei no início: devemos entender que as coisas acontecem para nos deixar mais fortes e mais maduros. Sinceramente? Não queremos entender o erro e não vamos aceitar tal irregularidade ou injustiça, dêem o nome que desejarem.
2009 foi mais um ano de luta para, finalmente, descobrirmos quem mexeu no nosso queijo e fez a tal mágica para que uma candidata de outra cidade e de classificação tão distante da de Joací pudesse desfrutar desse queijo. Em conversa com o então diretor regional da Direc 2, Moura Pinho, o inexplicável virava explicação: o diretor, o homem que, teoricamente, assina e despacha os documentos de uma Direc, confessou para mim, numa tarde na SEC, não ter sido ele o autor de tal ato! Nessa hora, não dava pra lembrar do tal texto: transformar a raiva em amor e aprendizado. E eu, mais uma vez, arregalei os olhos e não acreditei. Mexeram no nosso queijo bem embaixo do nariz de quem devia dá-lo a quem de direito.
E a nossa peregrinação à Direc 2 prosseguia. E as promessas se multiplicavam. Vinham de todo canto: de um deputado aqui, de uma deputada acolá; do próprio diretor daqui e da secretária do diretor de cá; enfim... a esperança - cuja morte está bem próxima, uma vez que o prazo do concurso está quase expirando - aumentou um pouco quando, por telefone, de forma muito gentil e atenciosa, por sinal, a diretora da escola onde Joací Souza Mendes deveria estar lecionando confirmou três coisas que me fizeram, mais uma vez, arregalar os olhos: primeiro, que realmente ELE deveria ter sido designado para lá antes da professora de Conceição do Jacuípe; havia 20 horas vagas reais ainda e, pasmem, as aulas de Língua Portuguesa dessas horas vagas estavam sendo dadas por professores de História, Geografia e outras disciplinas. Fico imaginando se os pais daqueles alunos e alunas tinham idéia - ou os próprios - do que é uma aula de Língua Portuguesa dada por professores não habilitados para tal. Celso Pedro Luft que o diga... gramatiquês e coisas que o valham...
Mas voltemos ao nosso queijo e nossas despedidas...
Mesmo com todas essas informações, Joací Souza Mendes não teve a mesma sorte da professora Flor, de conseguir alguém tão legal para designá-la a ocupar de forma senão ilegal - ao menos imoral e injusto - o lugar de uma pessoa que atingiu uma colocação superior a sua e numa cidade para onde a candidata não fez o concurso, o que é, no mínimo estranho, uma vez que o próprio edital é também claro ao afirmar que a transferência do professor nomeado só é permitida depois de completado o estágio probatório.
Pessimismos, desilusões e descrença no sistema à parte, terminamos 2009 ainda alimentando a tal esperança. Dois motivos: recorremos ao Ministério Público e passamos a contar com um homem que, ao menos, ouve: o novo diretor da Direc 2. Tivemos com ele três ou quatro vezes e a capacidade de seo Eutímio Almeida não só de escutar - mas escutar mesmo - mas também de olhar no olho da gente, me fez lembrar a professora Lindinalva Cedraz, uma diretora que, independente da nossa camisa partidária, RESOLVIA as coisas.
Seo Eutímio é uma pessoa que ainda não conheço, ainda sequer pesquisei seu currículo - são quase três da manhã e não farei isso agora, perdoem-me - mas é alguém em quem estamos depositando nossa confiança, mesmo sem ele ter tido feito promessas; é alguém em quem a minha intuição feminina - tomara a Deus que eu não volte a arregalar os meus olhos - diz que, ao menos, tentará fazer com que a SEC desfaça essa injustiça - ou irregularidade, isso quem julgará é o Ministério Público - e nos fará acreditar que a Educação nos municípios dirigidos pela Direc 2 está sob o olhar e o coração de quem realmente acredita e quer uma EDUCAÇÃO de qualidade. Afinal, esperamos, verdadeiramente, também comer do NOSSO queijo!
* Adriana Matos é professora e jornalista
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