“Nunca antes na história humana houve tantos acrônimos em busca de identidade.”
A frase do crítico de arte Robert Hughes, que retirei da obra Cultura da Reclamação, me ajudou a compreender com mais facilidade como se expande a indústria do politicamente correto e a sua enorme capacidade de produzir as chamadas “vítimas do sistema.”
Embora o ensaio de Hughes trate de forma implacável da sociedade americana do período pós-Reagan, os conceitos do autor são perfeitamente válidos para a realidade contemporânea brasileira que, a despeito da dependência cultural dos modismos do colonizador, apresenta-se extremamente criativa na fabricação das suas próprias suscetibilidades para “disfarçar as verdades incômodas.”
O agravamento da crise de segurança pública no Brasil cristalizou o mais novo discurso politicamente correto: a vitimização do usuário de drogas.
Apesar de a conduta trazer enorme desvalor social, causar estragos incomensuráveis à estrutura familiar, ser parte indissociável da cadeia destrutiva do mercado de entorpecentes e produzir grandes custos ao aparato estatal, está terminantemente proibida a sua condenação.
É muita hipocrisia. Por um lado há o reconhecimento de que o uso de entorpecentes é um grave problema social que nutre a criminalidade violenta, no entanto, o sujeito ativo do delito deve ser resguardado por uma questão de humanismo.
Talvez se fossem gafanhotos ou um selvagem tapir os autores de tais condutas depreciativas certamente estariam sujeitos à reprovação. Como são seres humanos merecem total condescendência da lei e da sociedade.
Mais do que isso, o usuário de drogas deve ser verbalmente tratado com todo respeito, de modo a não ser exposto aos abusos da palavra, como bem ensina Hughes.
Não se tratam de criminosos, mas de vítimas de uma patologia social. Viciados? Negativo! O aceitável, consoante a crítica do autor ao politicamente correto, é considerá-los pessoas que abusam de “substâncias” entorpecentes.
Daqui a pouco vamos sedimentar o entendimento de muitos ecologistas de que é uma heresia considerar que a maconha é uma droga altamente perniciosa.
O correto será admiti-la como algo superorgânico, em cuja natureza se concentram os “elementos” água, terra, fogo e ar.
Uma planta de propriedades transcendentais que nossos antepassados indígenas empregavam em ritos que deveriam ser considerados patrimônio imaterial do povo brasileiro.
O maior absurdo tem sido produzido pelo próprio governo Lula – com o assentimento de muitas personalidades, a exemplo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso –, que decidiu conferir vigor institucional ao politicamente correto ao desenvolver campanha pela legalização do consumo de substâncias entorpecentes.
A justificativa é canhestra: a despeito de o usuário agir de acordo com sua vontade deliberada de consumir drogas, precisa de cuidados médicos para se curar da enfermidade.
Perfeitamente, como não há no Sistema Único de Saúde nada que possa ser chamado de tratamento para a “doença” e a terapia administrada pela rede privada ser uma grande enganação, o que fica patente é o desejo de se legalizar o uso das drogas para livrar o governo do problema e ponto.
A Era Lula deu mais uma vez sinalização dúbia sobre o que pretende realizar para o controle da criminalidade violenta no País.
No calor da crise de segurança pública acenou com a possibilidade de endurecer o regime de cumprimento de pena para os barões do comércio ilegal de entorpecentes. Com a outra mão, decidiu que se trata uma grande “injustiça” punir com prisão os pequenos traficantes.
Se a intenção se cumprir, na cartilha do politicamente correto passará a constar que o gerente da “boca-de-fumo” não pode ser mais considerado traficante de drogas e sim estabelecido comerciante varejista de substâncias psicotrópicas.
E o Brasil que se dane.
Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador goiano (DEM)
A frase do crítico de arte Robert Hughes, que retirei da obra Cultura da Reclamação, me ajudou a compreender com mais facilidade como se expande a indústria do politicamente correto e a sua enorme capacidade de produzir as chamadas “vítimas do sistema.”
Embora o ensaio de Hughes trate de forma implacável da sociedade americana do período pós-Reagan, os conceitos do autor são perfeitamente válidos para a realidade contemporânea brasileira que, a despeito da dependência cultural dos modismos do colonizador, apresenta-se extremamente criativa na fabricação das suas próprias suscetibilidades para “disfarçar as verdades incômodas.”
O agravamento da crise de segurança pública no Brasil cristalizou o mais novo discurso politicamente correto: a vitimização do usuário de drogas.
Apesar de a conduta trazer enorme desvalor social, causar estragos incomensuráveis à estrutura familiar, ser parte indissociável da cadeia destrutiva do mercado de entorpecentes e produzir grandes custos ao aparato estatal, está terminantemente proibida a sua condenação.
É muita hipocrisia. Por um lado há o reconhecimento de que o uso de entorpecentes é um grave problema social que nutre a criminalidade violenta, no entanto, o sujeito ativo do delito deve ser resguardado por uma questão de humanismo.
Talvez se fossem gafanhotos ou um selvagem tapir os autores de tais condutas depreciativas certamente estariam sujeitos à reprovação. Como são seres humanos merecem total condescendência da lei e da sociedade.
Mais do que isso, o usuário de drogas deve ser verbalmente tratado com todo respeito, de modo a não ser exposto aos abusos da palavra, como bem ensina Hughes.
Não se tratam de criminosos, mas de vítimas de uma patologia social. Viciados? Negativo! O aceitável, consoante a crítica do autor ao politicamente correto, é considerá-los pessoas que abusam de “substâncias” entorpecentes.
Daqui a pouco vamos sedimentar o entendimento de muitos ecologistas de que é uma heresia considerar que a maconha é uma droga altamente perniciosa.
O correto será admiti-la como algo superorgânico, em cuja natureza se concentram os “elementos” água, terra, fogo e ar.
Uma planta de propriedades transcendentais que nossos antepassados indígenas empregavam em ritos que deveriam ser considerados patrimônio imaterial do povo brasileiro.
O maior absurdo tem sido produzido pelo próprio governo Lula – com o assentimento de muitas personalidades, a exemplo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso –, que decidiu conferir vigor institucional ao politicamente correto ao desenvolver campanha pela legalização do consumo de substâncias entorpecentes.
A justificativa é canhestra: a despeito de o usuário agir de acordo com sua vontade deliberada de consumir drogas, precisa de cuidados médicos para se curar da enfermidade.
Perfeitamente, como não há no Sistema Único de Saúde nada que possa ser chamado de tratamento para a “doença” e a terapia administrada pela rede privada ser uma grande enganação, o que fica patente é o desejo de se legalizar o uso das drogas para livrar o governo do problema e ponto.
A Era Lula deu mais uma vez sinalização dúbia sobre o que pretende realizar para o controle da criminalidade violenta no País.
No calor da crise de segurança pública acenou com a possibilidade de endurecer o regime de cumprimento de pena para os barões do comércio ilegal de entorpecentes. Com a outra mão, decidiu que se trata uma grande “injustiça” punir com prisão os pequenos traficantes.
Se a intenção se cumprir, na cartilha do politicamente correto passará a constar que o gerente da “boca-de-fumo” não pode ser mais considerado traficante de drogas e sim estabelecido comerciante varejista de substâncias psicotrópicas.
E o Brasil que se dane.
Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador goiano (DEM)
Um comentário:
Já a muito, o Brasil tem se danado por causa das drogas, com ou sem descriminalização dos "comerciantes varegistas de substâncias psicotrópicas"; até porque êsses caras QUANDO vão presos, são soltos logo e sempre teem muitos substitutos à altura em suas bocas...digo, em seu comércio. Parece que está tudo virado de ponta a cabeça...quando deveriam endurecer com os primeiros responsáveis pela "iniciação" da maioria dos jovens nas drogas, além de promessas de liberdade, ainda são promovidos(o título até que é meio pomposo).
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