Além de comédia de costumes, "Polaróides Urbanas" também pode ser vista como o delírio de duas mulheres - da atriz Lise que vê Magali na platéia, e da Magali que vê Lise no palco
Como autor e diretor de teatro e TV e ator multimídia ao longo de 30 anos Miguel Falabella (foto de Fernando F. Godoy) transformou-se em inquestionável referência cultural do país como marca de profissionalismo, talento, ousadia e humor. Sua atuação no teatro como diretor/produtor/autor/ator soma mais de 40 títulos. Entre os de maior sucesso destacam-se "Louro, Alto, Solteiro Procura" (monólogo), "Finalmente Juntos e Finalmente ao Vivo" (ao lado de Guilherme Karam), "Monólogos da Vagina" (direção), "South American Way" (texto e direção), "Império" (texto e direção). Sem esquecer "Como Encher um Biquini Selvagem", que estreou em 1992 com Cláudia Jimenez, e permaneceu cinco anos em cartaz, atraindo mais de um milhão de espectadores. Entre seus prêmios no teatro estão um Molière pela estréia na direção com "Emily", em 1984, peça que lhe rendeu também um Mambembe de diretor revelação, e o Molière de melhor autor por "A Partilha" (1991). Teve peças montadas em Portugal e na Argentina.
Atuou em vários filmes, entre eles "Cleópatra", de Julio Bressane, "Redentor", de Cláudio Torres, "Beijo 2348/72", de Walter Rogério, "O Beijo da Mulher Aranha", de Hector Babenco, e "A Dama do Cine Shangai", de Guilherme de Almeida Prado.
Na TV Globo, foi autor, com Maria Carmem Barbosa, das novelas "Salsa e Merengue" e "A Lua Me Disse". Além de atuar em várias novelas, ficou 15 anos à frente do programa "VideoShow" e integrou o programa de humor "Sai de Baixo".
Criador incansável e versátil, pode-se dizer que Miguel Falabella já passou por todos os gêneros, formatos e veículos. Faltava a direção cinematográfica, lacuna finalmente preenchida com "Polaróides Urbanas", filme que se alimenta do mesmo material de suas melhores criações: personagens do cotidiano com suas mazelas, sonhos e esperanças retratadas com uma incomparável mescla de drama e humor.
A entrevista que se segue foi disponiblizada para o Blog Demais pela distribuidora Buena Vista International.
Dirigir um filme era um sonho antigo?
Certamente. Eu não ia ao teatro durante a infância. Foi apenas a partir dos 10, 12 anos que passei a ser levado pela minha avó para assistir a musicais importados como "Hello Dolly" e "My Fair Lady". Cresci na Ilha do Governador dos anos 60, quase uma aldeia na época, e ao lado da minha casa ficava o Cinema Itamar, cujo hall era cheio de fotos de estrelas francesas, como Mylène Demongeot, Michèle Morgan, Danielle Darrieux. Cinema foi sem dúvida minha primeira grande paixão. Eu sempre tive vontade de dirigir, e quando comecei a pensar no meu primeiro filme, me decidi pela adaptação de "Como Encher um Biquíni Selvagem", mas me perguntava se saberia contar essa história que eu levei no teatro com apenas uma atriz, sem cenários, sem coadjuvantes, e apenas um figurino.
E a que se deve a demora da estréia como diretor de cinema?
Eu sempre soube que iria dirigir, mas as condições favoráveis demoraram a aparecer. Uma delas referia-se à questão autoral. Para mim, o que vale em cinema é a visão autoral - sem ela você não é nada. Eu sou muito autoral e nunca torci ou forcei texto algum em busca do público - graças a Deus o público gosta do que eu gosto. Minhas comédias são engraçadas porque eu sou engraçado na vida. Sem forçar a barra. Demorei também porque o teatro e a TV sempre absorveram muito - não tenho tempo livre. Agora, na maturidade, achei que era o tempo certo. E eu não quis queimar etapas. Quis estrear com um texto lá de trás, quando sonhei em dirigir meu primeiro filme.
E como foi adaptar um monólogo para um roteiro com mais de 20 personagens?
Eu já considerava a peça muito cinematográfica e não tive grandes problemas. Sempre fui obcecado por trabalho. Desenvolvo várias idéias ao mesmo tempo e tenho o hábito de escrever e guardar. Ao longo dos anos, fui elaborando o roteiro. Uma hora, o projeto fica pronto. Muitas pessoas se espantaram quando viram Império, com tantas músicas e personagens, mas na verdade a peça já estava pronta há muito tempo. O roteiro de "Polaróides Urbanas" não ficou pronto na véspera de filmar - ele já estava pronto há muito tempo assim como vários outros projetos que estão à espera do melhor momento de sair da gaveta. No caso do filme, o momento surgiu com as condições de produção da L.C. Barreto.
Você é um bem-sucedido autor, ator e diretor de teatro e TV, além de experiente ator de cinema. Como foi a passagem para trás das câmeras? Você dominava a técnica cinematográfica?
A trama estava pronta mas a narrativa para cinema é muito diferente de uma peça de teatro. Talvez o maior desafio desta passagem tenha sido o de filmar em 26 dias - uma história com muitos personagens e locações. O filme foi muito bem preparado - e após o nervosismo inicial, acho que tudo fluiu muito bem. Desde que pensei em filmar "Polaróides Urbanas", comecei a trabalhar as imagens que eu tinha na cabeça. Por minha conta, sem nenhuma produção à vista, chamei um desenhista e começamos a desenvolver a parte visual. Esse material constituiu um bom ponto de partida.
Você sabia que filme queria fazer?
Eu sabia muito bem como queria ver a história que eu queria contar - afinal essa idéia rola na minha cabeça há muitos anos. Para isso, eu queria uma equipe não só com colegas mas com “brothers”. Nesse sentido, Gustavo Hadba, diretor de fotografia super-talentoso foi mais que um irmão. Em uma de nossas primeiras reuniões avisei que detestava cena “lambida’, sem profundidade. Eu não queria um visual de TV, que adoro, mas é outra coisa. Um dos meus prazeres no cinema é justamente descobrir as várias camadas de imagem. Sou um diretor prático e objetivo e tive ótimas relações com a equipe - Cláudio Amaral Peixoto (diretor de arte), Marcelo Pies (figurinos) e Anne Pinheiro Guimarães (diretora assistente), e com os produtores Paula e Bruno Barreto. Consegui criar um ambiente muito especial no set. com uma equipe que só queria me agradar e me chamava de lourinho encantador. Foram 26 dias de uma relação muito gostosa. E para mim, um grande exercício.
Como se deu a escolha de Marília Pêra para interpretar as gêmeas Magali/Magda?
A princípio, Cláudia Jimenez repetiria o papel que fez no teatro, mas 20 dias antes do início das filmagens ela desistiu - disse que não se sentiria bem vendo outros atores desempenhando os papéis que ela fazia no palco. Tudo bem, aceitei. Eu não bato de frente. Rancor é a pior coisa do mundo. Cláudia é uma super atriz e já estou escrevendo um monólogo para ela, "Tsunami: O Que Sobrou das Árvores". Quando ela desistiu, eu precisava de uma atriz excepcional que pegasse o papel rapidamente e atuasse em dois registros diferentes - o de uma dona de casa entediada e o de uma dondoca que viaja o mundo sem conhecer nada do que vê. Nunca contracenamos, mas Marília Pêra foi a minha primeira diretora no teatro profissional ao lado de Maria Padilha, em 1978, com a peça "A Menina e o Vento", de Maria Clara Machado,
E quanto ao resto do elenco?
Como o filme é um projeto antigo eu já tinha pensado em vários atores. De um modo geral, gosto de trabalhar com a minha galera, ou seja, atores que já conheço e sei que eles me entendem. Sei quando o ator sabe dizer o texto e não gosto de ator que não cai do salto alto. Aliás, sempre gostei mesmo foi de ator coadjuvante. Vários papéis já estavam decididos: Natália do Vale seria a psicanalista - ela é tão blasé, distante, cheia de problemas com a filha Melanie (em homenagem à psicanalista Melanie Klein). Eu só via Arlete Salles no papel da atriz Lise Delamare, Neusa Borges como Crioula, Juliana Baroni, como Vanessa, a menininha que faz tudo para subir na vida, e Otávio Augusto como o marido neurótico que não tira o carro da garagem. Eu já tinha trabalhado com todos eles. Fiz testes com Alexandre Slaviero que interpreta Arnaldo, o menino bonitinho mas chato, com Nicolas Trevijano que interpreta o garoto de programa Mike e com Ana Roberta Gualda (Melanie). Eu também queria colocar pessoas de que gosto, como Berta Loran, Jaqueline Laurence, Ingrid Guimarães.
Como você trabalhou com tantos personagens?
Ensaiei bastante por grupos durante um mês, um processo que adorei. Tinha experimentado esse método durante as filmagens de "Redentor", de Cláudio Torres e vi que funcionava. Sei o que quero do ator e sei como isso é importante. Já me senti perdido na expectativa de uma definição do diretor. O ator trabalha muito melhor quando tem uma mão que o guia. Consegui um clima de intimidade com todos os atores - rapidamente achamos um código de atuação que penso foi bastante eficiente e prazeroso.
Como foi falar “ação” pela primeira vez?
Nunca falei - só falei “corta”. Anne Pinheiro Guimarães foi uma diretora assistente excepcional, super-concentrada que botava ordem no set. Era ela que falava “ação”. Filmamos em estúdio e em muitas locações e me surpreendi com a minha rapidez. No início, tive uma certa dificuldade em encontrar o ritmo, mas peguei logo. Acompanhei a montagem de perto e vi o valor do processo: uma “lipo” aqui, um corte ali, e fui achando o ritmo com a Diana Vasconcellos. Tenho uma qualidade – sei delegar e aprendo muito com isso.
O filme fala do cruzamento das vidas de pessoas muito diferentes - uma dona de casa entediada, uma dondoca deslumbrada, um garoto de programa, uma menininha que quer vencer na vida, uma psicanalista e seus problemas com a filha. Como você define o filme e qual o papel do humor na história?
Defino o filme como uma comédia de costumes, que é o que eu faço. Há sempre várias possibilidades de leitura - quem quiser, pode ver uma comédia e levar na brincadeira, mas se quiser ir além, encontrará outros aspectos e se emocionará. O filme fala da vida de todos nós - um momento a gente está rindo, no outro está aos prantos. Eu não faço piada - eu olho para as pessoas e vejo o quanto elas são risíveis. Eu falo com todo mundo e todo mundo fala comigo. Talvez por ter feito tantos anos o "Vídeo Show" as pessoas se sentem próximas a mim, principalmente as mulheres, que me contam coisas de sua intimidade. A personagem da Dulce (Stella Miranda) eu conheci durante os ensaios de "A Menina e o Vento". Um dia, cheguei ao Teatro Clara e me deparei com um encontro de voluntários de atendimento a suicidas. Uma das voluntárias me contou a história dela com a filha, e que está no filme. Ao longo da vida, conheci várias meninas puras como Melanie e muitas Vanessinhas na porta da Globo à espera do sucesso.
O filme fala também do poder da arte como elemento de transformação: afinal, tudo começa quando Magali vai ao teatro...
Além de comédia de costumes, "Polaróides Urbanas" também pode ser visto como o delírio de duas mulheres - da atriz Lise que vê Magali na platéia, e da Magali que vê Lise no palco. Nessa relação, enquanto Lise conta quantas pessoas existem entre ela e Magali, Antígona vai para o espaço e passa-se a contar a história dos anônimos. O filme é também um elogio à liberdade de ver do espectador – ele vê o que ele quer, tanto que uma das frases do trailer é “da próxima vez que você for ao teatro, cuidado - você vai entrar no cinema”.
Como autor e diretor de teatro e TV e ator multimídia ao longo de 30 anos Miguel Falabella (foto de Fernando F. Godoy) transformou-se em inquestionável referência cultural do país como marca de profissionalismo, talento, ousadia e humor. Sua atuação no teatro como diretor/produtor/autor/ator soma mais de 40 títulos. Entre os de maior sucesso destacam-se "Louro, Alto, Solteiro Procura" (monólogo), "Finalmente Juntos e Finalmente ao Vivo" (ao lado de Guilherme Karam), "Monólogos da Vagina" (direção), "South American Way" (texto e direção), "Império" (texto e direção). Sem esquecer "Como Encher um Biquini Selvagem", que estreou em 1992 com Cláudia Jimenez, e permaneceu cinco anos em cartaz, atraindo mais de um milhão de espectadores. Entre seus prêmios no teatro estão um Molière pela estréia na direção com "Emily", em 1984, peça que lhe rendeu também um Mambembe de diretor revelação, e o Molière de melhor autor por "A Partilha" (1991). Teve peças montadas em Portugal e na Argentina.
Atuou em vários filmes, entre eles "Cleópatra", de Julio Bressane, "Redentor", de Cláudio Torres, "Beijo 2348/72", de Walter Rogério, "O Beijo da Mulher Aranha", de Hector Babenco, e "A Dama do Cine Shangai", de Guilherme de Almeida Prado.
Na TV Globo, foi autor, com Maria Carmem Barbosa, das novelas "Salsa e Merengue" e "A Lua Me Disse". Além de atuar em várias novelas, ficou 15 anos à frente do programa "VideoShow" e integrou o programa de humor "Sai de Baixo".
Criador incansável e versátil, pode-se dizer que Miguel Falabella já passou por todos os gêneros, formatos e veículos. Faltava a direção cinematográfica, lacuna finalmente preenchida com "Polaróides Urbanas", filme que se alimenta do mesmo material de suas melhores criações: personagens do cotidiano com suas mazelas, sonhos e esperanças retratadas com uma incomparável mescla de drama e humor.
A entrevista que se segue foi disponiblizada para o Blog Demais pela distribuidora Buena Vista International.
Dirigir um filme era um sonho antigo?
Certamente. Eu não ia ao teatro durante a infância. Foi apenas a partir dos 10, 12 anos que passei a ser levado pela minha avó para assistir a musicais importados como "Hello Dolly" e "My Fair Lady". Cresci na Ilha do Governador dos anos 60, quase uma aldeia na época, e ao lado da minha casa ficava o Cinema Itamar, cujo hall era cheio de fotos de estrelas francesas, como Mylène Demongeot, Michèle Morgan, Danielle Darrieux. Cinema foi sem dúvida minha primeira grande paixão. Eu sempre tive vontade de dirigir, e quando comecei a pensar no meu primeiro filme, me decidi pela adaptação de "Como Encher um Biquíni Selvagem", mas me perguntava se saberia contar essa história que eu levei no teatro com apenas uma atriz, sem cenários, sem coadjuvantes, e apenas um figurino.
E a que se deve a demora da estréia como diretor de cinema?
Eu sempre soube que iria dirigir, mas as condições favoráveis demoraram a aparecer. Uma delas referia-se à questão autoral. Para mim, o que vale em cinema é a visão autoral - sem ela você não é nada. Eu sou muito autoral e nunca torci ou forcei texto algum em busca do público - graças a Deus o público gosta do que eu gosto. Minhas comédias são engraçadas porque eu sou engraçado na vida. Sem forçar a barra. Demorei também porque o teatro e a TV sempre absorveram muito - não tenho tempo livre. Agora, na maturidade, achei que era o tempo certo. E eu não quis queimar etapas. Quis estrear com um texto lá de trás, quando sonhei em dirigir meu primeiro filme.
E como foi adaptar um monólogo para um roteiro com mais de 20 personagens?
Eu já considerava a peça muito cinematográfica e não tive grandes problemas. Sempre fui obcecado por trabalho. Desenvolvo várias idéias ao mesmo tempo e tenho o hábito de escrever e guardar. Ao longo dos anos, fui elaborando o roteiro. Uma hora, o projeto fica pronto. Muitas pessoas se espantaram quando viram Império, com tantas músicas e personagens, mas na verdade a peça já estava pronta há muito tempo. O roteiro de "Polaróides Urbanas" não ficou pronto na véspera de filmar - ele já estava pronto há muito tempo assim como vários outros projetos que estão à espera do melhor momento de sair da gaveta. No caso do filme, o momento surgiu com as condições de produção da L.C. Barreto.
Você é um bem-sucedido autor, ator e diretor de teatro e TV, além de experiente ator de cinema. Como foi a passagem para trás das câmeras? Você dominava a técnica cinematográfica?
A trama estava pronta mas a narrativa para cinema é muito diferente de uma peça de teatro. Talvez o maior desafio desta passagem tenha sido o de filmar em 26 dias - uma história com muitos personagens e locações. O filme foi muito bem preparado - e após o nervosismo inicial, acho que tudo fluiu muito bem. Desde que pensei em filmar "Polaróides Urbanas", comecei a trabalhar as imagens que eu tinha na cabeça. Por minha conta, sem nenhuma produção à vista, chamei um desenhista e começamos a desenvolver a parte visual. Esse material constituiu um bom ponto de partida.
Você sabia que filme queria fazer?
Eu sabia muito bem como queria ver a história que eu queria contar - afinal essa idéia rola na minha cabeça há muitos anos. Para isso, eu queria uma equipe não só com colegas mas com “brothers”. Nesse sentido, Gustavo Hadba, diretor de fotografia super-talentoso foi mais que um irmão. Em uma de nossas primeiras reuniões avisei que detestava cena “lambida’, sem profundidade. Eu não queria um visual de TV, que adoro, mas é outra coisa. Um dos meus prazeres no cinema é justamente descobrir as várias camadas de imagem. Sou um diretor prático e objetivo e tive ótimas relações com a equipe - Cláudio Amaral Peixoto (diretor de arte), Marcelo Pies (figurinos) e Anne Pinheiro Guimarães (diretora assistente), e com os produtores Paula e Bruno Barreto. Consegui criar um ambiente muito especial no set. com uma equipe que só queria me agradar e me chamava de lourinho encantador. Foram 26 dias de uma relação muito gostosa. E para mim, um grande exercício.
Como se deu a escolha de Marília Pêra para interpretar as gêmeas Magali/Magda?
A princípio, Cláudia Jimenez repetiria o papel que fez no teatro, mas 20 dias antes do início das filmagens ela desistiu - disse que não se sentiria bem vendo outros atores desempenhando os papéis que ela fazia no palco. Tudo bem, aceitei. Eu não bato de frente. Rancor é a pior coisa do mundo. Cláudia é uma super atriz e já estou escrevendo um monólogo para ela, "Tsunami: O Que Sobrou das Árvores". Quando ela desistiu, eu precisava de uma atriz excepcional que pegasse o papel rapidamente e atuasse em dois registros diferentes - o de uma dona de casa entediada e o de uma dondoca que viaja o mundo sem conhecer nada do que vê. Nunca contracenamos, mas Marília Pêra foi a minha primeira diretora no teatro profissional ao lado de Maria Padilha, em 1978, com a peça "A Menina e o Vento", de Maria Clara Machado,
E quanto ao resto do elenco?
Como o filme é um projeto antigo eu já tinha pensado em vários atores. De um modo geral, gosto de trabalhar com a minha galera, ou seja, atores que já conheço e sei que eles me entendem. Sei quando o ator sabe dizer o texto e não gosto de ator que não cai do salto alto. Aliás, sempre gostei mesmo foi de ator coadjuvante. Vários papéis já estavam decididos: Natália do Vale seria a psicanalista - ela é tão blasé, distante, cheia de problemas com a filha Melanie (em homenagem à psicanalista Melanie Klein). Eu só via Arlete Salles no papel da atriz Lise Delamare, Neusa Borges como Crioula, Juliana Baroni, como Vanessa, a menininha que faz tudo para subir na vida, e Otávio Augusto como o marido neurótico que não tira o carro da garagem. Eu já tinha trabalhado com todos eles. Fiz testes com Alexandre Slaviero que interpreta Arnaldo, o menino bonitinho mas chato, com Nicolas Trevijano que interpreta o garoto de programa Mike e com Ana Roberta Gualda (Melanie). Eu também queria colocar pessoas de que gosto, como Berta Loran, Jaqueline Laurence, Ingrid Guimarães.
Como você trabalhou com tantos personagens?
Ensaiei bastante por grupos durante um mês, um processo que adorei. Tinha experimentado esse método durante as filmagens de "Redentor", de Cláudio Torres e vi que funcionava. Sei o que quero do ator e sei como isso é importante. Já me senti perdido na expectativa de uma definição do diretor. O ator trabalha muito melhor quando tem uma mão que o guia. Consegui um clima de intimidade com todos os atores - rapidamente achamos um código de atuação que penso foi bastante eficiente e prazeroso.
Como foi falar “ação” pela primeira vez?
Nunca falei - só falei “corta”. Anne Pinheiro Guimarães foi uma diretora assistente excepcional, super-concentrada que botava ordem no set. Era ela que falava “ação”. Filmamos em estúdio e em muitas locações e me surpreendi com a minha rapidez. No início, tive uma certa dificuldade em encontrar o ritmo, mas peguei logo. Acompanhei a montagem de perto e vi o valor do processo: uma “lipo” aqui, um corte ali, e fui achando o ritmo com a Diana Vasconcellos. Tenho uma qualidade – sei delegar e aprendo muito com isso.
O filme fala do cruzamento das vidas de pessoas muito diferentes - uma dona de casa entediada, uma dondoca deslumbrada, um garoto de programa, uma menininha que quer vencer na vida, uma psicanalista e seus problemas com a filha. Como você define o filme e qual o papel do humor na história?
Defino o filme como uma comédia de costumes, que é o que eu faço. Há sempre várias possibilidades de leitura - quem quiser, pode ver uma comédia e levar na brincadeira, mas se quiser ir além, encontrará outros aspectos e se emocionará. O filme fala da vida de todos nós - um momento a gente está rindo, no outro está aos prantos. Eu não faço piada - eu olho para as pessoas e vejo o quanto elas são risíveis. Eu falo com todo mundo e todo mundo fala comigo. Talvez por ter feito tantos anos o "Vídeo Show" as pessoas se sentem próximas a mim, principalmente as mulheres, que me contam coisas de sua intimidade. A personagem da Dulce (Stella Miranda) eu conheci durante os ensaios de "A Menina e o Vento". Um dia, cheguei ao Teatro Clara e me deparei com um encontro de voluntários de atendimento a suicidas. Uma das voluntárias me contou a história dela com a filha, e que está no filme. Ao longo da vida, conheci várias meninas puras como Melanie e muitas Vanessinhas na porta da Globo à espera do sucesso.
O filme fala também do poder da arte como elemento de transformação: afinal, tudo começa quando Magali vai ao teatro...
Além de comédia de costumes, "Polaróides Urbanas" também pode ser visto como o delírio de duas mulheres - da atriz Lise que vê Magali na platéia, e da Magali que vê Lise no palco. Nessa relação, enquanto Lise conta quantas pessoas existem entre ela e Magali, Antígona vai para o espaço e passa-se a contar a história dos anônimos. O filme é também um elogio à liberdade de ver do espectador – ele vê o que ele quer, tanto que uma das frases do trailer é “da próxima vez que você for ao teatro, cuidado - você vai entrar no cinema”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário