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segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Kit falta de vergonha

Por Percival PUggina, em 28 de janeiro, no site "Mídia Sem Máscara" (www,midiasemmascara.com.br):
“Vai transar? O governo dá camisinha. Já transou? O governo dá pílula. Engravidou? O governo dá o aborto. Teve filho? O governo dá o Bolsa Família. Tá desempregado? O governo dá Bolsa Desemprego. Vai prestar vestibular? O governo dá o Bolsa Cota. Não tem terra? O governo dá o Bolsa Invasão e ainda te aposenta. É um circulo vicioso manejando a manada. Eeeh..oh..oh.. vida de gado... povo marcado... povo feliz”
(Autor desconhecido).

E eu acrescento: Perdeu a vergonha? Não procure no governo que ele não tem.Em certo escritório, dois colegas foram assistir uma apresentação de dança. Um deles só aceitou o programa porque o amigo o presenteou com o ingresso, constrangendo-o, assim, a comparecer. Quando o espetáculo terminou, o colega admirador da arte indagou: “E então, gostaste?” Ao que o outro, com franqueza, respondeu: “Uma bela música, um lindo cenário, garotas muito bonitas, bem ensaiadas, mas tu sabes como eu sou - se não transo, não me divirto”.
Lembrei-me disso ao ver as campanhas que promovem o uso de preservativos de borracha durante o Carnaval. No festival de grossura que assola o país, a grande imprensa e o próprio governo parecem decididamente dispostos a transformar o Carnaval numa festa da sexualidade irresponsável.
Sempre houve e sempre haverá quem só se divirta dessa maneira, como o sujeito da anedota, mas felizmente ainda não é isso o que se observa na maioria dos salões e nas ruas, onde a diversão corre por conta da música, do ritmo, da dança, e de muitas outras atividades e prazeres aos quais as pessoas se dedicam em tais circunstâncias. Portanto, a associação que se procura fazer, com cunho oficial, chancela verde-amarela e repercussão mundial, entre Carnaval e libertinagem, é uma forma de estabelecer o desvio como padrão, até que a boa conduta se converta em desvio.
Quando isso acontecer, estará evidenciado o segundo e fatal erro de tais campanhas, pois se há relação entre o avanço da AIDS e a promiscuidade sexual, quanto mais promíscuos houver, maior será a incidência da moléstia que supostamente se deseja combater. No carnaval deste ano, a falta de vergonha oficial alcançou seu ponto máximo. Tendo compreendido, talvez, que a camisinha não é um salvo-conduto perfeito, o governo inclui no kit falta de vergonha uma pílula do dia seguinte (não deveriam ser três?), para facilitar o aborto no caso de fracasso do preservativo.
O autor é arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.

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