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quarta-feira, 5 de setembro de 2018

A História da Rádio Cultura: Silenciada pela ditadura militar


Por Socorro Pitombo
O rádio sempre foi um meio de comunicação muito forte em Feira de Santana, o que explica a existência de várias emissoras, levando informação, cultura e entretenimento à comunidade local e região. Aliás, o brasileiro em geral adora rádio e, segundo pesquisa, em 98% dos domicílios há pelo menos um aparelho embalando sonhos, despertando emoções.
Mesmo com o surgimento da TV, nos idos de 1950, quando todos acreditavam que o rádio iria sucumbir, ao perder grande parte da publicidade, o veículo superou a crise e hoje convive em perfeita sintonia com outras mídias. Desse modo, vai garantindo o seu futuro, seguindo uma trajetória de quase 90 anos de sucesso.
Essa força também esteve presente no passado, quando em Feira de Santana só existiam duas emissoras: a Rádio Sociedade, prefixo ZYH 451, uma iniciativa do comerciante Pedro Matos, e a Rádio Cultura, a ZYN 24, de propriedade dos empresários Oscar e Miriam Marques.
O estopim
Era o ano de 1974 e o general Ernesto Geisel assumia a Presidência da República. O então deputado federal Francisco José Pinto dos Santos subiu à tribuna do Congresso Nacional e fez um veemente pronunciamento sobre a presença do general Augusto Pinochet, presidente do Chile, convidado para a cerimônia de posse.
O discurso de Chico Pinto e a entrevista concedida quatro meses depois, onde reafirmou tudo que disse na Câmara Federal, é o foco do livro "O Processo de Cassação da Rádio Cultura", organizado pelo jornalista Dimas Oliveira. Com 128 páginas, a publicação traz a marca da Fundação Senhor dos Passos, através do Núcleo de Preservação da Memória Feirense Rollie E. Poppino.
O trabalho é resultado de minuciosa pesquisa realizada no Arquivo Nacional, uma seleção das peças do processo de fechamento da rádio feirense, no qual o jornalista se debruçou durante seis meses. A sugestão partiu do professor Carlos Brito, da Fundação Senhor dos Passos. O prefácio é do também jornalista Adilson Simas, conhecedor profundo da história de Feira de Santana e, em particular, do episódio que culminou com a cassação da emissora, pois estava ao lado do radialista Lucílio Bastos, durante a gravação da entrevista.
A fala de Chico Pinto na Câmara Federal durou apenas dois minutos, mas foi o bastante para trazer sérias consequências, tanto para o deputado, que foi processado e condenado a seis meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), como para a rádio, que inicialmente foi retirada do ar por 15 dias.
O assunto repercutiu na imprensa em níveis nacional e internacional, pois o conteúdo do discurso foi considerado pelo governo ofensa a chefe de estado de nação estrangeira em visita ao Brasil. E rendeu ainda a Chico Pinto a perda do mandato. Quanto à radio, também foi penalizada com a cassação.
Numa manhã de terça-feira, mais precisamente em 18 de março de 1975, por ordem do Dentel da Bahia, o diretor Osvaldo Collares Novais veio especialmente a Feira de Santana para cumprir a determinação. Foram retirados os cristais e lacrada toda a aparelhagem da Rádio Cultura, que saía do ar cassada pela ditadura militar.
O livro traz à tona farta documentação, que ficou todo esse tempo como confidencial e secreta, além de recortes de notas em jornais, livros e revistas. É sem dúvida importante documento histórico e, graças à sensibilidade e persistência de Dimas Oliveira, agora está à disposição do público leitor.
A rádio foi reaberta 10 anos depois da cassação, em 26 de julho de 1985, data em que se celebra a padroeira da cidade, Senhora Santana. Em mãos de outro grupo, o de Rádio e Televisão Record, passou a chamar-se Rádio Difusão e Cultura Ltda, mais conhecida como Rádio Cultura, que nem de longe lembra a rádio da rua Geminiano Costa, com seus programas comandados pelos radialistas do porte de Lucílio Bastos, Geraldo Borges, Itaracy Pedra Branca, Raimundo e Dorival Oliveira, entre outros nomes de referência do rádio feirense.
Além de organizador do livro "O Processo de Cassação da Rádio Cultura", Dimas Oliveira é autor de "cinema demais", lançado em 2014, contendo comentários feitos para o jornal "Situação", entre 1967 e 1971. Atualmente escreve sobre cinema nos jornais "NoiteDia", "Folha do Estado’" e "Municípios em Foco". 
Socorro Pitombo é jornalista

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