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sábado, 27 de julho de 2024

Elon Musk e o jornalismo brasileiro de quinta categoria


A reação a Musk revela uma imprensa que, em vez de abrir a janela e descobrir quem diz a verdade, opta por atacar e distorcer declarações para se alinhar a determinadas narrativas. Leonardo Corrêa para o Instituto Mises:

No dia 22 de julho, Elon Musk concedeu entrevista a Jordan Peterson. Em dado momento, Peterson perguntou a Musk sobre uma lei da Califórnia que proíbe as escolas de informarem aos pais se seus filhos pedirem para serem chamados por outros nomes e prenomes no ambiente escolar (especialmente com relação a gênero). Musk disse que avisou ao Governador que tiraria suas empresas do estado se a lei fosse aprovada. A lei foi aprovada e ele prometeu cumprir sua ameaça.
Na sequência, Jordan Peterson indagou sobre a questão de mudança de sexo em crianças. O entrevistador começa dizendo, em suas palavras, que é um crime permitir isso. Ambos prosseguem falando sobre o tema, e dizem que é mutilação e esterilização, invocando, na visão deles, um aspecto maligno. Eles discutem, dentre outras coisas, sobre os limites de decisões diante da idade, por exemplo, para tatuagens. O entrevistado revelou-se bastante preocupado com a questão. Sabendo do que foi relatado sobre Elon Musk na biografia escrita por Walter Isaacson, Peterson, então, perguntou “por que você trata isso como uma questão importante”?
Musk para por um momento, respira, e conta, então, o que aconteceu com sua filha. O trecho da entrevista sobre o tema é curto e todos já devem ter visto nas redes sociais. Mas, em todo caso, é importante contextualizar. Na biografia, a questão da filha transexual de Musk é abordada com uma profundidade significativa. A relação de Musk com sua filha Vivian Jenna Wilson, anteriormente conhecida como Xavier Musk, é descrita como tensa e complicada. Musk, conforme descrito no livro, tentou de várias maneiras se reaproximar de sua filha após sua transição, mas enfrentou dificuldades.
Vivian, que passou por sua transição de gênero e mudou legalmente seu nome, se distanciou de Musk, citando diferenças ideológicas e de valores. Musk expressou tristeza e frustração com a situação, e o livro narra suas tentativas de reconectar-se com ela, incluindo esforços de comunicação e expressões de amor paternal. No entanto, essas tentativas não tiveram sucesso, e a distância entre eles persistiu.
O livro também menciona que a visão política de Musk, especialmente sua postura contra o que ele vê como uma cultura "woke" excessiva, contribuiu para o distanciamento entre ele e sua filha, que adotou visões mais progressistas. Musk sentiu que a influência de instituições educacionais e sociais com uma forte inclinação política contribuiu para afastá-los.
Feito esse contexto, vamos para uma matéria publicada por O Globo no dia seguinte da entrevista. O jornal começa com a seguinte manchete: “Elon Musk solta comentário transfóbico contra filha, após cirurgia de redesignação sexual: 'Meu filho está morto'”. O trecho da entrevista, transcrito pelo jornal carioca, diz o seguinte:
– Eu perdi meu filho, basicamente. Eles chamam isso de 'deadnaming' por um motivo. O motivo pelo qual eles chamam isso de 'deadnaming' é porque seu filho está morto. Meu filho, Xavier, está morto. Morto pelo vírus da mente 'woke'.
Na sequência, a matéria afirma:
O fundador da SpaceX - que ostenta um patrimônio líquido de mais de R$ 1 trilhão - disse que sua missão era erradicar o procedimento de mudança de gênero para crianças após a transição de sua filha.
Vamos por partes. Primeiro, não entendi a homofobia em se criticar ou emitir opinião sobre uma situação – ou melhor, uma experiência de vida – que afastou filha e pai; segundo, ele não disse querer erradicar o procedimento de mudança de gênero. Seu objetivo declarado é erradicar o que ele chama de vírus woke. Assistindo à entrevista, não me pareceu que Musk seja contra a mudança de gênero em adultos informados. O problema, para ele, são as crianças.
Durante a entrevista, Peterson e Musk comentam que a rejeição ao próprio corpo é comum entre adolescentes. Isso ocorre, como se sabe, devido a fatores físicos, emocionais e sociais. As mudanças na puberdade podem causar desconforto, intensificado por comparações com colegas, bullying e críticas. A baixa autoestima, influências familiares negativas e condições de saúde mental também contribuem para a insatisfação corporal. Diante disso, ambos defendem cautela em decisões irreversíveis para crianças, sugerindo tratar a questão sob o prisma da ansiedade e depressão.
Não estou discutindo, aqui, o mérito da questão. Não estou dizendo que se deve ou não permitir a mudança de sexo em uma criança. São questões que, no meu modo de ver, devem ser debatidas na sociedade. O ponto relevante, entretanto, é a manipulação dos fatos e a tentativa de enxovalhar Musk por uma posição ou opinião. O que O Globo fez é tudo menos jornalismo.
Como destacou muito bem Lygia Maria em seu artigo na Folha de São Paulo, do dia 22 de julho do corrente, o jornalismo deve voltar à tradição da checagem dos fatos e da defesa da liberdade de expressão. O caso de Elon Musk e sua filha exemplifica como a distorção e a manipulação da informação podem prejudicar a compreensão pública e fomentar polarizações desnecessárias. A reação a Musk revela uma imprensa que, em vez de abrir a janela e descobrir quem diz a verdade, opta por atacar e distorcer declarações para se alinhar a determinadas narrativas. Esse comportamento mina a credibilidade jornalística e contraria os princípios fundamentais que deveriam guiar a prática jornalística: informar com precisão, imparcialidade e responsabilidade.

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