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domingo, 7 de julho de 2024

Viva a poesia! Viva a leitura!


Em 12 de julho de 2016, há quase oito nos, a escritora Conceição Carvalho lançou seu primeiro livro: "O Tempo Não É de Sabão", uma mini biografia em versos, no Museu de Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira.
"Agora, o professor de Literatura Romildo Alves, escritor, poeta, cordelista, coincidentemente,  festeja a poesia com uma resenha que desperta interesse para releitura do livro muito bem acolhido por amigos e outros leitores", conta a escritora, que compartilha:
"A leitura da vez é um livro de poesia da escritora jacobinense, radicada em Feira de Santana, Conceição Carvalho. Os poemas desse livro dividem espaço com pensamentos de outros escritores e gênios consagrados da humanidade, uns mais outros menos conhecidos, e versam sobre pessoas e fatos que forjaram a história de sua autora: Seu trânsito entre sua terra natal, Feira de Santana, Salvador, e até pelo Velho Mundo.
A ficha técnica de "O tempo Não É de Sabão" traz uma pista interessante para esse curioso título: a informação de que ele é inspirado em um provérbio senegalês. Antes mesmo de saber dessa informação, eu já matutava algumas questões acerca da sua afirmação: E se o tempo não é de sabão, de que matéria o é? E por que compará-lo para depois afastá-lo de uma identificação com o sabão?
É claro que fui buscar alguma pista desse provérbio que inspirou o título do livro. Encontrá-lo já são outros quinhentos. Mas achei um o qual posso traçar um caminho de aproximação com a fonte inspiradora. O provérbio é este:
"Se esperas a manhã, a manhã chegará.
Se não esperas a manhã, a manhã chegará de todo modo".
Por que julgar e apostar na possibilidade de a autora ter se inspirado nele? Primeiro pela contradição que os dizeres do título estabelece com a realidade. O tempo pode não ser de sabão, mas não é isso que se constata nas vivências do eu lírico. Se por um lado o tempo realmente foi materializado, corporeificado em experiências humanas, em carne, osso, suor, lágrima, sangue, casamento, amizade, parto, sonhos etc., soma-se, em favor do sabão, o aspecto escorregadio do tempo, ao qual a poeta, seu eu lírico e cada um de nós não podemos fugir. É justamente essa característica de que o provérbio que encontrei nos remete, a marcha incontida do tempo, sua capacidade de escapar das nossas mãos, dos nossos anseios. Nosso corpo vive, a gente planeja, algumas coisas acontecem, outras ficam no plano das ideias, porque o tempo passou. Dessa relação nossa com o tempo ficam as memórias. Recorremos a elas enquanto podemos, enquanto temos tempo. E se não nos sentimos capazes de guardá-las, como gostaríamos,  podemos escrever algumas, registrar para a posteridade, para a maturidade de um filho, um neto. A poesia de Conceição Carvalho é essa tentativa, bem sucedida, de retirar a "gosma do tempo" e agarrá-lo. De dizer que ele não é de sabão, mas de gente, de vida bem vivida, de trabalho e de amor. O tom saudoso de suas memórias poetizadas, no entanto, é um eco do provérbio senegalês que encontrei, dizendo que as manhãs já chegaram, até as inesperadas.
E assim a gente segue refazendo nas leituras os provérbios do nosso tempo ensaboado, mas não de sabão. Viva a poesia! Viva a leitura!"

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