Por Márcio Coimbra
O Rio de Janeiro vive em estado de falência
completa. Falência das instituições, dos quadros políticos, da sociedade em
geral. É um aperitivo do processo de desconstrução pelo qual passa o Brasil. O
método vai mais além. Inverte princípios, enaltece o crime e a malandragem,
despreza o mérito e subverte valores basilares da constituição de uma sociedade
fraterna, virtuosa e vitoriosa. O caminho trilhado há tempos somente tem um
resultado, este que estamos vivendo, perplexos e aparvalhados.
O governo, ponto central do desequilíbrio, entrega
benesses em troca de apoio para permanecer no poder. Grupos políticos
revezam-se no comando das instituições com o intuito de saquear os cofres
públicos. Mesmo com royalties do petróleo, Pré-Sal, investimentos
internacionais, Olimpíadas e Copa do Mundo, que despejaram caminhões de recursos
no Rio, o poder púbico foi incapaz de entregar reformas educacionais, melhorias
no sistema de saúde, investir em segurança, modelos de organização urbana ou
desburocratizar a máquina governamental para os empreendedores. Nada foi feito
além de obras superfaturadas e maquiagens urbanas para ludibriar os olhos dos
turistas e dos cariocas. Pão e circo.
Apenas entre 2014 e 2016 o Rio de Janeiro recebeu
R$ 235 bilhões em investimentos. Não faltou dinheiro. Faltou competência e
honestidade. O volume de recursos desviados pela organização criminosa chefiada
pelo ex-governador Sergio Cabral deixa evidente que o crime se infiltrou no
Estado. A política fluminense está apodrecida. A Lava Jato, em seu capítulo
carioca, pede o ressarcimento de 2,28 bilhões de reais aos cofres públicos. Até
o momento conseguiu recuperar apenas R$ 451,5 milhões. O volume assusta, mas
certamente é muito maior, pois somente na Operação Fratura Exposta são
investigados desvios de mais de 300 milhões na área da saúde. Enquanto isso, o
governo investe R$ 75 milhões no Carnaval e R$ 74 milhões na segurança pública.
Um escárnio.
O Rio de Janeiro está entre os dez estados mais
violentos no Brasil. Isto nos prova que o problema não se restringe ao seu
perímetro. É um fenômeno sistêmico nacional. Se o objetivo é combater o crime
organizado, as ações devem superar os limites fluminenses, mas tudo indica que
o objetivo é simplesmente combater a desordem e fornecer maior sensação de
segurança. Não está sendo atacado o cerne da questão.
Precisamos repensar o modelo de sociedade que
desejamos para o Brasil. No desmonte dos valores, na degradação moral, na
desconstrução ética. Estas são as bases que faltam atualmente. O brasileiro não
é vítima, mas parte do problema. Já chegou o momento de darmos uma resposta, de
nos perguntarmos que tipo de sociedade desejamos e trabalharmos para que surja
desta reflexão um futuro melhor para nosso país. Do contrário viveremos de
intervenção em intervenção, enxugando gelo, reféns de uma sociedade doente e
políticos desonestos. A verdadeira intervenção que precisamos é de ordem moral
e ética, dentro de valores que construam uma sociedade virtuosa, decente e
honesta para nossas futuras gerações.
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