Comunicado interno do banco destoa do discurso usado até agora
Após a sequência de polêmicas
envolvendo a mostra "Queermuseu", promovida pelo Santander Cultural,
surge um novo capítulo. Sergio Rial, presidente do Santander Brasil, enviou um
comunicado interno para os funcionários do banco falando sobre o cancelamento
da exposição em Porto Alegre.
Ela teve início em 15 de agosto e
deveria ir até 8 de outubro, mas foi encerrada no sábado, 9, após diversos
protestos nas redes sociais de indivíduos e grupos conservadores que não
compactuam com o que foi chamado de "arte".
Embora a grande imprensa tenha dado
créditos a mobilização para o MBL, o fato é que foram diferentes grupos
religiosos que fizeram o maior "barulho" contra o banco, pedindo
inclusive boicote ao Santander por ter promovido obras consideradas
pornográficas, que retratavam órgãos sexuais, zoofilia e mensagens ofensivas a
símbolos cristãos.
Outros fatores que desgastaram a
imagem do banco foi o projeto ter levantado R$ 800 mil de verba pública através
de renúncia fiscal e a previsão que a mostra receberia visitas de escolares,
expondo crianças àquelas imagens.
Na justificativa assinada por Rial, ele afirma no segundo
parágrafo que "as críticas já não se centram, como se viu nas redes
sociais, só na ação de alguns grupos intolerantes e deturpadores da informação,
que desqualificavam a exposição. Os ataques têm enfoque na censura - como não
se via desde a ditadura".
Embora não
cite quem seriam esses grupos, mas quem acompanha o caso sabe que os cristãos
foram os mais enfáticos nas críticas, a ponto de apelidar a instituição de
"Satã-der".
Com um discurso contraditório, o
presidente do banco afirmou que o Santander respeita "de forma
incondicional a comunidade LGBT, os artistas, como também qualquer outra
comunidade que possa se sentir desrespeitada, como muitos grupos
religiosos".
Rial e a instituição que comanda se
contradizem ao falar em respeito a "muitos grupos religiosos" e ao
mesmo tempo patrocinam a deturpação da imagem de Jesus, representado em um dos
quadros como um macaco e o associando a uma divindade pagã em outro.
Ele se queixa dos ataques que
sofreram de "forma intensa" mas não vê ataque aos valores aceitáveis
na sociedade quando expõe imagens de sexo com animais, orgias e incitação à pedofilia.
Obviamente que se trata disso, pois qual outra explicação há para uma obra
chamada "Criança viada: Travesti da Lambada e Deusa das Águas".
Como pode o banco dizer "Somos
uma empresa que valoriza profundamente as organizações religiosas, independente
de credo, mas dentro do ambiente de tolerância". É no mínimo contraditório
ele fazer tal afirmação quando tudo indica o contrário.
O documento em questão foi divulgado
nas redes sociais, o que levantou suspeitas sobre sua veracidade. Mas ao jornal
'Gazeta do Povo', a assessoria de imprensa do Banco confirmou a autenticidade
do documento. Disse ainda que ele "reflete a visão do banco sobre o
episódio".
A conclusão é que internamente o
banco minimiza a fé alheia, enquanto tenta se justificar à sociedade com outro
discurso, como foi visto na nota pública postada página do Santander Cultural
no domingo, 10. Nela, afirmava que decidira fechar a mostra por que havia
entendido que "algumas das obras da exposição Queermuseu desrespeitavam
símbolos, crenças e pessoas".
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