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terça-feira, 28 de março de 2017

Em memória de Carlo Barbosa: "O Questionador do Caos"


Neste 28 de março, 29 anos da morte do artista plástico feirense Carlo Barbosa. Há quase 27 anos, em 20 de junho de 1990, escrevi uma matéria rememorativa após os dois anos de seu falecimento, publicada no jornal "Feira Hoje", cuja página me foi dada pelo jornalista e historiador Adilson Simas.
Avivando a memória com a lembrança de Carlos Barbosa
20.07.1945 - 28.03.1988
Antônio Carlos de Oliveira Barbosa, aliás Carlo Barbosa. Há ainda quem se lembre do artista morto prematuramente há pouco mais de dois anos? Se Carlinhos estivesse entre nós completaria hoje, 20 de julho, 45 anos de idade, mais da metade dedicada a produzir uma obra densa, dramática, até polêmica, onde mostra sua essência de artista que não se deixou envolver por modismos, preferindo utilizar como linguagem a emoção.
Para lembrar o artista e avivar a falta de memória do feirense é que transcrevemos um artigo publicado na revista carioca "Imposto de Renda", em junho do ano passado, denominado "O Questionador do Caos", escrito pela jornalista Antonieta Santos:
"Carlo Barbosa foi um artista coerente com a vida. Em duas décadas de pintura, exercida com sofrimento e resignação, em nenhum momento ele se deixou envolver pelo sucesso rápido e os fascínio do consumismo, e mergulhou a fundo numa arte exercida com determinação. Por isso, sem se rotular ou proferir qualquer engajamento político, ele usou sua força criativa para revelar uma realidade, se tornar uma voz ativa no cotidiano popular, do qual se sentia um representante autêntico.
Na última exposição do artista, uma retrospectiva, que denominou 'Síntese: 20 Anos de Arte', no Museu Regional de Feira de Santana, em julho de 1987, um conjunto harmonioso e coerente, num desempenho quase cronológico, onde mostrou a evolução de sua arte, desde os primeiros passos, ainda em Feira, sua terra natal, até os saltos maiores, no Rio e São Paulo, para onde se transferiu e viveu os anos mais criativos e tormentosos de sua existência. No conjunto, a obra ressalta, desde o primeiro momento, a preocupação com a contemporaneidade e o compromisso com a realidade, fosse ela a religiosidade do povo, a destruição da paisagem natural, o trabalho ou a liberdade de viver.
Essa preocupação ele registrou em depoimento no catálogo de sua exposição comemorativa de 10 anos de pintura, em 1981: 'Numa fase mais recente eu me proponho a documentar, através da pintura e do desenho, aspectos da paisagem urbana: o sistema, o poder econômico que impulsiona o progresso, a arquitetura mal programada apagando a paisagem, a destruição da beleza natural, o problema do espaço físico, o trabalho, o lazer, a religiosidade do povo. O Cristo Redentor surge como um símbolo inevitável no contexto da obra. Sem os detalhes de sua hierática presença, poderia estar falando de qualquer outro lugar. A ideia deste encontro entre a forma e expressão é abrangente quanto aos problemas e coisas da cidade onde resido'. Nessa época ele morava no Rio.
A necessidade de se comunicar, de deixar claro a que veio, o fazia deter-se no que considerava muito importante para o entendimento de sua obra: uma explicação clara. 'Não resta a menor dúvida de que o que pinto é claro, objetivo e fácil de entender. Mas detesto confusões e mal entendidos. É um problema íntimo de expressão. No momento, meu compromisso como artista é o da busca de novas experiências e conclusões, no aprendizado do dia a dia profissional, testando minha capacidade, procurando a solução para cada elemento enfocado'. Esse determinismo foi levado às últimas consequências. Mesmo sabendo que isso implicaria numa resistência do mercado, cada vez mais identificado com tendências e conceitos, aos quais passava distante, totalmente alheio aos modismos. 'O importante é pintar, jogar com as cores e formas, criar uma linguagem pessoal tanto quanto possível, pesquisar sem me prender a conceitos pré-estabelecidos', dizia.
Essa necessidade de independência ele considerava fundamental para sua criação. Mesmo assim, sua arte não parou de crescer e evoluir numa direção que nem ele mesmo sabia dizer para onde ia.
- Acho que caminho para uma abstração infinita, uma coisa que segue em direção ao cosmo, talvez uma transcendência que só a espiritualidade pode explicar. Mas, na essência, sou o artista dos sentimentos e da alma popular, um permanente questionador do caos, dos preconceitos, da discriminação, da violência. Meu universo paira em torno desses problemas e, mesmo que eles caminhem para uma abstração, sempre representam um questionamento das questões do povo."
ACERVO
Desde que o artista morreu o acervo de sua arte - que o crítico Flávio de Aquino, também falecido, já havia definido como uma das mais vigorosas de sua geração - estão sendo organizado pelas suas irmãs Laurice Barboza, que mora no Rio, e Maria da Conceição Barbosa, que reside aqui, ambas artistas plásticas como ele, além de sua mãe, Judith de Oliveira Barbosa, para ser exposto num local, que já existe e até tem nome, a Casa de Arte Ativa Carlo Barbosa, que fica na rua Leonídio Rocha, 174, centro. A casa vai funcionar como uma fundação e pretende eternizar a onra de Carlo Barbosa através de atividades artísticas e culturais e da divulgação dela, que terá ali o espaço e o reconhecimento de sua terra.
A Fundação Carlo Barbosa (FCB) existe desde 2002 e tem proporcionado ações no sentido de inserir a obra do artista no contexto cultural da cidade, por meio de trabalhos como sites, palestras, programas de visitação, exposições, seminários de pesquisa, projetos, oficinas de arte, curso livre de pintura e estudo da obra. Seu objetivo maior é preservar todo acervo do artista, composto de telas, desenhos, fotografias, publicações e documentos. A presidente atual da fundação, Lucy Barbosa, tem desenvolvido um trabalho de grande importância para os feirenses. Maiores informações através do site: http://www.fundacaocarlobarbosa.org/.
"Memórias - Pintores de Feira de Santana"
Uma das grandes ações da Fundação é o projeto "Memórias - Pintores de Feira de Santana", lançado em 28 de novembro de 2007, com um álbum onde constam biografia do patrono da entidade, textos de críticos de arte sobre sua obra e reproduções de telas do artista. O lançamento do primeiro álbum se deu na Galeria Carlo Barbosa, do Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca), da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs).
Em seguida, ainda em 2007, foi lançado álbum sobre o trabalho de Gil Mário. Em 2008, apresentação dos álbuns de Leonice Barbosa e César Romero. Em 2009, a vez do trabalho de Juraci Dórea. Em 13 de dezembro de 2012, lançamento dos álbuns com obras dos artistas Marcus Moraes e Pedro Roberto, no Casarão Fróes da Motta.
Em 1º de novembro de 2013, o desdobramento e amplitude do projeto "Memórias" com o lançamento da revista "Grandes Pintores Feirenses", contendo todos os sete artistas plásticos feirenses retratados.
Para Lucy Barbosa, presidente da Fundação Carlo Barbosa, os álbuns atendem a uma necessidade de resgate sobre as artes plásticas em Feira de Santana. Também tem o viés didático de atingir escolas que desejam conhecer mais sobre artistas feirenses.

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