Por Valentina de Botas
Para quem uma mulher se veste? Para
si mesma, o que inclui os homens e as outras mulheres. Mas evitemos
generalizações: isso não se aplica a todas as mulheres, claro, somente àquelas
que veem alguma graça na vida, que catam uma felicidade mínima aqui, outra ali,
em instantes do cotidiano.
As mulheres e os homens mais
próximos da presidente têm problemas com a lei: Erenice Guerra é investigada na
Zelotes, Lula e Mercadante serão presos, Gim Argello acaba de ser preso, José
Eduardo Cardozo será processado, Fernando Pimentel será cassado e ela
mesma não se sente muito bem com os últimos gestos de Rodrigo Janot que
finalmente descobriu que Eduardo Cunha não é o único nem o mais grave de todos
os gravíssimos casos de polícia debaixo do nariz do procurador-geral.
Entretanto, isso nem é o pior para a governante durona diluída em crimes que vê
pelas costas os partidos governistas se afastando de certo caixão que
carregaram até a beirada da sepultura.
Dentro do ataúde, a mulher grita.
Grita denunciando o vice-presidente por exercer as funções políticas e
institucionais dele; acusando talvez mais de 2/3 dos brasileiros de golpistas
que ela vitimou; queixando-se de um golpe do Congresso obediente ao rito que o
próprio governo encomendou no Supremo Tribunal Federal ao custo de uma
interpretação malandra da Constituição e da fraude ao regimento interno da
Câmara resultando no prolongamento inútil do transe do país.
Ainda se debatendo em delinquências
diárias no interior do esquife, repete, sempre aos gritos a lhe deformar as
feições desgraciosas e os modos democráticos ausentes, que foi eleita-pelo-voto-popular
como se não soubéssemos que só conseguiu isso fazendo o diabo: com fraudes,
extorsão, propinas. E como se o voto que não imunizou Collor quando sofreu
impeachment e que não impediu o PT de pedir o afastamento de Itamar Franco e
FHC, pudesse imunizá-la contra a lei.
A escalada de crimes para preservar
o poder mantém o governo nessa putrefação pública que poderia ser evitada se –
e aqui, creio, reside a desgraça de Dilma Rousseff do ponto de vista pessoal -
um dos homens ou das mulheres próximas da presidente tivesse, não digo
honestidade que já é demais, mas alguma temperança para fazê-la saber que há
limites para a falta de limites. Mas a insanidade mal calculada e a parvoíce
eficiente não a fazem burra: Dilma sabe que sabemos que ela sabe que termina -
domingo no Congresso (detestado pela mulherzinha de alma tirana na crença de
que poderia e mesmo tinha o direito de governar sozinha) e, mais tarde, na
cadeia - a mais sórdida mentira já havida num Brasil que terá visto de tudo
quando os poderosos mentores e patronos dela ainda livres forem para cadeia
porque, ricos ou pobres de origem, não são nem elite nem povo, mas escória.
No próximo domingo, a irascível
czarina da roubalheira vestirá a mortalha do impeachment. Para quem? Será
obrigada legalmente a fazê-lo por e para homens e mulheres indignados num país
destruído que terá dado o primeiro passo para se refazer, ainda zonzo com a
nova ordem que ele mesmo inaugura.
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