Por Hubert Alquéres
Os fatos são os fatos, ou os "hechos son los hechos", como
costumam afirmar os espanhóis. Mas no governo Dilma Rousseff não é bem
assim. Aliás, é inteiramente ao contrário. Os fatos não importam e sim a
versão, galgada à condição de "sua excelência" pela estratégia do lulopetismo
de não largar o osso, de se manter no poder a qualquer custo. Mesmo à custa da
verdade.
Mal iniciamos o ano e tivemos duas pérolas de puro exercício de
retórica, de contorcionismo mental: o artigo lavrado pela douta presidente,
publicado em jornal Folha de S. Paulo, e a entrevista surreal do seu ministro
da Casa Civil, Jaques Wagner.
Se fossem produto apenas da alienação da realidade, já seria
preocupante. Afinal, estamos falando da primeira mandatária do país e do seu
principal operador político, o homem escalado por Lula para tirar o governo da
sinuca de bico em que se meteu.
Mas é algo muito mais grave. É um estratagema no qual Dilma e sua
equipe propositadamente distorcem a realidade, mudam a versão dos fatos
conforme o tempo vai passando, como se este apagasse tudo, inclusive a memória
de um povo.
Não inventaram a roda, claro. Lula já usou deste expediente na
época do mensalão. Primeiro foi à TV para se dizer indignado, traído por alguns
companheiros. Depois reduziu o episódio a uma questão de Caixa 2, a "recursos
não contabilizados", para usar uma expressão do então tesoureiro do PT, Delúbio
Soares. Quando se sentiu fortalecido, alardeou que tudo não passou de uma
conspiração das elites e da mídia golpista.
Incrível a semelhança com os dias atuais.
Em seu artigo a presidente foi pela mesma linha, ao
responsabilizar a oposição pela crise política que nasceu, cresceu e se
realimenta no próprio Palácio do Planalto. A mesma ladainha foi recitada por
seu chefe da Casa Civil: "... O erro para mim é muito mais da oposição, que fez
uma agenda do tapetão".
De forma homeopática, o governo vem alterando seu discurso no
sentido de torná-lo mais verossímil aos brasileiros. Afinal de contas, alguma
satisfação há que ser dada para tanto desemprego, tanta queda do PIB e
inflação. Isso sem falar da mega corrupção na Petrobrás.
Aquela versão da carochinha da campanha eleitoral, quando a
candidata vendeu terreno na lua enquanto praticamente quebrava o país, não se
sustentou uma semana após a apuração das urnas. A presidente, de forma
envergonhada, teve de admitir a existência da crise econômica. Mas fez de conta
que nada tinha a ver com isso, atribuindo tudo aos EUA, à União Europeia e a
China.
Não colou. A água bateu no pescoço. Os feiticeiros palacianos
inventaram então uma nova versão, a mais recente. Por meio de platitudes e
generalidades, Dilma reconheceu genericamente que houve erros e acertos em seu
governo. Quais? Mistério...
De fato, é difícil decifrar a linguagem hermética do ministro da
Casa Civil, quando se vê na contingência de abordar tema tão espinhoso: "a
impopularidade de Dilma é consequência de que a gente teve que consertar
medidas tomadas em 2013 e 2014, que tiveram seu lado positivo e, como tudo na
vida, também consequências negativas".
Em matéria de eufemismo, Jaques Wagner superou sua superiora. Se
Dilma contornava o vocabulário chamando corrupção de malfeitos, seu operador
inovou ao chamar de notícia "não boa" a inflação, os juros altos.
Impressionante a ginástica mental para reconhecer que a "foto do final do ano
não é boa".
E tudo isto para empurrar a responsabilidade pela crise nas costas
de Guido Mantega, ministro da Fazenda em 2013 e 2014, e do mais recente "renegado", o ex-ministro Joaquim Levy.
Lula, Dilma e companhia apostam na premissa de que política é a
arte do embuste. Insistem na prática quotidiana do engodo. Até quando?
Fonte: "Blog do Noblat"
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