Por Sergio Oliveira
Demétrio Magnoli na "Folha de São Paulo", edição de 22.11.2014, escreveu:
De repente, como um raio no céu claro, o governo foi tomado por extraordinário interesse pela corrupção - no passado. Na Austrália, Dilma Rousseff ensaiou "listar uma quantidade imensa de escândalos no Brasil que não foram investigados". A historiadora amadora, porém, só fingia falar sobre o passado:
De repente, como um raio no céu claro, o governo foi tomado por extraordinário interesse pela corrupção - no passado. Na Austrália, Dilma Rousseff ensaiou "listar uma quantidade imensa de escândalos no Brasil que não foram investigados". A historiadora amadora, porém, só fingia falar sobre o passado:
"Talvez esses escândalos que não foram
investigados sejam responsáveis pelo que aconteceu na Petrobras". Ah,
sim!, trata-se, então, do presente.
Governantes deveriam exercitar a prudência ao
especular sobre corrupção em governos anteriores. Se têm conhecimento de
denúncias fundamentadas, a lei os obriga a deflagrar uma investigação policial
e judiciária. Se não o fazem, a fim de manipular halos de suspeita em seu
benefício político, incorrem no crime de prevaricação. Os áulicos, por outro
lado, não sendo autoridades, podem especular alegremente. Nesses dias de Lava
Jato, é fácil identificá-los por seus frêmitos de indignação moral com a
corrupção pregressa.
O passado que preferem é o recente: o governo FHC. Do nada,
adoradores do estatismo começaram a honrar a memória do incauto Paulo Francis
privatista de 1996, submetido a processo intimidador depois de afirmar que
"os diretores da Petrobras" constituíam "a maior quadrilha que
já atuou no Brasil".
Mas, num tour de force, os neo-historiadores da corrupção já
se aventuram em tempos anteriores, reavivando a memória da ditadura militar,
que converteu em potências a Odebrecht, a Camargo Corrêa, a Mendes Júnior e a
Queiroz Galvão, além de servir de berço para a OAS e a UTC. Logo, sua ira santa
nos conduzirá ao estouro da bolha do Encilhamento, sob Deodoro da Fonseca, e às
aquisições de escravos traficados ilegalmente por Paulino José de Souza, então
ministro do Exterior, no Segundo Reinado.
O foco nos "500 anos de corrupção" não se destina
a recordar que a corrupção nasceu antes de 2003, pois o óbvio dispensa
explicação. A finalidade é entorpecer-nos, normalizando o escândalo em curso.
Eles almejam dissolver a corrupção investigada na corrupção falada e o presente
singular (a colonização partidária da Petrobras) no genérico histórico (a
captura do poder público por interesses privados). Somos assim, sempre fomos,
sussurram, inoculando-nos o soro da letargia, enquanto o ministro da Justiça
critica a "politização" do escândalo (não a da Petrobras!).
A corrupção mora na índole do povo brasileiro: "Cada um
de nós tem um dedão na lama", assegura um célebre empresário, enquanto a
presidente antecipa que pretende violar a lei sobre declaração de inidoneidade
("A gente não vai colocar um carimbo na empresa").
Não há lei que puna a corrupção da linguagem. Nos tempos
bons, o lulopetismo anuncia-se como o Ato Inaugural: "Nunca antes na
história deste país". Nos tempos ruins, exibe-se como vítima da tradição:
"Nunca foi diferente na história deste país". Mas a contradição
sempre tem o potencial para se superar como dialética.
Na Austrália, Dilma se esqueceu do tão recente
"mensalão" para rotular o "petrolão" como o "primeiro
escândalo da nossa história que é investigado". Os áulicos já a seguem
(afinal, é para isso que existem), saudando o Ano Zero da guerra à corrupção.
"Dilma agora lidera a todos nós", anuncia o
empresário dos dedos sujos de lama - que, casualmente, tem como maior cliente a
estatal Correios. A narrativa do Ano Zero descortina possibilidades ilimitadas.
Dilma "não sabia de nada"? Esqueça.
Nos 12 anos em que dirigiu a Petrobras diretamente (como
presidente do Conselho de Administração) ou indiretamente (como ministra e
presidente da República), os partidos da "base aliada" privatizaram a
estatal, desviando dezenas de bilhões de reais. Não é que a Líder dos Imundos
"não sabia". Sabia - mas, sábia, deixou a operação se alastrar para,
no Ano Zero, pegar todos os bandidos juntos.
Ah, bom!
COMENTO: Quem é o empresário que disse "cada um
de nós tem um dedão na lama”, e que é o maior cliente da estatal Correios?
Ricardo Semler, sim ele mesmo, aquele que se diz tucano, com
ficha abonada por Fernando Henrique Cardoso, autor do artigo "Nunca se roubou
tão pouco", que os petistas estão divulgando orgasmicamente.
Escreveu ele no seu texto: "A coisa não para na Petrobrás. Há dezenas de outras estatais
com esqueletos parecidos no armário. É raro ganhar uma concessão ou construir
uma estrada sem os tentáculos sórdidos das empresas bandidas."
Será que no armário dos
Correios há algum esqueleto envolvendo a empresa de Ricardo Semler, a Semco?
No governo FHC um dos
presidentes da Petrobrás foi Philippe
Reischstul (1999/2001), que, atualmente, é sócio de Ricardo Semler na Semco
Partners.
Sergio Oliveira, aposentado, é de Charqueadas-RS
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