Por Reinaldo Azevedo
Já lembrei isto à presidente Dilma Rousseff uma vez e o faço de
novo: "Quos volunt di perdere, dementant prius" - "Os deuses primeiro
enlouquecem aqueles a quem querem destruir". A citação com todos os termos no
singular é mais conhecida: "Quem vult deus perdere dementat prius" - "Deus
primeiro enlouquece aquele a quem quer destruir".
A presidente Dilma Rousseff e Michel Temer, seu vice, foram
diplomados nesta quinta-feira pelo Tribunal Superior Eleitoral. Dilma se
esqueceu de que recebia ali o documento que lhe permite tomar posse do segundo
mandato e resolveu pensar como uma socióloga nefelibata, do tipo que anda com a
cabeça nas nuvens e os pés também. A governanta decidiu se referir à
roubalheira na Petrobras e, ora vejam!, dividir as suas culpas conosco. Na
verdade, tudo bem pensado, foi ainda mais grave: a presidente nos tomou a todos
como corruptos - os brasileiros no geral.
Ao falar sobre o que é preciso para coibir a ladroagem na estatal,
disse: "É preciso uma nova consciência, uma nova cultura, fundada em valores
éticos profundos. Ela tem de nascer dentro da cada lar, dentro de cada escola,
dentro da alma de cada cidadão e ir ganhando de forma absoluta as
instituições".
Com a devida vênia, a presidente enlouqueceu. Retiro. Esse
discurso não tem nem pé nem cabeça nas nuvens. Tem é os dois pés no chão e as
duas mãos também. Quer dizer que há fatores, digamos, antropológicos e
socioculturais que explicam os desvios praticados por diretores nomeados pelo
PT e uma corja de políticos? Dilma está a dizer que o país todo é corrupto e
que o que se praticava na Petrobras é a nossa rotina.
É mesmo? Quem nomeou Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Nestor
Cerveró? Foi o cidadão comum, o estudante, a dona de casa, eu, você? A
propósito: eles foram nomeados por quê? E aqui cumpre lembrar como esta senhora
pretende mudar a cultura brasileira: ela vai dar uma vice-presidência do Banco
do Brasil a Anthony Garotinho, candidato derrotado ao governo do Rio pelo PR e
com uma extensa, como direi?, ficha na Justiça. O que ele entende do assunto?
Por que vai assumir o posto? É a sua especialidade que o conduzirá ao cargo?
A presidente investiu ainda no nacionalismo tosco: "Alguns
funcionários da Petrobras, empresa que tem sido e vai continuar sendo o nosso
ícone de eficiência, brasilidade e superação, foram atingidos no processo de combate
à corrupção. Estamos enfrentando essa situação com destemor e vamos converter a
renovação da Petrobras em energia transformadora do nosso país. Temos de punir
as pessoas, não destruir as empresas. Temos de saber punir o crime, não
prejudicar o país ou sua economia".
É mesmo? Fale com o mercado, minha senhora! Fale com os
investidores. Converse com os acionistas que foram lesados dentro e fora do
país. Infelizmente para nós, é mentira que a Petrobras seja um exemplo de
eficiência. Ao contrário: a empresa não consegue nem fechar o seu balanço e
está virando pó. Infelizmente para nós, é mentira que o que se deu lá seja uma
exceção. O que se fez por lá é método.
O presidente do TSE, Dias Toffoli, também discursou. Afirmou: "Não
haverá terceiro turno na Justiça Eleitoral. Que os especuladores se calem. Já
conversei com a Corte, e é esta a posição inclusive do nosso corregedor-geral
eleitoral. Não há espaço para terceiro turno que possa vir a cassar o voto
destes 54,5 milhões de eleitores".
Certo. Vamos explicar. Não haverá terceiro turno porque não há
terceiro turno previsto em lei, certo? Quanto ao mais, diga-se o óbvio: se
aparecer algum crime eleitoral que venha a ensejar a perda de mandato,
reivindicá-la, deve concordar o ministro Toffoli, não é "terceiro turno", mas
exercício do Estado de Direito. Se o crime aparecer, cassar o mandato é não é "terceiro turno", mas exercício do Estado de Direito. De resto, a sombra que se
projeta sobre o mandato de Dilma não está na esfera eleitoral, mas criminal. A
propósito, doutor Toffoli: quando a Câmara dos Deputados aceitou a denúncia
contra Fernando Collor por crime de responsabilidade, aquilo foi terceiro turno
ou cumprimento da lei e da Constituição?
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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