Por Augusto Nunes
Em nações adultas,
ministros de Estado são escolhidos pelo currículo. No Brasil das molecagens
bilionárias, algemado pelo primitivismo do PT, Dilma Rousseff resolveu
basear-se no prontuário dos pretendentes para remontar o primeiro escalão.
Anotações antigas não contam (da mesma forma que evidências veementes de
inépcia). Como informou nesta terça-feira o site de VEJA, o único exame
eliminatório se limita a avaliar os barulhos e estragos que podem ser causados
pela incorporação à ficha policial de novas delinquências, principalmente se
vinculadas ao oceano de bandalheiras envolvendo a Petrobras.
O deputado federal Henrique
Alves, por exemplo, era um nome certo na lista dos novos ministros. Deixou de
sê-lo pela certeza de que logo estará exposto na vitrine do Petrolão. Dilma
insiste em manter nos cargos os pecadores de estimação que já estavam por perto
quando o escândalo explodiu - teimosia que explica a sobrevivência de Graça
Foster. Mas não quer ampliar a procissão de problemas com a nomeação de figuras
que, antes da primeira linha do discurso de posse, estarão depondo no
noticiário político-policial.
A desastrada tentativa de instituir
o critério do prontuário assombrou um país que já não se espanta com nada. Não
seria outra invencionice da oposição essa história de que a presidente pediu
socorro ao procurador-geral para não elevar mais um pouco a taxa de
criminalidade do Poder Executivo? Não seria outra molecagem da elite golpista
espalhar que Rodrigo Janot rechaçara a maluquice trilegal? Como acreditar que o
emissário designado pelo Planalto fora capaz de murmurar que, nesse caso, a
chefe se contentaria com uma relação dos réus iminentes, desacompanhada dos
delitos atribuídos a cada um?
Pois foi tudo verdade,
confessou no começo da tarde José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça e
estafeta de Dilma. "Fiz ao Janot a ponderação de que gostaríamos de informações
sobre nomes que comporiam a nossa equipe independentemente de qualquer
detalhamento", declamou ao som da lira do delírio. "Mas ele ponderou que não
poderia fornecer qualquer tipo de informação a respeito da Operação Lava Jato
uma vez que essa questão está sob segredo de Justiça".
Quer dizer: o titular do
Ministério ao qual está subordinada a Polícia Federal andou caçando informações
que talvez reduzissem a multidão de colegas criminosos. E fez isso por
determinação da presidente que, há poucos dias, teve outro chilique ao saber do
conselho muito sensato que o procurador-geral lhe dera publicamente: demitir
imediatamente a diretoria da estatal, começando pela amiga que chama de
Graciosa.
Esse monumento ao
surrealismo foi implodido pela mordacidade de Aécio Neves e pela franqueza
de Joaquim Barbosa. "Antes de terceirizar a responsabilidade por seu
ministério, Dilma deveria acatar o procurador e trocar já a chefia da
Petrobras", mirou na testa o presidente do PSDB. O relator do julgamento do
mensalão usou o Twitter para pegar no fígado: "Que degradação institucional!
Nossa presidente vai consultar órgão de persecução criminal antes de nomear um
membro do seu governo!!!".
O lote de novos ministros
anunciado no começo da noite de terça avisou que ou Dilma não conseguiu saber o
que andarem fazendo os convocados ou desistiu de fingir que agora aprecia ter
ao lado gente honesta. A safra de espantos é tão diversificada e surpreendente
que faltou espaço no noticiário para que fosse saudada com tambores e clarins a
entrada em cena, no palco nacional, do promissor representante da segunda
geração da família Barbalho: Hélder, filhote de Jader e Alcione.
O jovem pai-da-pátria
ganhou o Ministério da Pesca e Aquicultura como prêmio de consolação pela
derrota na disputa do governo do Pará. Já aprendeu muita coisa em casa. (O pai
decerto lhe contou, por exemplo, como se faz tanto dinheiro com um ranário). Em
Brasília, convivendo com um Gilberto Kassab ou um Cid Gomes, ouvindo com
atenção os veteranos, o garotão logo estará pronto para demonstrar que até o
mais desdenhado dos ministérios pode ser extraordinariamente lucrativo.
No Brasil, abstraída a
população carcerária, a maior concentração de patifes por metro quadrado está
alojada na Esplanada de Ministérios. Se quisesse mesmo combater a corrupção
cinco estrelas, bastaria que Dilma reunisse o primeiro escalão, estendesse a
convocação aos diretores das estatais e, já na abertura do congresso de 'capivaras', desse voz de prisão aos presentes.
No segundo seguinte, meio
mundo estaria com os dois braços erguidos. O resto já teria saído em desabalada
carreira.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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