Por Reinaldo Azevedo
Estamos chegando ao fim de 2014, ano em que horror e maravilha se
encontram. O horror é de todos conhecido a esta altura. O Estado brasileiro
está sendo assaltado, espoliado, dilapidado.
O Estado, meus caros, reúne tudo e nada ao mesmo tempo: nele estão
as instituições, o ordenamento jurídico, os direitos assegurados, as
expectativas de direito, os valores que nos permitem conviver de forma mais ou
menos harmoniosa etc. Mas, quando falamos em Estado, as pessoas desaparecem,
somem, perdem, como dizia o poeta, a sua carnadura concreta.
Sim, o Estado, numa democracia, nada mais é do que o conjunto dos
interesses dos cidadãos traduzido numa ordem abstrata. Estados existem para
servir aos indivíduos, não o contrário. Ora, mas são tantos os interesses, tão
distintas as inclinações, tão diversas as convicções, tão várias as ideologias,
que cabe a pergunta: "Pode um ente abarcar tamanha largueza?"
A resposta: pode, sim! E tanto mais o fará quanto menos fizer.
Vale dizer: o Estado mais presente é o menos presente. Um Estado gigante deixa
de ser um árbitro para ser uma parte do jogo. E produzirá injustiças em penca.
Precisamos de um Estado mais forte e mais presente na segurança pública, na
educação e na saúde. E precisamos que ela saia com urgência da operação da
economia propriamente dita. Ao fazê-lo, ele deixa de articular as diferenças e
passa ser uma espécie de gendarme em favor de uns poucos privilegiados.
A roubalheira na Petrobras, à diferença do que diz a presidente
Dilma, não é apenas obra de indivíduos, de pessoas. É mais do que isso: a
roubalheira na Petrobras é fruto de um modelo de gestão, de um sistema, de um
modo de entender a coisa pública, como deixou claro o ministro Gilmar
Mendes em entrevista exclusiva ao programa "Os Pingos nos Is", que ancoro na
Jovem Pan.
Não estamos sendo assaltados apenas por uma quadrilha. Estamos
sendo assaltados, também, por farsantes ideológicos - o que significa, então, a
farsa dentro da farsa. Sob o pretexto de produzir justiça social, um bando
destrói o patrimônio brasileiro e compromete o futuro do país. Pior para todos
nós, mas especialmente para os pobres.
Mas eu falei que o ano de 2014 também traz sinais de maravilha.
Percebo um saudável despertar das consciências; noto que é crescente o
inconformismo como esse estado de coisas; meus radares detectam uma
insatisfação saudável com aqueles que se querem donos do nosso destino. Ao mesmo
tempo em que as safadeza da Petrobras nos deixam estarrecidos, elas também nos
informam que, de verdade, donos do nosso destino somos nós mesmos.
A democracia não comporta salvadores da pátria; a democracia não
comporta demiurgos; a democracia não comporta discursos salvacionistas. A cada
dia, mais gente se mostra insatisfeita com esse jogo rasteiro do "nós contra
eles", da política exercida como guerra de todos contra todos, o que, como
vemos, só atende aos interesses de ladrões e vigaristas ideológicos.
Sabem por que a Petrobras se tornou aquele antro? Porque os que
passaram a decidir seus destinos agem como vencedores de uma guerra sem regras.
À moda de tempos idos, de pouco apuro moral e ético, acreditam que a vitória lhes
dá o direito de saquear, de estuprar, de humilhar, de eliminar os
sobreviventes.
A sociedade está aprendendo a reagir e ganha as ruas não para
demonizar pessoas, mas para reivindicar o cumprimento das leis definidas pelo
jogo democrático.
Este blog é parte dessa luta e se orgulha muito disso. Não
serve a este ou àquele, mas pensa e se posiciona sem falsos pudores. Não tem
receio de chamar as coisas e as pessoas pelos seus respectivos nomes. Não
ofende, mas confronta. Não agride, mas diz "não" quando julga ser o caso. Não
concede, mas diz "sim", quando também julga ser o caso. Não trai jamais seus
leitores porque não esconde o que pensa; não se refugia no conforto de uma
posição nem-nem; escolhe sempre um caminho.
E nós seguiremos adiante: com alegria, com determinação, com
destemor - já que a coragem não deve ser tomada como atributo de homens raros.
É só uma obrigação.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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