Por Reinaldo Azevedo
Se
há coisa que a gente aprende com o tempo é que o ridículo não tem limites. O
corpo do ex-presidente João Goulart (1919-1976) foi exumado, como se sabe, para
se investigar se há indícios de que possa ter sido envenenado.
Depois de um ano de investigação, a Polícia Federal põe um ponto
final ao trabalho e conclui que não há indícios de envenenamento. Mas também
não pode, por, digamos, manutenção da dúvida decorosa, negar que tenha havido
envenenamento, uma vez que eventuais substâncias letais podem ter desaparecido
no tempo.
Então ficamos assim: a Comissão da Verdade promove a pantomima, a
PF investiga, não encontra nada - e, porque não encontrou, então a dúvida
continua. Donde se conclui que se procedeu a um exame que só poderia dar um
resultado confiável: positivo. Se dá negativo, é o caso de manter a hipótese
conspiratória.
Jango era um cardiopata grave e estava longe de ser um paciente
disciplinado. O mais provável é que tenha morrido mesmo de infarto. Ocorre que
não se fez autopsia à época, o que colabora para manter acesa a chama da
conspiração.
Leio na Folha o seguinte: "Familiares do presidente dizem que o
resultado não encerra as investigações ainda em aberto no Ministério Público
Federal e na Argentina. Apesar do resultado da perícia, as apurações podem
avançar em outras frentes, com a busca de provas testemunhais do suposto
assassinato. 'Vamos continuar lutando', afirmou João Vicente Goulart, filho de
Jango."
Então tá. Quem sabe as provas testemunhais, não é?, quase 40 anos
depois, possam dar aquela certeza que as provas científicas se negam a
conferir. Ah, tenham paciência!
Olhem aqui, estamos num daqueles casos típicos de um erro lógico
já apontado pela escolástica: "post hoc ergo propter hoc: depois disso; logo,
por causa disso". Ou por outra: já que algo aconteceu depois de um determinado
evento, esse evento passa a ser causa do acontecido. O exemplo clássico é este:
o galo canta, e o dia amanhece. Sim, o dia amanhece depois que o galo canta,
mas não porque o galo canta.
Vamos ver. Havia uma ditadura no Brasil. Juscelino morreu num
acidente de automóvel no dia 22 de agosto de 1976. Jango morreu no coração no
dia 6 de dezembro do mesmo ano, e Carlos Lacerda, no dia 21 de maio de 1977. Em
nove meses, três líderes civis do Brasil pré-golpe se foram, justamente o trio
que formara a "Frente Ampla" contra o regime militar.
Vejam que curioso: dos três, o que teve morte mais surpreendente
foi Lacerda: internou-se num dia na Clínica São Vicente para cuidar de uma
desidratação gerada por um gripe, e estava morto no dia seguinte, vítima de "endocardite bacteriana", que é uma infecção no coração.
Curiosamente, não se levanta a hipótese de que Lacerda também
possa ter sido assassinado. E por que não? "Ah, afinal, ele era um direitista,
né?, uma reacionário!" E os progressistas, sabem como é?, só se preocupam
quando morre um dos seus.
Isso tudo não passa de teoria conspiratória, perda de tempo e
desperdício de dinheiro.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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