Por Marco Antonio Villa
O governo Dilma definha a olhos vistos.
Caminha para um fim melancólico. Os agentes econômicos têm plena consciência de
que não podem esperar nada de novo. Cada declaração do ministro da Fazenda é
recebida com desdém. As previsões são desmentidas semanas depois. Os planos não
passam de ideias ao vento. O governo caiu no descrédito. Os ministérios estão
paralisados. O que se mantém é a rotina administrativa. O governo se arrasta
como um jogador de futebol, em fim de carreira, aos 40 minutos do segundo tempo,
em uma tarde ensolarada.
Apesar do fracasso - e as pífias taxas
de crescimento do PIB estão aí para que não haja nenhum desmentido -, Dilma é
candidata à reeleição. São aquelas coisas que só acontecem no Brasil. Em
qualquer lugar do mundo, após uma pálida gestão, o presidente abdicaria de
concorrer. Não aqui. E, principalmente, tendo no governo a máquina petista que,
hoje, só sobrevive como parasita do Estado.
A permanência no poder é a essência do
projeto petista. Todo o resto é absolutamente secundário. O partido necessita
da estrutura estatal para financeiramente se manter e o mesmo se aplica às suas
lideranças - além dos milhares de assessores.
É nesta conjuntura que o partido tenta
a todo custo manter o mesmo bloco que elegeu Dilma em 2010. E tem fracassado.
Muitos dos companheiros de viagem já sentiram que os ventos estão soprando em
sentido contrário. Estão procurando a oposição para manter o naco de poder que
tiveram nos últimos 12 anos. O desafio para a oposição é como aproveitar esta
divisão sem reproduzir a mesma forma de aliança que sempre condenou.
Como o cenário político foi ficando
desfavorável à permanência do petismo, era mais que esperada a constante
presença de Lula como elemento motivador e agregador para as alianças. Sabe,
como criador, que o fracasso eleitoral da criatura será também o seu. Mas o
sentimento popular de enfado, de cansaço, também o atingiu. O encanto está
sendo quebrado, tanto no Brasil como no exterior. Hoje suas viagens
internacionais não têm mais o apelo do período presidencial. Viaja como lobista
utilizando descaradamente a estrutura governamental e intermediando negócios
nebulosos à custa do Erário.
Se na campanha de 2010 era um
presidente que pretendia eleger o sucessor, quatro anos depois a sua
participação soa estranha, postiça. A tentativa de transferência do carisma
fracassou. Isto explica por que Lula tem de trabalhar ativamente na campanha.
Dilma deve ficar em um plano secundário quando o processo eleitoral
efetivamente começar. Ela não tem o que apresentar. O figurino de faxineira,
combatente da corrupção, foi esquecido. Na história da República, não houve um
quadriênio com tantas acusações de "malfeitos" e desvios bilionários, como o
dela. O figurino de gerentona foi abandonado com a sucessão de "pibinhos". O
que restou? Nada.
Lula está como gosta. É o centro das
atenções. Acredita que pode novamente encarnar o personagem de Dom Sebastião.
Em um país com uma pobre cultura democrática, não deve ser desprezada a sua
participação nas eleições.
A paralisia política tem reflexos
diretos na gestão governamental. As principais obras públicas estão atrasadas.
Boa parte delas, além do atraso, teve majorados seus custos. Em três anos e
meio, Dilma não conseguiu entregar nenhuma obra importante de infraestrutura.
Isto em um país com os conhecidos problemas nesta área e que trazem sérios
prejuízos à economia. Mas quando a ideologia se sobrepõe aos interesses
nacionais não causa estranheza o investimento de US$ 1 bilhão na modernização e
ampliação do porto de Mariel. Ou seja, a ironia da história é que a maior ação
administrativa do governo Dilma não foi no Brasil, mas em Cuba.
Os investimentos de longo prazo foram
caindo, os gastos para o desenvolvimento de educação, ciência e tecnologia são
inferiores às necessidades de um país com as nossas carências. Não há uma área
no governo que tenha cumprido suas metas, se destacado pela eficiência e que o
ministro - alguém lembra o nome de ao menos cinco deles? - tenha se
transformado em referência, positiva, claro, pois negativa não faltam
candidatos.
O irresponsável namoro com o populismo
econômico levou ao abandono das contas públicas, das metas de inflação e ao
desequilíbrio das tarifas públicas. Basta ver o rombo produzido no setor
elétrico. A ação governamental ficou pautada exclusivamente pela manutenção do
PT no poder. As intervenções estatais impuseram uma lógica voluntarista e um
estatismo fora de época. Basta citar as fabulosas injeções de capital - via
Tesouro - para o BNDES e os generosos empréstimos (alguns, quase doações) ao
grande capital. E a dívida pública, que está próxima dos R$ 2,5 trilhões?
No campo externo as opções escolhidas
pelo governo foram as piores possíveis. Mais uma vez foi a ideologia que deu o
tom. Basta citar um exemplo: a opção preferencial pelo Mercosul. Enquanto isso,
o eixo dinâmico da economia mundial está se transferindo para a região
Ásia-Pacífico.
Ainda não sabemos plenamente o
significado para o país desta gestão. Mas quando comparamos os nossos índices
de crescimento do PIB com os dos países emergentes ou nossos vizinhos da
América Latina, o resultado é assustador. É possível estimar que no quadriênio
Dilma a média sequer chegue a 2%. A média dos emergentes é de 5,2%, e da
América Latina, de 3,2%. E o governo Dilma ainda tem mais sete meses pela
frente. Meses de paralisia econômica. Haja agonia.
Fonte: "O Globo"
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