Por
Reinaldo Azevedo
Vamos lá. Escrevi aqui no sábado sobre o fim
do poder petista - ou a morte do PT como o conhecemos: esse partido capaz de
ditar o ritmo dos acontecimentos, que acredita que pode mesmo ser uma força
hegemônica na política, mais ou menos como Gramsci imaginou que seria um
Partido Comunista operando no melhor da sua potência. E sustentei que há duas
hipóteses para a derrocada petista: a otimista: o partido perde as eleições em
outubro próximo, o que espero que aconteça. E a pessimista: Dilma vence a
reeleição, consegue mais um mandato, e o país caminha para uma crise de
proporções razoáveis.
Batia um papo outro
dia com o economista José Roberto Mendonça de Barros, que sabe das coisas e
dispensa apresentações. Ele fez uma analogia que me pareceu pertinente, e eu
lhe avisei que roubaria a sua imagem (rsss). José Roberto afirmou que a
eventual vitória de Dilma lembraria o mandato desastrado - no que concerne à
desordem econômica - do general Figueiredo, nos estertores da ditadura. Ou por
outra: o modelo já tinha feito água por todos os lados; a coalizão política já
era frágil; a sociedade queria outra coisa, mas tivemos de aguentar mais seis
anos de um governo que já nascia moribundo, que tinha os olhos voltados para a
retaguarda, que se dedicava permanentemente ao trabalho de contenção, não de
formulação de políticas públicas com vistas ao futuro.
Ditadura moribunda e
democracia são realidades muito distintas, sei disso. O que me interessa nessa
imagem do economista é destacar a falência de um modelo e o colapso da coalizão
política que o sustentava. O ciclo petista, reitero, chegou ao fim - a questão é
saber se o país se encontra com a rapidez necessária com o novo ou se escolherá
quatro anos de reacionarismo, olhando para trás.
Acabaram-se as
circunstâncias que fizeram a glória da gestão do PT e que permitiram ao partido
formar a maior base de apoio do Ocidente: crescimento acelerado da China, juros
internacionais baixos, demanda interna extremamente aquecida, folga fiscal e
criação de "campeões nacionais" à base de incentivos oficiais. Cada uma dessas
facilidades engendrou um discurso político e permitiu que o governo se
comportasse de forma dadivosa, cevando uma clientela. Nunca foi, que fique
claro, uma modelo de crescimento, mas de administração de oportunidades.
À medida que as
facilidades deixam de existir, e lá vai algo que parece tautológico, mas que
não é, aparecem, então, as dificuldades. O Brasil parou de crescer, e a
sociedade se dá conta de que o PT não tem a pedra filosofal da eterna
felicidade. Num país ainda com tantas carências, o crescimento pífio, com
inflação alta e juros elevados, gera um caldo de descontentamento que cobra,
sim, o seu preço político. E ele se traduz hoje na crescente perda de
sustentação da candidatura Dilma - o que é um dado auspicioso para um país que
precisa mudar.
Há uma conta
interessante a ser feita. Dilma concorria em nome de um governo que tinha quase
90% de aprovação em 2010. Mesmo assim, a diferença de votos em seu favor, na
disputa com José Serra, foi de apenas 12.041.141 (56.05% contra 43,95%).
Prestem atenção a estes dados:
Somadas as diferenças
a favor do PT na Bahia, Pernambuco, Ceará, Minas, Rio e Maranhão, temos
12.654.768 votos - superior ao que a petista teve de votos a mais do que Serra
no total. São Paulo deu a vitória ao tucano, mas por um placar ainda bastante
robusto para o PT. Uma coisa é certa: o partido não conta mais com as
facilidades que tinha nesses estados. Em Pernambuco, Eduardo Campos tende a ter
uma avalanche de votos; Minas penderá para Aécio; na Bahia, os adversários do
PT se juntaram; há um clima anti-Sarney no Maranhão que pode arranhar o
petismo; no Rio, o palanque do partido na disputa presidencial está desestruturado
por excesso de ambição.
Não estou aqui a
dizer que Dilma vai perder a eleição. Não sou pitonisa. Evidencio que a
situação, para ela, é bastante difícil. Restou ao PT, insisto neste ponto, a
campanha de cunho terrorista contra os adversários e dobrar a aposta no "promessismo" - promessas que, de resto, não serão cumpridas porque não haverá
como. O melhor para o Brasil seria a derrota agora, já em 2014. A eventual
reeleição da presidente significará a sobrevivência de um modelo que já morreu
e do qual o PT não sabe sair porque não tem uma coalizão política para tanto.
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
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