Uma pergunta absolutamente
normal e corriqueira de um jornalista do Chile dirigida hoje ao técnico Felipão
e ao capitão da Seleção Brasileira, Thiago Silva, durante entrevista coletiva
em Belo Horizonte provocou uma reação intempestiva e absurda do assessor de
imprensa da CBF, Rodrigo Paiva.
O jornalista queria saber a
reação de Felipão e Thiago à preocupação existente no Chile quanto à
possibilidade de não haver uma arbitragem isenta na partida que o Brasil
disputará amanhã, no Maracanã, contra a seleção chilena, pelas oitavas de
final.
Paiva, encastelado na CBF
há 21 anos, amigão de Ricardo Teixeira - o mesmo Teixeira escorraçado da CBF
sob uma nuvem de denúncias após 23 anos de mando e desmandos, hoje em exílio
milionário na Flórida - que o sucessor, José Maria Marín, manteve no cargo, censurou a resposta e investiu contra o jornalista chileno:
- Esse tema é primitivo e
imaturo - atacou ele. - Soa até ridículo. Não é apenas um desrespeito com a
Fifa, é um desrespeito com a história da seleção brasileira e com o povo
brasileiro. O Brasil não precisa de árbitro para ganhar título e nós não vamos
mais falar sobre isso -, avisou, enquanto Felipão e Thiago permaneciam calados
e imóveis.
Desrespeito "ao povo
brasileiro" como, cara-pálida?
Quando, como e por que esse
camarada acha que pode se arvorar em alguém que fala "pelo povo brasileiro"?
Por acaso estamos na época
infeliz e negra do "Ame-o ou deixe-o"?
Paiva praticamente mandou o
jornalista chileno calar a boca, quando deveria ficar quietinho em seu canto e
deixar que Felipão e Thiago Silva respondessem - até porque perguntar é
obrigação de jornalista e, como se sabe, não ofende.
Além de que o repórter
chileno fez uma pergunta absolutamente pertinente, devido ao peso da camisa
verde-amarela ao qual se soma o fato de o Brasil ser o anfitrião da Copa. Tão
pertinente que basta lembrar o pênalti inexistente em Fred contra a Croácia,
causa do primeiro gol da Seleção na Copa.
A pergunta era mais
pertinente ainda sendo o jornalista do Chile, país onde o Brasil conquistou a
Copa de 1962, sendo bicampeão deixando atrás de si, porém, um rastro de
irregularidades. No terceiro e decisivo jogo da fase de grupos, por exemplo, em
que a Seleção precisaria pelo menos empatar com a Espanha mas, já no segundo
tempo, perdia por 1 a 0, houve um pênalti escandaloso de Nilton Santos no ponta
Collar que o juiz assinalou como falta fora da área.
Na sequência da jogada, a
falta que não foi falta, batida pelo grande Puskas, resultou em gol de Peiró,
que o árbitro anulou até hoje não se sabe por quê. Um 2 a 0 para a Espanha já
passada a metade do segundo tempo seria um problemaço, meio caminho andado para
a eliminação do time do técnico Aymoré Moreia. (A Seleção jogou sem Pelé,
contundido no 0 a 0 anterior contra o Tchecoslováquia.)
Na semifinal contra o
próprio Chile, vencida pelo Brasil por 4 a 2, Garrincha - o principal craque do
time com a ausência de Pelé - foi expulso por falta violenta e, obviamente, não
deveria jogar a final, que seria contra a mesma Tchecoslováquia. Ao Tribunal
Disciplinar da Fifa, o juiz peruano Arturo Yamasaki informou que mandara
Garrincha para o chuveiro por informação do bandeirinha uruguaio Esteban
Marino, já que não vira direito o lance.
A Fifa tentou ouvir Marino,
mas ele havia sumido do Chile. Até hoje não se sabe direito o que ocorreu,
embora haja grandes suspeitas - inclusive porque Marino fez proveitosa carreira
como árbitro, posteriormente, no Brasil.
Então, onde é que está o
desrespeito?
Seria desrespeito "ao povo
argentino" falar do gol de mão de Maradona contra os ingleses na Copa de 1986?
Desrespeito ao povo
brasileiro não é fazer perguntas, tarefa e obrigação de jornalistas.
Desrespeito ao povo
brasileiro são as práticas, hábitos e forma de agir, em nome do Brasil, que a
CBF faz, impunemente, há décadas. Desrespeito é ter tido João Havelange e
Ricardo Teixeira como presidentes. Desrespeito é ter no comando, desde 2012, um
político aposentado de terceira, cria do malufismo e ex-governador biônico de
São Paulo durante alguns meses por imposição da ditadura militar.
Fonte: "Coluna do Ricardo Setti"
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