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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

"A empulhação da bolsa-ditadura"

Por Reinaldo Azevedo
Paulo Abrão, presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, considerou um “retrocesso” a revisão do valor de algumas indenizações pagas a “perseguidos políticos” ou a seus familiares.
É mesmo?
A indenização virou a farra do boi. Há alguns casos realmente fabulosos. O cartunista Ziraldo, que ficou rico com o jornal Pasquim, recebeu R$ 1 milhão a título de pagamento retroativo e tem pensão mensal de R$ 4.375. Por quê? Jaguar, seu amigo e sócio, não ficou tão rico porque, confessadamente, diz ter bebido tudo o que ganhou. A ditadura proibia as pessoas de dizer certas coisas, é verdade. Mas não impunha a ninguém que bebesse a própria fortuna. Millôr Fernandes, que também foi do Pasquim, não pediu indenização e afirma que luta contra a ditadura não era poupança. Na mosca.
A viúva de Carlos Lamarca foi indenizada e recebe uma gorda pensão. O homem era militar, desertou, matou seus pares. A comissão decidiu promovê-lo postumamente - como se tivesse competência pra isso -,antes de decidir o valor da prebenda. Promoção? Para Lamarca? Por que mesmo? Por serviços prestados ao Exército ou à causa comunista? A coisa toda é de um ridículo atroz.
Carlos Heitor Cony, que chegou a redigir um dos editoriais do Correio da Manhã em favor do golpe militar - isso é história - se disse perseguido porque demitido mais tarde. Recebeu pouco mais de R$ 1,4 milhão! E sua pensão mensal era de mais de de R$ 23 mil até outro dia. A quantas anda hoje, não sei. Terá ele aberto mão de tamanha generosidade? Seria o moral. Afinal, pouco depois da demissão, virou uma estrela do Grupo Manchete, com sala decorada com mármore rosa importando sei lá de onde - mas era podre de chique! -, numa revista que não dizia um “a” contra o regime, muito pelo contrário. Sua única veia de contestação, se assim se pode chamar, era uma fotinho de Adolfo Bloch abraçado a Juscelino, que tinha sido importante para a consolidação do grupo. Que eu saiba, Cony foi o mais premiado de todos. Justiça?
Indenização a quem realmente padeceu agruras quando já rendido por agentes do Estado? Compreendo, defendo e sou favorável. Indenização a quem refez plenamente a sua carreira e, em alguns casos, até ficou rico, ainda que por vias oblíquas, com a ditadura? É oportunismo da pior espécie. Indenização a quem pegou em armas (ou seus descendentes) para derrubar o regime, consciente dos riscos que corria, para matar ou morrer - e muitos mataram em vez de morrer? É uma indignidade.
Esse descalabro tem de ser revisto. Entre as indenizações pagas e as já aprovadas, o espeto passa de R$ 4 bilhões. E quem paga não é a ditadura. Quem paga é o povo brasileiro.
PS - Só para lembrar. Lula também recebe a prebenda. A grana passa de R$ 6 mil por mês. Por quê? Porque ficou 30 dias preso no começo dos anos 80 - aquela prisão junto com o “Menino do MEP”… Felizmente, não lhe tocaram num fio de cabelo. No de Lula, quero dizer. Estava construindo o PT, por meio do qual chegaria à Presidência da República, e jamais deixou de receber um mês de salário, pago primeiro pelo sindicato e depois pelo partido. Usou aquele evento para se fazer de mártir, grande militante, representante do povo e, finalmente, presidente.
Agora todo-poderoso, defende os regimes iraniano e cubano, entre outras tiranias, notórios por torturar e matar prisioneiros.
Memória é importante em jornalismo.

2 comentários:

Mariana disse...

Dimas, eu gostaria muito de acreditar que essa safadeza toda que inclui o petralhão, não fôsse esquecida mesmo por nenhum brasileiro, mas o pior de tudo é que a maior parte dos cidadãos nem se importa mais com essas coisas. Lula tem conseguido enganar a tantos com sua conversa mole, tem mudado uma série de valores morais e éticos e o povo o está acompanhando. Êle disse que sarney é bom, que Collor é um grande político,...e ficou por isso mesmo. Ainda vão dizer que êle merece êsse "prêmio", sem nem perceberem que esta é uma grana que seria muito útil a êles mesmos.

Mariana disse...

Pôxa, não consegui ver nem escutar o debate daí. Dê algumas notícias prá gente, se você puder.