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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Alexandre Garcia e as bandeirinhas brasileiras

Por Alexandre Garcia
Não sei se estou ficando intransigente ou exigente, mas o fato que é tenho ficado irritado nesses dias, ao ver bandeirinhas brasileiras nos carros que trafegam em nossas ruas. É porque não vi essas bandeirinhas nos carros na Semana da Pátria, ou no Dia da Independência. Parece que Brasil reduziu-se a um time de futebol; não é o país de que participamos e pelo qual torcemos. Comentei isso no meu café de fim de manhã, no shopping ao lado da Globo, e uma moça que estava no balcão tentou explicar: "É que o futebol motiva mais os brasileiros que esses políticos que estão aí". "Você está certa - retruquei - mas a seleção de futebol é escolhida pelo Dunga, e esses políticos que aí estão, fomos nós que escolhemos."
A Copa nos mobiliza mais que a eleição de outubro. Só que a Copa não vai mudar o nosso futuro, nem o de nossos filhos e netos. A eleição de outubro vai. Se escolhermos a seleção errada - de deputados, senadores, governadores e presidente -, vamos todos pagar com uma piora ainda maior em nossa qualidade de vida. Teremos mais assaltos e homicídios, mais ladrões, mais corruptos, mais abandono de hospitais públicos, educação ainda pior... e por aí vai. O problema é que fica difícil escolher a quem passar nossa procuração, se os partidos não nos oferecerem uma lista de bons candidatos.
A tentativa de barrar os fichas-sujas se frustrou. O restinho da esperança foi apagado no Senado, quando o senador Francisco Dornelles mudou o tempo de um verbo. Onde estava escrito que seriam impedidos de concorrer "os que tenham sido condenados" - subjuntivo passado - o senador substituiu por "os que forem condenados" - subjuntivo futuro. E aí, danamo-nos. Só vale para os que vierem a ser condenados. Por incrível coincidência, o senador é presidente do PP, partido ao qual está filiado Paulo Maluf, que estariam entre os que tinham sido condenados, mas ainda não está entre os que forem condenados.
Voltando à bandeira, talvez não seja intransigência minha, mas uma marca da infância. Na minha cidade, na Semana da Pátria, as bandeiras iam para os mastros das casas. Eu acompanhava meu avô hastear a bandeira pela manhã e recolhê-la no por-do-sol. Talvez por isso eu faça o mesmo no topo do mirante de minha casa em Brasília, onde o símbolo do Brasil tremula sempre, o ano inteiro, em todos os fins-de-semana. Espero que não pensem, os desavisados, que está lá por causa de um campeonato mundial de futebol.
Depois da Copa, passaremos nós o Sete de Setembro ainda com a vibração verde-amarela? Não esqueçamos que logo depois haverá o Três de Outubro, Dia da Eleição, dia do juízo, dia da separação dos bons e dos maus. Aquela, sim, será a partida decisiva.

Um comentário:

Mariana disse...

É verdade e até a gente às vêzes fala demais sôbre o assunto, sem querer, porque tudo na TV hoje gira em tôrno da Copa na África. Imagine quando fôr por aqui, heim?!
Mas o jornalista Alexandre Garcia tem razão, abandonamos certos símbolos de nosso patriotismo faz tempo. Dimas, não sou tão velha assim, mas na minha infância e adolescência, cantávamos o hino nacional no páteo, antes de irmos para as salas de aula. Agora, nem sabem cantá-lo e se bobear, nem lendo.

Dimas, chega a ser um absurdo escutarmos parlamentares dizerem que só votarão projetos importantes depois da copa porque...é copa, não é? Ninguém pensará em outra coisa. E depois, tem governante e chanceleres que querem se igualar, pior, ainda ficam com inveja dos EUA. E vindo o exemplo que vem de cima, já viu, né!