De André Petry, na revista "Veja", edição que está nas bancas:
Em um artigo publicado depois da II Guerra Mundial, no qual falava da esquizofrenia das sociedades democráticas, o inglês George Orwell escreveu que "para enxergar o que está diante do nariz é preciso um esforço constante". Na semana passada, na ressaca da matança provocada pelo major Nidal Malik Hasan na maior base militar dos Estados Unidos, o debate girava em torno de uma dúvida: o militar disparou a esmo e matou treze pessoas porque era lunático ou porque era um terrorista islâmico? As investigações não acharam indício de que o major estivesse a serviço de uma organização terrorista. Por isso, formou-se um certo consenso de que a tragédia só pode ter sido obra de um lunático, um homem psicologicamente esmagado pela pressão da iminente transferência para o Afeganistão, onde teria de lutar contra irmãos de sua própria fé - o islamismo. Está diante do nariz, mas a moléstia do politicamente correto parece impedir os americanos de enxergar as evidências clamorosas de que foi obra de um terrorista islâmico.
Primogênito de um casal de palestinos que emigrou para os EUA no começo dos anos 60, Hasan nasceu em Arlington, na Virgínia, formou-se em bioquímica e, contra a vontade dos pais, entrou para o Exército. Como oficial, fez medicina e especializou-se em psiquiatria. Era muçulmano, mas virou um devoto fervoroso depois da morte do pai, em 1998, e da mãe, em 2001. Frequentava a mesquita, aconselhava-se com o líder espiri-tual, lia o Corão, rezava cinco vezes ao dia e, aos 39 anos, era solteiro porque não encontrara mulher suficientemente pia para casar-se. Não é proibido ser militar e muçulmano ao mesmo tempo. Entre os 550.000 membros da ativa do Exército americano, 3.500 se dizem muçulmanos. Mas Hasan não era só um muçulmano. Era um muçulmano cuja crença estava contaminada pela paranoia de que os infiéis - ou seja, todos os outros - são contra o Islã.
O major era abertamente contra a guerra no Iraque e no Afeganistão. Há um ano, munido de um PowerPoint, fez uma apresentação aos colegas sobre os conflitos cujo título era "Por que a guerra contra o terrorismo é uma guerra contra o Islã". Em junho, não escondeu a alegria quando um muçulmano atirou contra dois soldados num centro militar no Arkansas. Dizia que sua lealdade à sharia, o rígido conjunto de leis islâmicas, precedia sua lealdade à Constituição americana. Pior: manteve contato por e-mail com Anwar al-Awlaki, líder espiritual extremista cuja mesquita em San Diego, na Califórnia, era frequentada por dois terroristas do 11 de Setembro. Depois da matança em Fort Hood, no Texas, Anwar al-Awlaki, que hoje mora no Iêmen, disse em seu blog que Hasan era um "herói". Com essa biografia, Hasan deveria ter sido expulso do Exército, mas aconteceu o contrário: ele pediu para deixar a farda, e o Exército, tendo financiado sua formação acadêmica, não aceitou que partisse. Um erro que custou treze vidas.
Na tarde de 5 de novembro, Hasan entrou no prédio de exames médicos na base de Fort Hood. Sentou-se a uma mesa a sós, abaixou a cabeça por alguns segundos, levantou-se e descarregou a pistola enquanto gritava "Allahu akbar" - "Deus é grande", em árabe. Matou doze militares e um civil, entre 19 e 62 anos de idade, e feriu 29. Alvejado por quatro tiros, Hasan entrou em coma e recobrou a consciência no hospital dois dias depois. Será julgado num tribunal militar e está sujeito à pena de morte. O manual da correção política é a única explicação para que o Exército tenha ignorado sinais tão eloquentes da inadequação de Hasan ao serviço militar. É também a única explicação para que ainda se discuta o que motivou Hasan. Em ambos os casos, impera o temor de parecer preconceituoso contra muçulmanos. Daí saiu o salvo-conduto ao terrorista. Na terça-feira, no funeral, o presidente Barack Obama homenageou os mortos e afirmou: "Não precisamos olhar para o passado em busca de grandeza porque ela está diante de nossos olhos". Agora, só falta ver o que está diante do nariz.
Primogênito de um casal de palestinos que emigrou para os EUA no começo dos anos 60, Hasan nasceu em Arlington, na Virgínia, formou-se em bioquímica e, contra a vontade dos pais, entrou para o Exército. Como oficial, fez medicina e especializou-se em psiquiatria. Era muçulmano, mas virou um devoto fervoroso depois da morte do pai, em 1998, e da mãe, em 2001. Frequentava a mesquita, aconselhava-se com o líder espiri-tual, lia o Corão, rezava cinco vezes ao dia e, aos 39 anos, era solteiro porque não encontrara mulher suficientemente pia para casar-se. Não é proibido ser militar e muçulmano ao mesmo tempo. Entre os 550.000 membros da ativa do Exército americano, 3.500 se dizem muçulmanos. Mas Hasan não era só um muçulmano. Era um muçulmano cuja crença estava contaminada pela paranoia de que os infiéis - ou seja, todos os outros - são contra o Islã.
O major era abertamente contra a guerra no Iraque e no Afeganistão. Há um ano, munido de um PowerPoint, fez uma apresentação aos colegas sobre os conflitos cujo título era "Por que a guerra contra o terrorismo é uma guerra contra o Islã". Em junho, não escondeu a alegria quando um muçulmano atirou contra dois soldados num centro militar no Arkansas. Dizia que sua lealdade à sharia, o rígido conjunto de leis islâmicas, precedia sua lealdade à Constituição americana. Pior: manteve contato por e-mail com Anwar al-Awlaki, líder espiritual extremista cuja mesquita em San Diego, na Califórnia, era frequentada por dois terroristas do 11 de Setembro. Depois da matança em Fort Hood, no Texas, Anwar al-Awlaki, que hoje mora no Iêmen, disse em seu blog que Hasan era um "herói". Com essa biografia, Hasan deveria ter sido expulso do Exército, mas aconteceu o contrário: ele pediu para deixar a farda, e o Exército, tendo financiado sua formação acadêmica, não aceitou que partisse. Um erro que custou treze vidas.
Na tarde de 5 de novembro, Hasan entrou no prédio de exames médicos na base de Fort Hood. Sentou-se a uma mesa a sós, abaixou a cabeça por alguns segundos, levantou-se e descarregou a pistola enquanto gritava "Allahu akbar" - "Deus é grande", em árabe. Matou doze militares e um civil, entre 19 e 62 anos de idade, e feriu 29. Alvejado por quatro tiros, Hasan entrou em coma e recobrou a consciência no hospital dois dias depois. Será julgado num tribunal militar e está sujeito à pena de morte. O manual da correção política é a única explicação para que o Exército tenha ignorado sinais tão eloquentes da inadequação de Hasan ao serviço militar. É também a única explicação para que ainda se discuta o que motivou Hasan. Em ambos os casos, impera o temor de parecer preconceituoso contra muçulmanos. Daí saiu o salvo-conduto ao terrorista. Na terça-feira, no funeral, o presidente Barack Obama homenageou os mortos e afirmou: "Não precisamos olhar para o passado em busca de grandeza porque ela está diante de nossos olhos". Agora, só falta ver o que está diante do nariz.
Um comentário:
Nem sei o que pensar...se ele, o muçulmano, já havia se colocado como impedido prá lutar nessas guerras americanas contra os seus irmãos muçulmanos, ele deveria ter sido desligado logo da turma, que seria o mais natural a fazer, não é? E por causa de um valor pago pelos estudos dele? Que esta sirva prá refletirem daqui prá frente, já que são tantos os "irmãos muçulmanos" alistados, hoje.
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