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terça-feira, 30 de setembro de 2008

Nova temporada de "Um Caso de Língua"

A peça "Um Caso de Língua", da Cia Teatro, tem temporada no Teatro do Sesi - Rio Vermelho, em Salvador, a partir de sexta-feira, 3 de outubro até 30 de novembro, sempre de de sexta-feira a domingo.
"Um Caso de Língua" é um espetáculo que, sem didatismos, alia divertimento e informação, mostrando um desenho dos diversos aspectos que forjaram o idioma nacional. É através da criação de tipos pitorescos e seus falares que o ator Urias Lima se colocou sob a direção de Carmem Paternostro para trazer ao público este seu segundo trabalho solo. Sem perder o tom observador-mordaz sobre a diversidade da língua nacional, o ator faz desfilar diante do espectador inúmeros aspectos da riqueza prosódica do português falado no país. “Nossa língua é pluralista, vai além da comunicação, porque informa, agrega, identifica e socializa, sem equivalente em nenhum outro país de língua portuguesa”, diz Urias que, também é autor do projeto ganhador do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2007.
O trabalho é fruto de mais de quatro anos de anotações, leituras e também de cuidadosa pesquisa sobre a origem da língua falada no país. O espetáculo faz um mosaico da formação do Português Brasileiro, a partir das influências de três matrizes lingüísticas: africana, portuguesa e tupi.
A peça usa como suporte a música “Língua”, de Caetano Veloso, para ressaltar a importância deste valioso patrimônio cultural brasileiro que - segundo o ator - nos amalgama como Nação. A construção do discurso do espetáculo também se utiliza de textos de Luis de Camões e lingüistas brasileiros, a exemplo de Marcos Bagno, como também de fragmentos de artigos de Gero Camilo e Fabrício Carpinejar, colhidos em revistas de grande circulação. Com poemas de Vinicius de Morais e Carlos Drummond de Andrade, os textos são costurados por uma trilha sonora que vai de Aldir Blanc a Arnaldo Antunes e Racionais MCs.
A peça
Dá para imaginar uma versão baiana da criação do mundo? Pois é nesse tom que o espectador de "Um Caso de Língua" vai sendo introduzido nas variações de alguns falares da língua nacional e suas origens. Daí para falar dos baianos ilustres é só um detalhe, todos eles desfilam garbosos em citações que lhe são popularmente atribuídas. Nesse passo, como não poderia deixar de ser, em se tratando de uma versão baiana de criação do mundo, nem o diabo deixa de aparecer na história. Claro, se criaram o mundo tem que haver céu e inferno com diabo e tudo!
Senha dada ao público é hora de escolher, por exemplo, a palavra “bunda” para brincar com as matrizes lingüísticas que formaram o falar brasileiro. “Poucas pessoas se dão conta de que a palavra “bunda” (uma preferência nacional) tem origem no dialeto banto. A bunda brasileira, com a qual requebramos nas festas populares é uma herança lingüística e genética da África”, explica Urias Lima. De fato, a palavra deriva de “mbunda”, segundo o estudioso Antonio Risério. E para quem leu Drummond nunca é demais lembrar que a nossa bunda foi objeto de poema homônimo do grande poeta.
Mas nossa língua não se contenta com a África somente e corre atrás dos indígenas e se apropria de palavras como Jacaré, Jaguar, Paraná, Ipanema, Carioca, Mogi-Mirim, Itamaraty, Itararé, Aracaju, Sergipe, Coaraci, Tapioca, Maracanã, Maracujá, Jaburu, Juriti, Siriema etc. “Se retirarmos o que há de tupi na língua portuguesa ninguém se comunica. A língua portuguesa no Brasil desaparece. É isto que reclama diversos lingüistas. Nossos filhos aprendem na escola uma língua portuguesa, que não é portuguesa. É brasileira”, diz Urias.
A conclusão é de que o português falado no Brasil é uma língua híbrida. Quando chegou à costa brasileira em 1532, porque em 1500 os portugueses descobriram o Brasil e só retornaram 32 anos depois, o português era formado por 160 mil verbetes. Hoje a Língua Brasileira tem 240 mil verbetes. Ou seja, português de Portugal, só palavras que nos fornecem condições jurídicas, políticas e didáticas.
A direção do espetáculo está a cargo da diretora e coreógrafa Carmen Paternostro, conhecida pela excelência plástica e vigor corporal que costuma imprimir em seus espetáculos. Carmen Paternostro, que volta a dirigir após um período dedicado às aulas de mestrado em dança, tem espetáculos marcantes no currículo como "Merlin ou a Terra Deserta", de Tankred Dorst; "Dendê e Dengo", de Aninha Franco; "Os Negros", de Jean Genet; "Lágrimas de Um Guarda-Chuva", de Eid Ribeiro, dentre outros. A diretora, que sempre dirigiu grandes elencos, retorna conduzindo, pela primeira vez, um trabalho individual.
Em seu segundo trabalho solo, o ator Urias Lima, conhecido na cena teatral baiana por espetáculos como "Os Negros", de Jean Genet, com a mesma diretora, e "Comédia do Fim - IX Montagem", do Núcleo de Teatro do TCA, prêmio Braskem de Melhor Espetáculo Adulto em 2003, sob direção de Luiz Marfuz, cita ainda as várias coincidências que permeiam a estréia do seu projeto em 2008, ano em que os assuntos lusófonos estão na ordem do dia: discussões sobre a reforma ortográfica, bicentenário da chegada da família real no Brasil, aniversário de 400 anos do padre Antonio Vieira e a XIII Montagem do Núcleo do TCA que prepara espetáculo com abordagem semelhante, já que baseado no romance "O Triste Fim de Policarpo Quaresma", de Lima Barreto.
A produção é de Selma Santos Produções e Eventos Ltda
(Com informações de Agnes Cajaiba, de Selma Santos Produções e Eventos)

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