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quinta-feira, 7 de agosto de 2008

"Tortura e torturados - Um agrado à esquerda"

Por Ricardo Noblat
É possível que Tarso Genro, ministro da Justiça, e Paulo Vannuchi, ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, promovessem um seminário para rediscutir a Lei da Anistia sem avisar antes a Lula e sem obter o consentimento dele?
Não, não é possível. Punição para torturadores de presos políticos durante a ditadura de 64 é um tema sensível, ainda hoje muito sensível, capaz de desatar a fúria de militares da reserva e, de maneira mais sóbria e disfarçada, de militares da ativa.
Contra a lógia, a sensatez e fortes evidências, Lula disse que não sabia do mensalão - o esquema de pagamento de propina a deputados para que votassem na Câmara como o governo queria. Mas ele não pode repetir a dose quanto à iniciativa de Genro e de Vannuchi. Tanto que permanece calado.
Há quem acredite na hipótese de Lula estar testando a sensibilidade do mundo político à idéia de uma possível revisão da Lei da Anistia. Não acredito nisso. Lula se elegeu pela esquerda e governa pela direita. Vez por outra precisa fazer média com setores da esquerda decepcionados com ele.
É um camelão. Ou melhor: uma metamorfose ambulante como ele mesmo se apresenta. Libera Tarso e Vannuchi para agradarem a esquerda e Nelson Jobim, ministro da Defesa, para sossegar a direita surpreendida com essa volta repentina ao passado.
Não se espere dele nenhum gesto que possa assanhar fardas novas ou velhas. Nem mesmo o da abertura dos arquivos sobre os anos de trevas. Lula é um líder não ideológico e conservador por natureza. E tem planos para voltar a disputar a presidência da República em 2014. Quer ficar longde de encrencas.

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