Nenhum governo israelita, da esquerda à direita, pode permitir que os seus cidadãos e parte do seu território estejam expostos à ameaça de um movimento fanático e radical como o Hezbollah.
Por João Marques de Almeida para o Observador:
Não sei se em Nova Iorque, na sede das Nações Unidas, há quem conheça a história recente do Médio Oriente. Deveria haver porque a ONU faz parte dessa história.
No dia 11 de Agosto de 2006, o Conselho de Segurança da ONU aprovou por unanimidade a Resolução 1701 para terminar com a guerra no sul do Líbano. A Resolução ordena que a região a sul do rio Litani até à fronteira com Israel seja toda desarmada, e patrulhada pelo exército libanês e por uma força da ONU, a UNIFIL. Ou seja, a Resolução 1701 exigia a retirada das tropas israelitas do sul do Líbano e das forças e milícias do Hezbollah. Israel cumpriu e retirou todas as suas tropas. O Hezbollah não cumpriu e não só manteve as suas forças como as reforçou.
Passaram 18 anos, e o que fez a força de paz da ONU, a UNIFIL? Nada. Nunca foi capaz de impedir que o Hezbollah violasse a Resolução 1701 durante 18 anos. A presença das forças do Hezbollah no sul do Líbano tornou-se cada vez mais ameaçadora para Israel devido à aquisição de misseis e de drones mais sofisticados.
A população do norte de Israel está refém das armas do Hezbollah. Tudo isso se agravou após os ataques de 7 de Outubro pelo Hamas a Israel, e depois da resposta militar israelita bombardeando a Faixa de Gaza. Aliás, neste momento, há quase 100 mil israelitas do norte do país refugiados no sul de Israel.
Na Europa em geral, e em Portugal em particular, muitos julgam que Israel ataca o Hezbollah porque Netanyahu é o PM de Israel. Esta tendência de analisar a política externa a partir da divisão entre direita e esquerda mostra uma enorme ignorância, aliás exposta sem vergonha e sem embaraço por muitos “especialistas” na comunicação social. Nenhum governo israelita, da esquerda à direita, pode permitir que os seus cidadãos e parte do seu território estejam expostos à ameaça de um movimento fanático e radical como o Hezbollah, cuja ambição é acabar com o Estado de Israel. Os governos podem mudar, os PMs podem mudar, e Israel continuará a combater o Hezbollah que ainda por cima viola uma Resolução do Conselho de Segurança da ONU ameaçando a segurança israelita. Aliás, qualquer governo europeu faria o mesmo em circunstâncias iguais.
A guerra entre Israel e o Hezbollah vai agravar-se. Mas cada vez que o Secretário-Geral da ONU mostra “uma enorme preocupação com o que se passa no Médio Oriente”, deve pensar no seguinte. Israel deu 18 anos à ONU para garantir a segurança no sul do Líbano e desarmar o Hezbollah. A ONU não foi capaz de o fazer. Obviamente, compete a Israel fazê-lo. O que faria António Guterres se fosse PM de Israel? É muito fácil falar na segurança do Médio Oriente a partir de Nova Iorque. É muito mais difícil governar em Israel. O que se exige a um antigo PM é que ele entenda isso. O que se exige ao SG da ONU é que ele conheça a história da sua organização. Na política, não basta falar, falar e falar.
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