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segunda-feira, 23 de julho de 2018

Capítulo IV - A entrevista

Em 12 de julho de 1974, o deputado federal Francisco Pinto (Foto 2) concedeu entrevista ao radialista Lucílio Bastos (Foto 1), no programa "Grande Informativo Matinal", na Rádio Cultura de Feira de Santana. A entrevista foi transmitida na manhã do dia subsequente, 13. 
Com a entrevista, a emissora sofreu processo. A rádio foi suspensa, inicialmente por 15 dias. Depois foi cassada e somente reaberta em 26 de julho de 1985.
Veja trecho, contido no livro "O Processo de Cassação da Rádio Cultura", organizado por Dimas Oliveira, lançado no dia 13 deste mês:
PERGUNTA: Deputado Francisco Pinto, alguém poderia afirmar que em face dos acontecimentos em que V. Excia. se vê envolvido, V. Excia. passou a se preocupar apenas consigo, se esquecendo de Feira de Santana e se esquecendo da sua condição de representante da Bahia no Congresso Nacional?
RESPOSTA: Por que?
PERGUNTA: Porque talvez a essa altura muitos pensariam em salvar somente a sua pele?
RESPOSTA: Ainda não estou entendendo bem a indagação.
PERGUNTA: Procurarei ser um pouco mais claro. A parte de seus problemas pessoais, de ordem politica, problemas políticos por exemplo aqui em Feira de Santana, problemas políticos aqui no âmbito municipal; e o município não sentiu, digamos assim, na sua fase, mais importante, pelo menos, o seu dedo presente.
RESPOSTA: Primeiro eu não sei qual o momento importante que o município estava vivendo. O que sei É que a violência cometida pelo governo não é propriamente em Feira de Santana. Talvez ele tenha atingido também aqui, buscando alguns poucos companheiros nossos para enclausurar na prisão. Mas essa violência se faz sentir em outros lugares. O que eu não queria, em verdade era dar ao governo a oportunidade de dizer que não me permitiu a possibilidade de disputar eleições, porque eu estava ausente de Brasília; para não aceitar as citações das intimações do Tribunal. Se eu me afastasse de Brasília eles poderiam mandar intimar e quando não me encontrassem, dissessem que não me julgaram, em tempo, porque eu estava ausente daquela cidade. Viajei apenas durante este período, de abril, quando aqui estive pela última vez , até agora. Viajei para resolver problemas ligados a mim na Guanabara, no fim da semana. Cheguei na segunda-feira. O Tribunal marcava a audiência e marcava o meu interrogatório. Se a pessoa encarregada pelo Tribunal para me encontrar, para me notificar, não tivesse me encontrado, a alegação serviria para o governo dizer que a culpa, pela protelação do julgamento foi minha, porque eu não estava presente à cidade; de forma que, o processo, me prendia a Brasília. Prendia para evitar o mal maior. Porque na verdade, deputado e cargo de deputado par a mim não tem nenhuma significação, a não ser aquela do uso da tribuna par a denunciar a violência que o governo tem cometido contra o povo e as violências que me refiro não são só aquelas que se praticam contra o corpo, isto é, não são as violências das torturas, mas também as violências de uma política de fome, uma politica de privilégios para um pequeno grupo e de diminuição de salários para a grande maioria do povo. De forma porque é essa a razão porque entendi que não poderia sair e a conselho inclusive do Dr. e meus companheiros de partido e a prova de que poderia haver essa intenção é que um único dia em que me afastei era notificado e procurado para isto. Aqui de Salvador para Brasília, não se tem avião a toda hora, como no Rio de Janeiro, de forma que no Rio de Janeiro eu poderia ser avisado de que a audiência começaria a tarde e sair a uma hora depois, o que não ocorreria em Salvador. Por essa razão tive que ficar preso em Brasília, tentando salvaguardar o mandato que me é importante pelo uso da Tribuna. 

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