Em 12 de julho de 1974, o deputado federal Francisco Pinto (Foto 2) concedeu entrevista ao radialista Lucílio Bastos (Foto 1), no programa "Grande Informativo
Matinal", na Rádio Cultura de
Feira de Santana. A entrevista foi transmitida na manhã do dia subsequente, 13.
Com a entrevista, a emissora sofreu processo. A rádio foi suspensa, inicialmente por 15 dias. Depois foi cassada e
somente reaberta em 26 de julho de 1985.
Veja trecho, contido no livro "O Processo de Cassação da Rádio Cultura", organizado por Dimas Oliveira, lançado no dia 13 deste mês:
PERGUNTA: Deputado Francisco
Pinto, alguém poderia afirmar que em face dos acontecimentos em que V. Excia.
se vê envolvido, V. Excia. passou a se preocupar apenas consigo, se esquecendo
de Feira de Santana e se esquecendo da sua condição de representante da Bahia
no Congresso Nacional?
RESPOSTA: Por que?
PERGUNTA: Porque talvez a
essa altura muitos pensariam em salvar somente a sua pele?
RESPOSTA: Ainda não estou
entendendo bem a indagação.
PERGUNTA: Procurarei ser um
pouco mais claro. A parte de seus problemas pessoais, de ordem politica,
problemas políticos por exemplo aqui em Feira de Santana, problemas políticos
aqui no âmbito municipal; e o município não sentiu, digamos assim, na sua fase,
mais importante, pelo menos, o seu dedo presente.
RESPOSTA: Primeiro eu
não sei qual o momento importante que o município estava vivendo. O que sei É
que a violência cometida pelo governo não é propriamente em Feira de Santana.
Talvez ele tenha atingido também aqui, buscando alguns poucos companheiros
nossos para enclausurar na prisão. Mas essa violência se faz sentir em outros
lugares. O que eu não queria, em verdade era dar ao governo a oportunidade de
dizer que não me permitiu a possibilidade de disputar eleições, porque eu
estava ausente de Brasília; para não aceitar as citações das intimações do
Tribunal. Se eu me afastasse de Brasília eles poderiam mandar intimar e quando
não me encontrassem, dissessem que não me julgaram, em tempo, porque eu estava
ausente daquela cidade. Viajei apenas durante este período, de abril, quando
aqui estive pela última vez , até agora. Viajei para resolver problemas ligados
a mim na Guanabara, no fim da semana. Cheguei na segunda-feira. O Tribunal
marcava a audiência e marcava o meu interrogatório. Se a pessoa encarregada
pelo Tribunal para me encontrar, para me notificar, não tivesse me encontrado,
a alegação serviria para o governo dizer que a culpa, pela protelação do
julgamento foi minha, porque eu não estava presente à cidade; de forma que, o
processo, me prendia a Brasília. Prendia para evitar o mal maior. Porque na
verdade, deputado e cargo de deputado par a mim não tem nenhuma significação, a
não ser aquela do uso da tribuna par a denunciar a violência que o governo tem
cometido contra o povo e as violências que me refiro não são só aquelas que se
praticam contra o corpo, isto é, não são as violências das torturas, mas também
as violências de uma política de fome, uma politica de privilégios para um
pequeno grupo e de diminuição de salários para a grande maioria do povo. De
forma porque é essa a razão porque entendi que não poderia sair e a conselho
inclusive do Dr. e meus companheiros de partido e a prova de que poderia haver
essa intenção é que um único dia em que me afastei era notificado e procurado
para isto. Aqui de Salvador para Brasília, não se tem avião a toda hora, como
no Rio de Janeiro, de forma que no Rio de Janeiro eu poderia ser avisado de que
a audiência começaria a tarde e sair a uma hora depois, o que não ocorreria em
Salvador. Por essa razão tive que ficar preso em Brasília, tentando salvaguardar
o mandato que me é importante pelo uso da Tribuna.
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