Por Juan Arias, do "El País"
Crescem as especulações de que Luiz Inácio Lula da Silva, indiciado em três processos de corrupção, poderia pedir asilo político ao
Governo de algum país amigo para escapar das garras do severo juiz Sérgio Moro.
Iria acompanhado pela esposa e
dois de seus filhos, também investigados por suposta corrupção.
Seria a melhor solução para
defender sua inocência ou a fuga seria vista como um ato de covardia?
O ex-presidente se considera um
perseguido político pela Justiça e declara sua inocência até em fóruns internacionais.
A direita queria, segundo Lula e
seus advogados, inviabilizar sua candidatura à eleições presidenciais de
2018.
No entanto, poucos no mundo
político duvidam de que Lula será condenado em primeira instância nos próximos
meses e de que, no tribunal de segunda instância, não serão mais benevolentes
com ele do que Moro.
Nesse caso, depois da recente
decisão do Supremo Tribunal Federal de que os condenados em segunda instância
já devem ser encarcerados, enquanto esperam possíveis recursos no Supremo, Lula não só seria preso, mas também seria enquadrado na lei "Ficha Limpa". Isso invalidaria sua candidatura para disputar eleições.
Contudo, o que mais preocupa Lula
é sua possível condenação nas mãos do juiz de primeira instância Sérgio Moro,
a quem não considera digno de julgá-lo.
É preciso entender o personagem
Lula, que conseguiu se tornar não só o presidente mais popular do Brasil
moderno, mas também um político com grande ressonância mundial.
Uma possível condenação à prisão
por juízes que não sejam do Supremo inevitavelmente lhe doeria, mais ainda se
com ele fossem condenados sua esposa e um algum de seus filhos.
Humanamente é compreensível sua
batalha para não chegar a ser encarcerado. A última coisa que Lula deseja - ele, que ainda sonha em voltar a governar este país - é acabar
condenado por corrupção.
Outra coisa é uma possível fuga
do país por meio de um pedido de asilo político. Não pareceria, de fato, o mais
lógico, considerada sua biografia de ex-sindicalista, combatente, ativista
político e social, de alguém que nunca baixou a cabeça para ninguém. E que já
esteve na prisão durante a ditadura militar.
O Partido dos Trabalhadores (PT),
fundado por ele, se encontra atualmente em seu ponto mais baixo, em processo de
refundação, depois da derrota sofrida nas fileiras de seus principais
dirigentes condenados e presos por crimes de corrupção. E, além disso,
derrotado recentemente nas urnas.
O PT precisa de Lula, mas, aqui.
Mesmo na prisão, na qual continuaria a ser visto pelos seus como preso
político, seria mais útil para o futuro de seu partido político do que exilado
à força no exterior.
Sempre se disse que o PT não
existe sem Lula, e que este não existiria sem o partido.
Hoje, mais do que nunca, a força
do PT falido necessita da presença próxima de seu chefe caso queira sobreviver,
uma vez que, segundo analistas políticos, sem Lula o PT acabaria se
desmanchando e se pulverizando em pequenos grupos políticos e nunca acumularia
a força que sempre teve, primeiro na oposição e, depois, nos 13 anos de governo
da nação.
Um Lula exilado seria,
provavelmente, um Lula esquecido. Seria a pior solução para a sobrevivência do
PT, que já foi a maior e mais organizada força social da esquerda deste país.
Livre ou na prisão, mas, sempre,
melhor ao lado dos seus do que levando na fronte a marca de ter preferido fugir
para não enfrentar a Justiça, em um país que ele mesmo contribuiu para que
fosse uma democracia defensora do direito e das liberdades civis.
Uma democracia que, apesar de
seus conflitos atuais, continua funcionando sem graves percalços, onde as
instituições do Estado respeitam a independência dos três poderes.
Não, o Brasil não é a Venezuela,
e os brasileiros, nas urnas, acabam de demonstrar que querem escapar de tal
destino.
E Lula sabe disso.
Fonte: "Blog do Noblat"
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