Por Vilma Gryzinski
É curta a lista de ganhadores que
acompanharam Donald Trump na arrancada vitoriosa – fora seus eleitores,
evidentemente. Já a lista dos que perderam com Hillary Clinton é enorme.
Começa com Barack Obama, o
presidente que personalizou a eleição, dizendo que cada voto em Trump seria um
voto contra ele. Ironizou-o como um incompetente em quem os próprios
assessores não confiavam para teclar no Twitter, "imaginem com os códigos
nucleares".
Obama, como praticamente todo o
resto da humanidade, não tinha um plano para o caso de vitória de Trump. O site
Político lembrou que ele estava tão certo da continuidade que alugou um casarão
com nove quartos a poucas quadras da Casa Branca, onde a família continuaria
morando enquanto a filha mais nova, Sasha, terminava a escola.
Na quarta-feira, Obama falou ao país
e ao pessoal da Casa Branca, cerca de 150 pessoas ainda em estado de choque
pós-eleitoral, algumas delas em prantos. Quem nunca sentiu raiva, frustração ou
até vontade de chorar com o resultado de uma eleição?
A correção um pouco gaguejante com
que recebeu Trump foi prova da compostura que a maioria dos americanos –
54% – aprova. Mesmo quando muitos decidem votar no "outro".
Não é possível imaginar que Michelle
Obama tenha sido menos elegante ao receber Melania Trump. Ainda que tenha ido a
um programa de entrevistas especificamente para ridicularizá-la – Melania fez
um discurso, certamente não escrito por ela, no qual sem saber plagiou
declarações da própria Michelle.
Todos os institutos de pesquisa deram-se
fragorosamente mal e não adianta dizer que Hillary Clinton ganhou no voto
popular ou culpar ou "voto envergonhado". Notável exceção foram as pesquisas
feitas em associação entre a Universidade do Sul da Califórnia e o jornal Los
Angeles Times, usando uma nova metodologia que precisava ser quase diariamente
explicada.
A imprensa, majoritariamente, foi
desmentida pelos fatos. Mas pelo menos agora fará oposição ao governo Trump, o
que, de forma geral, costuma fazer bem ao jornalismo.
Só pegou mal, para seu nome e sua
história, a manchete ressentida do New York Times. Depois de um dos mais
surpreendentes resultados eleitorais de todos os tempos, o jornal fez pirraça: "Democratas, estudantes e aliados estrangeiros enfrentam a realidade de uma
presidência Trump".
Todos os famosos que prometeram
mudar para o Canadá se Trump ganhasse serão perdoados. Inclusive Lady Gaga que
subiu desconsolada num dos caminhões de lixo colocados como segurança
provisória em frente a Trump Tower. O público entende que faz parte do show.
Mas os protestos contra a eleição de
Trump, como vem acontecendo em lugares diferentes dos Estados Unidos, têm mais
consequências do que as marchas meio perdidas que saíram pelas ruas de Londres
reclamando do voto pelo Brexit.
De sindicatos a organizações como
Move.on ou Black Lives Matter, o arco da oposição a Trump será enorme e bem
consolidado. No extremo, apareceram pichações dizendo "Kill Trump". Isso,
definitivamente, não é o choro normal dos perdedores.
Fonte: http://veja.abril.com.br
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