Por Reinaldo Azevedo
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) não deve ter
nenhuma dúvida, a esta altura, de que existe uma estrutura organizada para
destruí-lo. Mas deve saber também que ninguém conseguirá ou conseguiria fazê-lo
com base na pura criatividade. Ele tem ou não tem conta na Suíça?
É claro que, vivêssemos em tempos normais, a
Procuradoria-Geral da República deveria dizer, de uma vez só, não um pouco por
dia, tudo o que há contra o parlamentar, o principal desafeto do governo Dilma.
Que a PGR se tornou um centro de conspiração contra
Cunha, bem, disso não tenho a menor dúvida. Que isso interesse ao governo, até
as pedras sabem. Que Cunha parece não ter resposta para o que está vindo a
público, bem, isso também me soa óbvio.
Então ficamos assim: entre se comportar nos limites
da institucionalidade e atuar como parte de um estado policial, a PGR escolheu
a segunda opção. Isso, por si, não põe Cunha num bom lugar. Se alguém disser
que eu tenho conta da Suíça, não deixo para que meu advogado negue. Não tenho e
pronto. Porque, efetivamente, não tenho. Fim de papo.
Leio em reportagem de Graciliano Rocha, na Folha, que "cópias dos
passaportes do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e de familiares
dele foram anexadas aos formulários de abertura das contas do banco Julius Baer
que deram a origem à investigação contra o peemedebista por suspeito de corrupção
e lavagem de dinheiro na Suíça".
O texto informa mais: "Os formulários e os anexos
fazem parte dos dossiês bancários entregues pelo Julius Baer ao Ministério
Público suíço e remetidos à PGR (Procuradoria-Geral da República) nesta
semana".
Logo, é evidente que essa informação, a exemplo de
todas as outras que pipocam contra o deputado, têm origem na PGR, que está sob
o comando do Rodrigo Janot.
Cunha se tornou o principal inimigo do governo. Que
seja, hoje, o político mais importante investigado na Lava-Jato dá conta da
qualidade da investigação conduzida pela PGR. Só um cretino não fundamental
ignora Janot como peça central do jogo do Planalto.
Mas isso não livra a barra de Cunha, não. Ele tem
ou não tem conta na Suíça? Ele não pode dar a resposta que me deu Paulo Maluf,
numa entrevista no programa ao "Roda Viva", da TV Cultura, há alguns anos. Eu o
desafiei: "Olhe para a câmera e diga que o MP e o governo da Suíça são
mentirosos e que o senhor não tem nem nunca teve conta lá". E Maluf me
respondeu: "Eu não tenho, mas quem está chamando eles de mentirosos é você,
Reinaldo…".
Entendi tudo.
A PGR que faz de Eduardo Cunha a principal
personagem do petrolão, lamento dizer, está, a meu juízo, a serviço do
Planalto, por mais que faça aquela carinha que mistura a religiosidade da TFP
com a do PT. Aliás, aqueles cortes de cabelo e aquele jeitinho compõem o que
apelido, sabem os meus amigos, de TFPT.
Mas é claro que a situação de Cunha, tudo o mais
constante, é insustentável como referência e como alternativa ao poder que está
aí. Eu repudio, sim, os laivos de estado policial que fazem de Cunha o
principal alvo da Lava-Jato, mas não vou condescender com um troço sem lugar no
mundo da lógica e dos fatos. Por isso, espero resposta objetiva para a
pergunta: ele tem contas na Suíça ou não tem? Tudo indica que sim, não é mesmo?
Não contem comigo para aliviar a barra de Cunha se
ele mesmo não cuida de eliminar as dúvidas. Mas não contem comigo também para
aliviar a barra do Ministério Público Federal, que esconde numa aparência de
moralismo extremo uma atuação que joga em favor da continuidade de Dilma.
#prontofalei.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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