Valentina de Botas
O
caso de polícia ainda solto, o líder das multidões que morreu e esqueceu de se
entregar, o jeca apavorado porque está nas mãos dos empreiteiros, sonha em
voltar ao poder nos braços desses capitalistas selvagens: eis aí o homem
flagrado no todo imoral cujos 100% de desonestidade quer igualar aos 10% de
honestidade de jornalistas honestos. Como é possível ser ou ter 10% de
honestidade ou de desonestidade? Como é possível colocar um jornalista dentro
do outro quando, os de VEJA ao menos, são democratas que pensam por si, com
arestas que os fazem divergir, independentes que são?
Ora, é a glutonaria depravada do
dono do partido cujos tesoureiros vão parar na cadeia que coloca um escroque
dentro do outro e todos dentro do território lulopetista. As figuras políticas
mais abjetas aparam diferenças pelo brilho do cofrão público e jazem dentro do
caudilho falastrão. Meu texto não era assim, ele foi se enfeitando à medida que
a era da mediocridade acelerou o galope. Sempre achei que nada é nada, nada
mais - não precisava ser rigorosamente, nada já explicava tudo, o nada todo.
Gosto
de expressões nuas, de substantivos desvestidos de adjetivos, de verbos
desnudos de advérbios. Usava pouco essa roupagem e mais por boniteza; hoje, é
por precisão. Porque a corrupção alcançou a linguagem tornando exangue o
sentido das palavras. Cansadas, exigem reforço para fazer valer o que sempre
significaram. Uma deturpação que fez homem incomum significar sarney, elite
designar escória, aplicar a lei virou golpismo, jornalista independente é
antipatriota, manifestar a indignação nas ruas é coisa de reacionário, um
ignorante truculento porta a luz do mundo, e por aí vai.
E
continua indo. No campo de batalha contra a ética, qual valquíria medonha, Lula
cavalga acolhendo os moralmente decaídos, fazendo-os seus heróis. Basta que o
canalha tombe e a valquíria desfigurada abjeta o recolhe aos salões do poder,
numa Valhala de cafajestes privados e públicos. O que pode a palavra nua diante
dessa realidade em que rigorosamente nada - não disse!? - é feito pelos
interesses do país? O tal do texto clean, enxuto, suportado no conteúdo
musculoso e na forma sóbria de solidez?
Talvez
assim, todo paramentado, possa pouca coisa também. Não sei. Mas uno meu texto e
minha indignação superlativa, do jeito que for, ao de todos nesta coluna 100%
honesta para que não seja o galope depravado a única realidade audível. Dilma
se calou no dia 1º de maio, parece saber que morto não fala, numa surpreendente
sabedoria. Mas o criador, sem surpreender ninguém, insiste no combate à verdade
e ao bom gosto. Pois insistamos nós também no repúdio ao cinismo que pretende
reduzir os horizontes a si mesmo para que se igualem políticos, partidos,
instituições republicanas, tribunais e juízes, na formulação cômoda e míope de
que está tudo dominado. Não está, nunca esteve e jamais estará.
Ouço
Wagner, sob a regência de Daniel Baremboin. Espetacular. Wagner foi uma pessoa
execrável e um gênio, restou sua obra magnífica. Fique Lula, valquíria
deformada e passadiça, com seus renans, malufs, vaccaris, duques, compadres de
compadrio, betos, dilmas, empreiteiros das boconas e das tetas e demais heróis
sórdidos fugazes ainda que duradouros; cavalguem uns aos outros, figuras tão
execráveis quanto a obra em proveito próprio. Desse galope imoral não há de
sobrar nem 10%. Um beijo
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