Dilma Rousseff, Gabrielli (esq),
Graça Foster (atrás) e Paulo Roberto Costa (dir)
Por Augusto Nunes
"A
Petrobras já está privatizada", informa o título do post publicado em 10 de
junho de 2010. Aparecem no texto, inspirado no surto de chiliques provocado
pela criação de uma CPI incumbida de investigar a estatal, personagens que
acabam de sair da caixa preta em poder do ex-diretor Paulo Roberto Costa.
Confira:
O presidente Lula ficou muito irritado com a instauração da CPI da
Petrobras. Depois de ter feito o possível para interromper a gestação, agora
faz o possível para matá-la no berço. Baseado no critério do prontuário,
entregou a Renan Calheiros o comando do grupo de extermínio montado para o
justiçamento. O senador do PMDB alagoano, diplomado com louvor na escolinha que
ensina a delinquir impunemente, é especialista no assassinato de qualquer coisa
que ponha em risco o direito conferido aos congressistas leais ao Planalto de
roubar sem sobressaltos.
O presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, ficou muito irritado com a
instauração da CPI da Petrobras. Caprichando no palavrório que identifica os
nacionalistas de galinheiro, qualificou de "inimigos da pátria" os partidários
da devassa na empresa - o que promove automaticamente a defensores da nação em
perigo os que tentam manter fechada a caixa preta. Gente como Renan Calheiros.
Ou Ideli Salvatti. Ou Fernando Collor. Ou Romero Jucá, em aquecimento para
encarnar o papel de relator que impede a coleta de relatos relevantes.
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, ficou muito irritado com a
instauração da CPI da Petrobras. Governista seja qual for o governo, o agregado
da Famiglia Sarney conhecido na Polícia Federal pela alcunha de Magro Velho
alegou que iluminar os porões de uma empresa que é a cara do Brasil Maravilha
espanta clientes, fornecedores e possíveis parceiros. Se conhecessem a folha
corrida de Lobão, todos os clientes, fornecedores e possíveis parceiros já
teriam saído em desabalada carreira das cercanias da Petrobrás e do gabinete do
ministério.
Os modernos pelegos ficaram muito irritados com a instauração da CPI da
Petrobras. Jovens velhacos da UNE berraram que o petróleo é nosso para plateias
insuficientes para eleger um vereador de grotão. Velhos velhacos da CUT
garantiram que CPI gera desemprego para gente mais interessada no kit dupla sertaneja+pão
com mortadela+tubaína. Vigaristas do PT, do PP e do PMDB lembraram aos
sussurros que o petróleo é nosso, mas a eles compete a escolha dos diretores
incumbidos de cuidar dos interesses dos padrinho, do partido e do país, nessa
ordem.
Tudo somado, e embora a CPI nem tenha ainda saído do papel, ficou mais
difícil acusar os partidos de oposição, a elite golpista, os paulistas
quatrocentões, os capitalistas selvagens e os loiros de olhos azuis de tramarem
nas sombras a privatização da Petrobrás. A empresa já foi privatizada - sem
licitação. O novo dono é o PT, que arrendou parte do latifúndio à base alugada.
Em
29 de outubro de 2009, os representantes da oposição abandonaram a CPI. "Todos os requerimentos importantes são arquivados sem discussão pela maioria
governista", disse o senador Álvaro Dias, que propusera a instauração da
comissão. Em 17 de dezembro, ao fim de 14 sessões reduzidas a shows de
cinismo, foi aprovado o papelório de 359 páginas "destinado a contribuir
com a Petrobras e com o Brasil" . O relator Jucá concluiu que todos os culpados
eram inocentes, não enxergou nenhuma irregularidade na compra de plataformas e
viu apenas maledicências nas denúncias de superfaturamento na construção da
refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
Jucá,
Lobão, Renan, chefões do PP, cardeais do PMDB, Altos Companheiros do PT - um a
um, os saqueadores da Petrobras, abraçados aos comparsas que ampliaram a
quadrilha nos últimos anos, vão sendo expelidos do baú de bandalheiras aberto
por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento e Refino. Foi para seguir
embolsando sem sobressaltos propinas bilionárias que os assassinos de CPIs
escavaram em 2009 a cova rasa prestes a acolher outras duas comissões que
agonizam no Congresso. O enterro de CPIs não impediu a exumação das verdades
que têm assombrado desde sábado o Brasil que presta.
Para
resgatar os fatos, foi suficiente que uma oportuníssima conjunção dos astros
juntasse agentes da Polícia Federal, procuradores de Justiça e um magistrado
desprovidos do sentimento do medo. O acordo de delação premiada foi
consequência do trabalho exemplar dos que investigaram, da altivez dos que
acusaram e, sobretudo, da coragem do juiz federal Sergio Moro, que tornou a
prender o ex-diretor da Petrobras inexplicavelmente libertado pelo ministro
Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal.
O
acordo que induziu Paulo Roberto Costa a abrir o bico, aliás, precisa ser
homologado por Zavascki. Precavido, Moro deixou claro ao depoente que, para
livrar-se de envelhecer na prisão, teria de fornecer nomes e provas que
permitissem a completa desmontagem do esquema criminoso e, portanto,
justificassem a delação premiada. É o que o ex-diretor da Petrobras tem feito
nos interrogatórios diários que duram em média quatro horas. A menos que tenha
perdido o juízo, restará a Zavascki chancelar o acordo sem falatórios em
juridiquês.
O
país decente acaba de descobrir que a praga da corrupção impune pode ser
erradicada sem que parlamentares e ministros togados ajudem. Basta que não
atrapalhem. Basta que não tentem eternizar o faroeste à brasileira - único do
gênero em que o vilão sempre escapa do xerife e nunca perde o controle da terra
sem lei.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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