Por Reinaldo
Azevedo
Alguém dê aí um Rivotril pra presidente Dilma Rousseff. Serve para
diminuir a ansiedade - só com receita médica, viu, gente!? Não! Não sou um
usuário do remédio. Eu sou calmíssimo. Só advérbios fora do lugar me tiram do
sério. Adiante. A presidente foi às convenções do PDT e do PMDB e mandou brasa:
acusou os adversários de surrupiar os programas do seu governo, vejam vocês, e
de tentar "excluir os mais pobres" das políticas públicas. E emendou:
"Essa é a agenda do retrocesso. É essa a agenda que querem apresentar ao
Brasil".
É mesmo? A matemática desmente esta senhora. Se fosse assim, se o PT
tivesse o monopólio da virtude e seus adversários, sabe-se lá por quê, só
quisessem o mal dos brasileiros, ela teria 100% das intenções de voto, e os
outros teriam 0%. Não obstante, não é o que se vê, não é mesmo? Esse discurso
agressivo só vem a público porque as chances de Dilma não ser reeleita são
reais e crescentes.
De surrupiar programas, ora vejam, quem entende é o PT. Já escrevi isto aqui
dezenas de vezes e o farei quantas vezes for necessário.
No vídeo abaixo, Lula aparece em dois momentos: exaltando o Bolsa
Família, já presidente da República, e no ano 2000, quando chamava os programas
de assistência direta (como o Bolsa Família) de esmola. Vejam.
Bolsa Família: Lula fala sobre compra de voto por cesta básica
Pobre vagabundo
Mas foi bem mais explícito. Nos primeiros meses como presidente, Lula era contra os programas de bolsa que herdou de FHC. Ele queria era assistencialismo na veia mesmo, distribuir comida, com o seu programa “Fome Zero”, uma ideia publicitária de Duda Mendonça, que ele transformou em diretriz de governo. Deu errado. O Fome Zero nunca chegou a existir.
Mas foi bem mais explícito. Nos primeiros meses como presidente, Lula era contra os programas de bolsa que herdou de FHC. Ele queria era assistencialismo na veia mesmo, distribuir comida, com o seu programa “Fome Zero”, uma ideia publicitária de Duda Mendonça, que ele transformou em diretriz de governo. Deu errado. O Fome Zero nunca chegou a existir.
Já demonstrei isso aqui. No dia 9 de abril de 2003, com o Fome Zero
empacado, Lula fez um discurso no semiárido nordestino, na presença de Ciro
Gomes, em que disse com todas as letras que acreditava que os programas que
geraram o Bolsa Família levavam os assistidos à vagabundagem. Querem ler? Pois
não!
Eu,
um dia desses, Ciro [Gomes, ministro da Integração Nacional], estava em
Cabedelo, na Paraíba, e tinha um encontro com os trabalhadores rurais, Manoel
Serra [presidente da Contag - Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura], e um deles falava assim para mim: “Lula, sabe o que está
acontecendo aqui, na nossa região? O povo está acostumado a receber muita coisa
de favor. Antigamente, quando chovia, o povo logo corria para plantar o seu
feijão, o seu milho, a sua macaxeira, porque ele sabia que ia colher, alguns
meses depois. E, agora, tem gente que já não quer mais isso porque fica esperando
o ‘vale-isso’, o ‘vale-aquilo’, as coisas que o Governo criou para dar para as
pessoas.” Acho que isso não contribui com as reformas estruturais que o Brasil
precisa ter para que as pessoas possam viver condignamente, às custas do seu
trabalho. Eu sempre disse que não há nada mais
digno para um homem e para uma mulher do que levantar de manhã, trabalhar e, no
final do mês ou no final da colheita, poder comer às custas do seu trabalho, às
custas daquilo que produziu, às custas daquilo que plantou. Isso é o que dá
dignidade. Isso é o que faz as pessoas andarem de cabeça erguida. Isso é o que
faz as pessoas aprenderem a escolher melhor quem é seu candidato a vereador, a
prefeito, a deputado, a senador, a governador, a presidente da República. Isso
é o que motiva as pessoas a quererem aprender um pouco mais.
Notaram a verdade de suas palavras? A convicção profunda? Então…
No dia 27 de fevereiro de 2003, Lula já tinha mudado o nome do programa
Bolsa Renda, que dava R$ 60 ao assistido, para “Cartão Alimentação”. Vocês
devem se lembrar da confusão que o assunto gerou: o cartão serviria só para
comprar alimentos?; seria permitido ou não comprar cachaça com ele?; o
beneficiado teria de retirar tudo em espécie ou poderia pegar o dinheiro e
fazer o que bem entendesse?
A questão se arrastou por meses. O tal programa Fome Zero, coitado!, não
saía do papel. Capa de uma edição da revista Primeira Leitura da época: “O Fome
Zero não existe”. A imprensa petista chiou pra chuchu.
No dia 20 de outubro, aquele mesmo Lula que acreditava que os programas
de renda do governo FHC geravam vagabundos, que não queriam mais plantar
macaxeira, fez o quê? Editou uma Medida Provisória e criou o Bolsa Família. E o
que era o Bolsa Família? A reunião de todos os programas que ele atacara em um
só. Assaltava o cofre dos programas alheios, afirmando ter descoberto a
pólvora. O texto da MP não deixa a menor dúvida:
(…) programa de que trata o caput tem por finalidade a unificação dos
procedimentos de gestão e execução das ações de transferência de renda do
Governo Federal, especialmente as do Programa Nacional de Renda Mínima
vinculado à Educação – “Bolsa Escola”, instituído pela Lei n.° 10.219, de 11 de
abril de 2001, do Programa Nacional de Acesso à Alimentação – PNAA, criado pela
Lei n.° 10.689, de 13 de junho de 2003, do Programa Nacional de Renda Mínima
vinculado à Saúde – “Bolsa Alimentação”, instituído pela medida provisória n.°
2.206-1, de 6 de setembro de 2001, do Programa Auxílio-Gás, instituído pelo
Decreto n.° 4.102, de 24 de janeiro de 2002, e do Cadastramento Único do
Governo Federal, instituído pelo Decreto n.° 3.877, de 24 de julho de 2001.
Compreenderam? Bastaram sete meses para que o programa que impedia o
trabalhador de fazer a sua rocinha virasse a salvação da lavoura de Lula. E os
assistidos passariam a receber dinheiro vivo. Contrapartidas: que as crianças
frequentassem a escola, como já exigia o Bolsa Escola, e que fossem vacinadas,
como já exigia o Bolsa Alimentação, que cobrava também que as gestantes
fizessem o pré-natal! Esse programa era do Ministério da Saúde e foi
implementado por Serra.
E qual passou a ser, então, o discurso de Lula?
Ora, ele passou a atacar aqueles que diziam que programas de renda
acomodavam os plantadores de macaxeira, tornando-os vagabundos, como se aquele
não fosse rigorosamente o seu próprio discurso, conforme se vê no vídeo.
Por Reinaldo Azevedo
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