Por Augusto Nunes
Em
23 de agosto de 2013, Luis Inácio Adams, chefe da Advocacia Geral da União,
negou enfaticamente que a importação de jalecos cubanos poderia entrar em
colisão frontal com a Lei Áurea. "Não há que se falar em trabalho escravo, como
tentou se estabelecer", discursou o advogado-geral do programa Mais
Médicos. "Quando o médico cubano sai de seu país, ele recebe uma
suplementação a mais por essa saída", prosseguiram os pontapés na verdade e na
língua portuguesa. "Quando ele chega ao Brasil, ele recebe uma parte da
contraprestação que o Brasil dá a Cuba. Parte é destinado ao médico e parte
destinado ao estado cubano".
Adams
também garantiu que a ideia de escapar do regime liberticida nem passava pela
cabeça de qualquer doutor nascido e criado sob o jugo dos Irmãos Castro. "Eles
vêm como profissionais, são participantes de um programa", recitou o chefe da
AGU. E se algum deles resolvesse desertar e pedir asilo ao governo brasileiro?,
insistiu um jornalista. A resposta veio embrulhada em dilmês de botequim: "Se
essa hipótese, que acho que não deve acontecer, mas se vier a acontecer, será
tratada pelo Brasil no âmbito do tratado internacional que ele tem com os
demais países. São pessoas que vieram em cima de um acordo, de um
programa. Me parece que eles são detentores dessa condição de permanência".
Confusos
com o falatório trôpego, outros repórteres foram direto ao ponto: se quisesse,
um médico cubano poderia refugiar-se no Brasil? "Todos os tratados, quando
se trata de asilo, consideram situações que configurem ameaça por razões ordem
política, de crença religiosa ou outra razão", escorregou o advogado do
Planalto. "É nessas condições que você analisa as situações de refúgio. E,
nesse caso, não me parece que configuraria essa situação". Tradução: se alguém
desertasse, seria deportado para Cuba. "Mas isso não vai acontecer", reiterou
Adams. "Eles vêm em cima de compromissos. Não são pessoas que entraram
voluntariamente no país, fugindo".
Passados
cinco meses, a cubana Ramona Matos Rodríguez, 51 anos, aguarda num gabinete do
Congresso a resposta ao pedido de asilo. É só o primeiro grito que vem das
gargantas sufocadas. É apenas o começo. O contrato que Ramona exibiu já
desmoralizou a conversa fiada de Adams - e comprovou que, com o programa Mais
Médicos, o agora ex-ministro Alexandre Padilha se tornou uma Princesa Isabel na
contramão. A decisão do governo sobre o destino de Ramona dirá se o Brasil
ainda é uma nação democrática e soberana ou se o PT acredita que se apoderou da
sucursal de uma ilha-presídio.
Em
2007, os pugilistas Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux foram devolvidos a
Cuba pelo companheiro Tarso Genro, então ministro da Justiça. Os brasileiros
decentes têm o dever de impedir a reprise da infâmia. O governo precisa saber
que está proibido de deportar Ramona.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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