Por Guilherme Fiuza
O Brasil está
preocupado à toa com a inflação estourando a meta, com os aumentos escorchantes
das mensalidades escolares e de todos os preços não administrados, com a
disparada do dólar, a subida dos juros e o crescimento pífio. Os brasileiros
votam no PT há um tempão e, mesmo assim, ainda não aprenderam que, com os
petistas no poder, não há risco de faltar dinheiro. Foi preciso uma
demonstração de força dos mensaleiros presos para acalmar o mercado.
As estrelas
encarceradas do PT, como se sabe, são muito influentes. Ao longo de todo o
arrastado processo do mensalão, passando anos na condição de réu, e mesmo
depois de denunciado por corrupção ativa e formação de quadrilha, José Dirceu
levou vida normal. Ou melhor: levou vida anormal, para um réu acusado de crimes
tão graves. Na penumbra ou à luz do dia, sua mão continuou a ser beijada por
políticos em geral, aí inclusos governadores e ministros de Estado. Os
aniversários de Dirceu nunca deixaram de ser uma alegre reunião de cúpula da república
petista & associados.
O Brasil achou isso
tudo normalíssimo. Por que governadores e ministros corriam o risco do desgaste
de ir beijar a mão de Dirceu, um político proscrito, acusado de chefiar o maior
esquema de corrupção da história da República? Não bastaria puxar o saco de
Lula e de Dilma para cativar o lugar no Olimpo petista? Um mistério. Igualmente
misteriosa foi a campanha para reintegrar Delúbio Soares ao PT. O ex-tesoureiro
acusado de operar o mensalão com Marcos Valério tinha sido expulso do partido
após o estouro do escândalo. Recebeu assim o carimbo de culpado dos próprios
companheiros. Por que o PT inteiro se mobilizou para trazer de volta essa
figura queimada, publicamente associada à ladroagem dos cofres públicos? Outro
mistério.
Com o andar da
carruagem e a desenvoltura dos condenados que cerram os punhos para o céu,
esses mistérios deixam de parecer tão misteriosos. Por que o governo popular e
o partido do Lula, ou vice-versa, não evitam os presidiários mensaleiros nem em
véspera de eleição, com todo o desgaste que isso pode trazer? É simples. Porque
os mensaleiros têm o dom de fazer aparecer dinheiro quando e onde os
companheiros precisarem.
O ex-expulso Delúbio
mostrou à nação o que é o verdadeiro poder econômico. Condenado a pagar uma
multa de R$ 466.888 pelos crimes do mensalão, Delúbio arrecadou - em pouco mais
de uma semana - a bagatela de R$ 1 milhão. Mais que o dobro do necessário, em
tempo recorde, para mostrar, de uma vez por todas, que dinheiro não é problema
neste país - pelo menos para quem tem estrela no peito e sabe poupar.
Antes de montar seu
site para doações, Delúbio já começara a forrar seu caixa com um adiantamento
oferecido pelo PT, extraído do que sobrara da arrecadação de mais de meio
milhão de reais para pagar a multa de José Genoino. Como se vê, o dinheiro
sobra. A formidável sobra de Delúbio será repassada aos caixas de José Dirceu e
João Paulo Cunha, e assim por diante. As astronômicas multas do mensalão não
fizeram nem cócegas nas finanças dos mensaleiros. É quase como se fossem
bem-vindas, um estímulo a mais para os companheiros mostrarem que país rico é
país sem pobreza - e partido rico é partido com o tesoureiro certo.
O dinheiro desviado
pelo escândalo do mensalão - algo em torno de R$ 150 milhões, até onde o
Ministério Público conseguiu enxergar ninguém sabe onde foi parar. Apesar do
julgamento apoteótico no Supremo Tribunal Federal, o processo revela apenas que
R$ 32 milhões foi a quantia flagrada em distribuição para os companheiros
leais. O resto da dinheirama lavrada pelo valerioduto nos cofres da nação, e
entregue ao PT, sumiu.
O sucesso arrebatador
da arrecadação de Delúbio e seus amigos vem comprovar mais um admirável
equilíbrio da natureza: se há o dinheiro que some, há o dinheiro que aparece.
O Brasil está
perdendo tempo em discussões intermináveis sobre política macroeconômica,
terremoto cambial, drenagem de investimentos nos mercados emergentes
- especialmente os emergentes que maquiam suas contas. Nada disso é problema. É
hora de mandar às favas os escrúpulos de consciência e botar Delúbio Soares na
presidência do Banco Central. Chega de intermediários.
Fonte: Revista "Época", que está nas bancas
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