Por Augusto Nunes
Nesta quarta-feira,
os jornalistas que dão plantão no Palácio do Planalto ganharam de Dilma
Rousseff um café da manhã e uma entrevista coletiva. Durante mais de uma hora e
meia, a presidente despejou sucessivas provas de que o Brasil é governado
por alguém capaz de não dizer coisa com coisa sobre tudo. Extraídos sem
revisão do Blog do Planalto, seguem-se três dos melhores-piores momentos do
falatório, com ligeiros comentários entre parênteses do colunista:
NEURÔNIO EDUCATIVO
"A questão da educação é uma questão fortíssima no Brasil. Acho que
ela é, o Brasil hoje é um país, do meu ponto de vista, que tem na educação o
seu grande caminho, porque, através da educação eu estabilizo a saída da
miséria e a ida para a classe média. Só através da educação que nós vamos
estabilizar, e educação de qualidade, senão você não estabiliza, ou então a
pessoa fica lá. Então, discutiam porta de saída. A grande porta de saída é uma
porta de entrada: é a educação".
(Segundo Dilma, a
estrada que leva da miséria para a classe média, ou vice-versa, passa por uma
porta que abre, fecha, ameaça cair ou esbanja estabilidade conforme os humores
do sistema educacional. O Celso Arnaldo talvez saiba que lugar é esse onde "a
pessoa fica lá". Mas mesmo o nosso grande especialista em dilmês terá
dificuldades para resolver a complexa charada exposta pelo neurônio solitário:
se a porta de saída é uma porta de entrada, como alguém vai saber se entrou ou
saiu?)
NEURÔNIO INCLUSIVO
"Nesse Pronatec Brasil Sem Miséria, nós já formamos 850 mil pessoas. E
formar 850 mil pessoas é dar condição a eles de ter uma profissão. Você forma
de ajudante para tratamento de idoso, até a quantidade imensa de cabeleireira
que tem nesse país, né meninas? Vocês sabem que nós somos um dos países com
maior consumo na área de indústrias da beleza. E prolifera essa questão. Faz
parte da inserção, eu acho, da mulher no mercado de trabalho. Não sei se vocês
viram essa mulher formada no Pronatec, era engraçadíssima, a unha era desse
tamanho assim, pintada assim, toda bonita pintada, e ela era torneira mecânica.
Estava formando em torneira mecânica. Mulher vai para torneira mecânica de unha
pintada. Acho que esse é um processo inclusivo".
("Estava formando
em torneira-mecânica" tem jeito de enigma a ser desvendado por Celso Arnaldo,
mas é só um besteirol à procura do "se" que sumiu. Também não deve perder tempo
tentando descobrir o que significa "E prolifera essa questão". É só outro desfile
de vogais e consoantes sem começo, sem meio e sem fim. Mora na última frase o
espesso mistério a decifrar: como é que se faz para transformar em "processo de inclusão" uma unha pintada? E qual é a cor ideal para a unha de
quem caça algum emprego que lhe permita trabalhar menos e ganhar mais?)
NEURÔNIO LETRADO
"Então, do meu ponto de vista acho que 2013 foi o momento em que a
chamada crise, que muitos economistas internacionais discutiam se era em U, se
era em V, se era em W. Ela é, eu acho, que num W mais profundo para esse
momento, se você olhar do ponto de vista da economia internacional como um
todo. De alguma economia pode até dizer: olha, foi pior no primeiro momento, lá
em 2009. Eu acho que foi pior quando se aprofunda da crise da Europa e se combina
com a crise americana, e além disso, com uma redefinição da economia chinesa. E
isso indica uma perna para baixo do W mais profunda".
(Primeiro, Dilma
esclarece que 2013 não foi um ano, mas o momento em que a "chamada crise" decidiu virar letra. Depois, avisa que estudou suficientemente o tema para
garantir que a crise não é um U nem um V. É um W, só que diferente. Os
interessados em conhecer a letra com cara nova precisam olhar ao mesmo tempo a
confusão europeia, a crise americana e a economia chinesa. Quem faz isso
enxerga nitidamente um W com uma perna para baixo e mais profunda. A doutora em
nada não contou se a perna é a esquerda ou a direita).
Não é fácil
entender como alguém assim ganha uma eleição presidencial. Mais difícil ainda é
entender como é que se consegue perder uma eleição para alguém assim.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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